A nova legislação da União Europeia (UE) sobre a desflorestação, está a pressionar o setor da alimentação animal, podendo levar a uma subida dos preços e até a quebras de abastecimento, avisou a associação dos industriais deste setor.
Em causa está uma legislação, já aprovada e publicada por Bruxelas, que entra em vigor no próximo ano, e que tem a ver com as cadeias livres de desflorestação, afetando produtos como a soja, o cacau, o café, a palma e os bovinos de carne.
"A União Europeia, e bem, está preocupada com a desflorestação e com o combate à desflorestação, o que nos parece é que não é a melhor forma de o fazer. A partir do próximo ano, há um conjunto de legislação que, neste momento, não se conhece bem. Há uma incerteza jurídica muito grande. Os países terão que ser avaliados e [...] há um sistema muito burocrático", explicou o secretário-geral da IACA, Jaime Piçarra, em declarações à Lusa.
No que diz respeito à soja, utilizada na alimentação animal, é preciso demonstrar que os grãos não são provenientes de áreas desflorestadas, mas os Estados-membros não dispõem de técnicos suficientes para fazer todo este controlo.
Cerca de 20 Estados-membros já pediram ao comissário europeu com a pasta da Agricultura, Janusz Wojciechowski, que trave esta legislação.
Por sua vez, Wojciechowski fez chegar uma carta com estas preocupações à comissão do Ambiente, que está encarregue desta legislação.
"A nossa preocupação é que [...] a soja, em vez de ser canalizada pelo mercado europeu, seja por outros mercados, como a China, e depois há falta de soja", avisou a IACA, lembrando que os preços do cacau e do café já estão em máximos e que a nova legislação ainda não entrou em vigor.
A IACA vai juntar o setor hoje na reunião geral da indústria (RGI), um encontro no qual será debatida, entre outros temas, a nova legislação.
Conforme notou a associação, a Europa é deficitária em proteínas e deve procurar outras alternativas, como os insetos, mas enquanto esta não for uma realidade do mercado, é preciso chamar à atenção para o problema.
Jaime Piçarra disse que, no caso específico de Portugal, vai ser impossível atingir uma total independência no que diz respeito à importação de soja de países terceiros. No entanto, notou ser possível fazer uma redução.
"Sendo menos dependentes, somos menos sujeitos à volatilidade dos preços e essa vai continuar nos próximos tempos", vincou.
Portugal fica, anualmente, com cerca de 60% de toda a soja importada para a alimentação animal.
A RGI vai decorrer na Faculdade de Medicina Veterinária, em Lisboa.