O Banco de Portugal (BdP) alertou hoje que uma política orçamental expansionista e possíveis atrasos na implementação do Plano Recuperação e Resiliência (PRR) poderão condicionar o crescimento económico e a evolução da dívida.
"No plano nacional, uma política orçamental de orientação expansionista no quadro de um novo modelo de regras orçamentais europeias e possíveis atrasos na implementação do PRR poderão condicionar o crescimento económico e a evolução da dívida", lê-se no Relatório de Estabilidade Financeira do banco central, hoje divulgado.
Ainda assim, e apesar de "alguns sinais de abrandamento" no último semestre, o BdP refere que a economia portuguesa "manteve uma trajetória de redução das vulnerabilidades, em linha com os progressos dos últimos anos".
"A previsão de crescimento económico próximo do potencial e estabilidade de preços deverá traduzir-se na continuação desse ajustamento", diz.
Apesar dos "notáveis progressos na situação de famílias, empresas e Estado desde a crise da dívida soberana", o banco central adverte que estes "não devem ser vistos como um convite à complacência", defendendo antes "determinação na redução sustentada de vulnerabilidades, em especial face aos desafios climático e tecnológico".
"A situação internacional tem-nos recordado que choques significativos podem ocorrer a qualquer momento e que uma preparação atempada é decisiva para os mitigar", avisa.
No relatório hoje divulgado, a instituição liderada por Mário Centeno destaca a "significativa redução do endividamento" da economia portuguesa, ainda que o rácio de 97,9% registado em 2023 esteja ainda acima da média da zona euro, e sublinha que a continuação desta redução "contribuirá para a melhoria do `rating` da República e menores prémios de risco no custo de financiamento, beneficiando famílias e empresas".
Quanto aos riscos que se colocam às empresas, aponta os associados a um maior abrandamento da atividade económica na área do euro, potencialmente agravados por choques nos custos energéticos e de produção e perturbações nas cadeias de abastecimento.
"Apesar da estabilização da rendibilidade operacional, a manutenção de taxas de juro em níveis ainda elevados condiciona a capacidade de as empresas fazerem face ao serviço da dívida", nota.
Já para as famílias, os principais riscos são o de uma subida do desemprego ou das taxas de juro, que, contudo, "não fazem parte do cenário central de evolução da economia portuguesa".
O BdP diz projetar-se um aumento da taxa de poupança, que "contribuirá para promover a resiliência das famílias" e reflete também "a melhoria do perfil de risco dos mutuários dos novos créditos à habitação e ao consumo, reforçado desde 2018 pela recomendação macroprudencial".
No que diz respeito ao setor bancário, o banco central fala de uma "potencial materialização de condições económicas e financeiras adversas, que tenderá a traduzir-se num maior risco de crédito", mas destaca as "melhorias assinaláveis" registadas na banca "em termos de liquidez, qualidade de ativos, eficiência e capital".