Portugal tem cerca de 300 autocarros elétricos. Governo quer duplicar

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Frases como "100% elétrico" são cada vez mais lidas nas estradas portuguesas, mas ainda têm muitos quilómetros para fazer. Existiam no ano passado 321 autocarros elétricos, cerca de 2% num mundo dominado pelo diesel.

Os dados dos últimos dez anos enviados pelo Instituto de Mobilidade e dos Transportes à Antena 1 mostram que o gasóleo é rei. As percentagens rondaram os 99% até 2021, baixando para os 96% e 95% nos dois anos seguintes.

Em 2023, estavam registados em Portugal 17.404 autocarros de passageiros. Deste valor, apenas 321 eram elétricos, uma evolução notável quando, há dez anos, eram apenas oito.

Evolução da frota de autocarros de passageiros em Portugal pelo tipo de combustível


Fonte: IMT

Os números mostram que os autocarros de GNC (gás natural comprimido) têm uma presença mais forte nas alternativas ao diesel. Representam cerca de 3% da frota, com 490 viaturas no ano passado.

A entrada gradual de veículos elétricos veio com a ajuda de fundos europeus.

“Sem essa possibilidade seria muito difícil fazermos esta aquisição de veículos elétricos”
, assinala o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, destacando o aumento que existiu de 2022 para 2023, de 109 para 321.

Estes apoios trouxeram também autocarros mais baratos: são “apoios absolutamente fundamentais para criar economias de escala” e “um autocarro elétrico, neste momento, é à volta de 100 mil euros mais barato agora em comparação com o que era há três ou quatro anos”, aponta Francisco Ferreira.

Governo vai lançar novo concurso do PRR

Será através de dinheiros da União Europeia que o Governo se prepara para financiar um novo lote de autocarros com zero emissões (elétricos, incluindo hidrogénio). A ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, quer duplicar o número de viaturas com este tipo de combustível.

“Iremos lançar ainda esta semana um aviso, um concurso do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para mais de 300 autocarros elétricos ou a hidrogénio”,
diz a ministra na Antena 1, em relação a um concurso de 90 milhões de euros anunciado em março.

O gabinete da ministra afirma que o primeiro concurso ao abrigo do PRR já está em execução e que este será o segundo.

Maria da Graça Carvalho afirma que os transportes são o setor “mais problemático na descarbonização em Portugal” e que anda num “ritmo ainda lento”, pelo que é uma aposta deste Governo.

Sem indicar uma meta concreta neste tema, a governante refere-se ao Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2030, que assume o objetivo de ter autocarros mais ecológicos. O plano está a ser revisto e propõe um objetivo mais génerico: que o setor dos transportes inclua energias renováveis em 23%.

Outra das obrigações no horizonte vem da União Europeia. Até 2030, 90% dos novos autocarros urbanos devem produzir zero emissões, meta que sobe para 100% em 2035.

Graça Carvalho antecipa que vão ser conhecidas mais novidades juntamente com Miguel Pinto Luz, o ministro das Infraestruturas.
Sem metas, sem plano nacional, sem financiamento regular
O PRR já previa em 2021 uma linha de 48 milhões de euros para 145 autocarros sem emissões. As transportadoras têm anunciado que vão ter viaturas mais verdes em frotas que têm uma idade média elevada: 16 anos.

Apesar de todos os entrevistados pela Antena 1 reconheceram o caminho que tem sido feito, apontam que os 321 autocarros elétricos é um número baixo.

Isso deve-se aos poucos apoios e irregulares, critica o presidente da Associação Nacional de Transportes de Passageiros. Graças a eles, tem sido possível "salpicar" todo o território com autocarros elétricos, mas falta um "investimento fulcral" nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, que têm 5% a 10% de frotas elétricas.

Luís Cabaço Martins diz que falta um plano nacional de descarbonização no setor: "Tem-se encontrado apoios financeiros, que são relativamente escassos e que têm a ver com verbas do POSEUR ( e agora também do PRR. Mas quando eu digo que não há um planeamento, é de que não existe um plano nacional de reconversão de frota nacional".

"O que tem acontecido são exemplos pontuais numa ou noutra cidade que tem, digamos, salpicado pelo país alguns autocarros elétricos", explica, cidades que ficam "com uma percentagem bastante interessante", mas que se traduzem em "números absolutos pequenos".


Já o presidente da Zero compreende que seja feito um investimento maior nas grandes cidades, por os autocarros fazerem mais quilómetros e transportares mais pessoas. No entanto, alerta para possíveis desigualdades que possam ficar no território.

"Essa deve ser, obviamente, uma preocupação e, tanto quanto sei, os financiamentos europeus fizeram também já uma distinção entre aquilo que era destinado às áreas metropolitanas versus aquilo que ia para o resto do país", diz Francisco Ferreira.

Questionada sobre a falta de um plano nacional, a ministra Maria da Graça Carvalho remeteu para as medidas que vai anunciar com Miguel Pinto Luz e garantiu que existe financiamento, como o concurso do PRR que deverá ser lançado esta semana. Os valores previstos vão pagar na íntegra os 300 novos autocarros.
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