Primeiras 26 mil toneladas de cereais já saíram da Ucrânia

por Carla Quirino - RTP
Serhii Smolientsev - Reuters

Pela primeira vez após o bloqueio dos portos ucranianos pela Rússia, um navio carregado de cereais para exportação fez-se esta segunda-feira ao mar. São 26 mil toneladas de milho transportadas pelo cargueiro Razoni, com bandeira da Serra Leoa. O navio partiu do porto de Odessa, no sul da Ucrânia, e segue em direção a Istambul, onde a carga será inspecionada, antes de seguir para o Líbano.

A ONU espera o navio Razoni em Trípoli, no Líbano, no dia 2 de agosto, 24 horas depois de a embarcação ter abandonado o porto de Odessa com 26 mil toneladas de milho.

Com pavilhão da Serra Leoa, o cargueiro deixou Odessa às 8h30, (6h30 em Lisboa), informou o Ministério turco da Defesa em comunicado.

São os primeiros cereais para exportação a saírem de portos da Ucrânia desde o início da invasão russa. Depois de semanas de negociações entre a Ucrânia e a Rússia, mediadas pela Turquia e pelas Nações Unidas, o Centro de Coordenação Conjunta (JCC), liderado pela ONU e com sede em Istambul, pediu a todas as partes que informassem os militares, de forma a garantir a passagem segura do navio no Mar Negro.
Há cerca de seis meses que pelo menos 16 navios carregados de cereais estavam presos no portos ucranianos por ação de Moscovo, provocando uma crise de bens alimentares.

"A Ucrânia, juntamente com os nossos parceiros, deu mais um passo hoje na prevenção da fome no mundo", sublinhou Oleksandr Kubrakov, ministro das Infraestruturas da Ucrânia, em comunicado.

Kubrakov enfatizou que a Ucrânia fez "tudo" para restaurar os portos e que o levantamento do bloqueio daria à economia ucraniana pelo menos mil milhões de dólares em receita cambial.


O acordo que foi assinado a 22 de julho em Istambul esteve tremido, depois de forças russas atacarem o porto ucraniano de Odessa. A Rússia negou, num primeiro momento, estar envolvida no ataque, mas no dia seguinte divulgou um comunicado a confirmá-lo. Teria sido atingido um navio ucraniano que transportava armas ocidentais e estava estacionado no porto, argumentou Moscovo.

As autoridades da Ucrânia rejeitaram a explicação da Rússia. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, realçou que queria evitar "qualquer ação que fosse contra o espírito do acordo" e destacou que a não implementação seria "desvantajosa para todos".

Os EUA afirmaram, por sua vez, que a Rússia havia minado a credibilidade dos compromissos e anunciaram estar a estudar um plano B para escoar os cereais ucranianos através dos rios e linhas férreas.Desde a invasão, a Ucrânia conseguiu exportar mais de quatro milhões de toneladas de cereais pelo Rrio Danúbio e pelo sistema ferroviário, mas esta estratégia está longe de atingir os níveis de exportação pré-guerra de seis a oito milhões de toneladas por mês.

Encontrar seguradoras prontas para assumir o risco do transporte cerealífero continua ser um dos obstáculos às exportações. Na sexta-feira, a seguradora do Lloyd's de Londres Ascot e a corretora Marsh anunciaram acordo para um seguro de guerra para a carga marítima de cereais e produtos alimentícios que se desloquem entre portos do Mar Negro.

A embaixadora britânica na Ucrânia, Melinda Simmons, observou que, embora o Reino Unido não esteja envolvido no acordo, ajudou a garantir o seguro comercial para os navios de fornecedores em Londres. Simmons realçou que o ataque ao porto de Odessa deixou as seguradoras preocupadas: "O principal é não ter medo das táticas da Rússia porque é isso que elas são – táticas para impedir que isso aconteça".
Tópicos
PUB