Presidente da Cabo Verde Airlines diz que voos da TAP e SATA são deficitários
O presidente da Cabo Verde Airlines (CVA), Erlendur Svavarsson, admitiu hoje que a procura internacional condiciona a retoma das operações e que os voos das companhias portuguesas para o arquipélago são "deficitários", apenas possíveis com ajuda estatal.
A posição foi assumida em entrevista à agência Lusa pelo presidente do conselho de administração da CVA, desde março de 2019 liderada por investidores islandeses e há quase um ano sem voos comerciais devido à pandemia de covid-19, enquanto a TAP e a SATA (Açores), sob intervenção estatal em Portugal, permanecem as únicas a voar para o arquipélago, perante as críticas locais à ausência de voos pela companhia de bandeira.
"Creio que as críticas à gestão das companhias aéreas assentam em sentimentos e não em argumentos empresariais. Como escrevi recentemente numa carta ao nosso `staff`, os nossos concorrentes SATA e TAP operam um modelo de negócio onde o arquipélago [de Cabo Verde] é apenas um ponto da sua operação em `hub`. Ambas as companhias aéreas também receberam centenas de milhões de euros em ajuda governamental. Eles usaram esse dinheiro para operar voos deficitários para Cabo Verde e em todo o mundo", afirmou Erlendur Svavarsson.
Desde agosto que as duas companhias aéreas portugueses estão a assegurar voos para o arquipélago de Cabo Verde, além da Praia, também para as ilhas de São Vicente e recentemente do Sal, mantendo-se a CVA totalmente inoperacional e com os mais de 300 trabalhadores em `lay-off`.
"Vimos o número de passageiros a embarcar e desembarcar na Praia e em São Vicente nos últimos meses. Esses números têm sido extremamente baixos e permanecerão assim por semanas ou meses. Esta falta de passageiros não é surpreendente porque o processo de vacinação, na Europa e em todo o mundo, ainda não atingiu um ponto em que os governos sejam incentivados a abrir fronteiras e os indivíduos a viajarem livremente", sublinhou o administrador da CVA.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
O Governo concluiu em 2020 a venda de 10% das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39% restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.
Após a suspensão de todos os voos da companhia aérea cabo-verdiana em março de 2020, devido à pandemia de covid-19, foram divulgados nos meses seguintes negociações entre a administração e o Estado, para um apoio financeiro à CVA.
Erlendur Svavarsson afirmou que a pandemia de covid-19, que condicionou as companhias aéreas em todo o mundo, "continua inabalável" e está agora "pior do que nunca".
"Há muitos meses estava previsto que a normalidade não voltaria até que uma vacina fosse desenvolvida, aprovada e distribuída. Em muitos de nossos principais mercados, especialmente na Europa, o processo de aprovação e distribuição foi atrasado além do que esperávamos. Por esta razão, os bloqueios estão voltando, as fronteiras estão se fechando mais uma vez e a incerteza substituiu o otimismo para a maioria das pessoas e indústrias", recordou o administrador.
"Para além destes fatores exógenos, a futura atividade comercial da sociedade continua sujeita a acordo entre acionistas. É claro, porém, que a menor demanda de passageiros, prevista para os próximos meses e anos, exigirá uma redução nos voos, em relação a 2019", concluiu Erlendur Svavarsson, embora sem concretizar um horizonte para a retoma da atividade da CVA.
Cabo Verde regista um acumulado de 14.478 casos da doença desde março de 2020, quando foi diagnosticado o primeiro doente com a covid-19 no arquipélago, e soma um total de 137 óbitos por complicações associadas à covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.325.744 mortos no mundo, resultantes de mais de 106,4 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.