Presidente do Eurogrupo quer fortalecer investimento e devolver confiança

por Cristina Sambado - RTP
“As nossas conversas dos últimos meses já nos mostram o caminho. Mas não há situações milagrosas” Markus Heine - EPA

Mário Centeno afirma que a prioridade como presidente do Eurogrupo é fortalecer o investimento no euro e devolver a confiança. O ministro português das Finanças esteve esta quarta-feira reunido com o homólogo alemão. Foi a primeira visita oficial a Berlim à frente do bloco ministerial dos países da moeda única.

“Precisamos tanto de ambição como de pragmatismo. O meu foco será em resultados concretos que possam incutir confiança e fortalecer o investimento no euro. As nossas conversas dos últimos meses já nos mostram o caminho. Mas não há situações milagrosas”, afirmou Mário Centeno no final do encontro com Peter Altmaier.

Na ótica do presidente do Eurogrupo, para atingir esses objetivos “temos de trabalhar muito. Temos de implementar a união dos mercados de capitais. Completar a união bancária é um dos objetivos principais”.Na próxima segunda-feira Mário Centeno dirige pela primeira vez uma reunião do Eurogrupo em Bruxelas.

“No lado orçamental, devemos tornar as regras orçamentais mais transparentes e compreensíveis para todos os cidadãos. Devemos avaliar opções para a capacidade orçamental que possam ajudar-nos a absorver choques sem criar perigo moral. Mas não precisamos de grandes máquinas. Não podemos criar uma união de transferências”, acrescentou.

“A minha ideia é que ninguém quer isso”, rematou.

Na conferência de imprensa conjunta, Mário Centeno apontou Portugal como um case study e insistiu que a “solidariedade e a estabilidade devem estar de mãos dadas na zona euro”.

Centeno recordou que se conseguiu “tirar a zona euro da crise graças à forte redução de riscos” e mencionou Portugal como “exemplo de sucesso”.

“Temos muitos exemplos de sucesso. Portugal é um dos mais importantes case study na Europa nestes dias”, frisou.

O ministro das Finanças português considera que “é preciso fazer mais” e que “há pacotes em discussão na Comissão Europeia, no Conselho e no Eurogrupo para reforçar o nível de redução de risco nos países do euro”.

“Pessoalmente, prefiro a palavra ‘gestão’ de risco porque se baseia numa visão mais sistémica de todo este processo. Estamos numa união monetária, isto implica responsabilidades e temos de partilhar o nosso futuro comum e temos de ser muito mais ativos nisso. Por isso, precisamos de gerir ativamente os riscos que existem nas nossas economias e essa é a agenda para os próximos meses”, realçou.
Altmaier apoia Centeno
O ministro alemão das Finanças, Peter Altmaier, deixou palavras de apoio ao ministro português e elegeu Portugal “como uma história de sucesso”, considerando que a eleição de Centeno para a “presidência do Eurogrupo produzirá efeitos positivos”.

O ministro alemão recordou que a Alemanha apoio a candidatura de Mário Centeno, desde logo por “Portugal ter ultrapassado as suas dificuldades através de reformas estruturais e da implementação de medidas dolorosas, que levaram a que o país regressa-se para o caminho do crescimento”.
“Pode contar com o apoio da Alemanha. Por outro lado, estamos convictos que as suas propostas irão na direção certa para melhorar todos”.
Altmaier frisa que Centeno “tem tudo o que é preciso” para liderar o Eurogrupo, nomeadamente “competências económicas”, mas também “é uma pessoa capaz de construir pontes, encontrar compromissos e agir num espírito de confiança e cooperação”.

Peter Altmaier, que sucedeu a Wolfgang Schäuble na pasta das Finanças, deixou a garantia de que a Alemanha “se vai manter fiel aos seus princípios”.

"Já disse a todos os meus colegas no Eurogrupo, em novembro, que como ministro das Finanças interino sinto-me totalmente comprometido com a linha política alemã que foi apresentada e defendida por Wolfgang Schäuble durante tantos anos. Há uma continuidade, mas isso não exclui que todos sintamos que a Europa tem de avançar e temos de conseguir mais resultados, mas na base dos princípios que sempre defendemos", avisou.

Sobre o futuro da União Bancária e à discussão sobre o futuro esquema de garantia de depósitos europeus, Altmaier frisou que “primeiro temos de reduzir os riscos antes de serem repartidos. Portanto, do nosso ponto de vista e da perspetiva de hoje, não pode existir uma data fixa”.

Para Altmaier, “nunca foi operacional que o sistema europeu de seguro de depósitos estivesse pronto no meio deste ano, porque antes é preciso um acordo sobre a redução do risco”.

“Nas duas últimas reuniões do Eurogrupo, concordamos em chagar a um entendimento comum nas próximas semanas sobre o que queremos dizer com a redução do risco e quais as etapas necessárias para isso”, frisou.

Segundo Altmaier, “a Alemanha quer uma zona euro estável numa Europa forte. Por isso temos de nos agarrar aos nossos princípios que são a solidariedade e a estabilidade, que têm de estar de mãos dadas, q responsabilidade e o controlo têm de ser mantidas juntas. É por isso que temos de completar a União Bancária e também temos de falar sobre como reduzir riscos”.

O ministro alemão das Finanças considera que foi “um erro” dividir o norte e o sul da Europa e frisa que a “questão é se há ou não sucesso nas políticas”.

“A questão não é do norte ou sul, ricos ou pobres, a questão é bem-sucedidos ou não, competitivos ou não. É do interesse de todos na Europa encorajar a produção e a prosperidade na zona euro. A prosperidade constrói-se só quando se é competitivo, quando se pode criar emprego, ter oportunidades de emprego para os jovens e é algo com que a Alemanha está totalmente comprometida”, frisou.
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