PM são-tomense acredita que país vai transitar para rendimento médio em 2024

por Lusa

 O primeiro-ministro são-tomense disse hoje acreditar que o país vai transitar para a categoria de rendimento médio em dezembro de 2024, apesar das dificuldades, pedindo visão, ambição e envolvimento de todos para transformar o arquipélago.

"Eu estou convencido que, embora as nossas dificuldades, nós estamos em muito melhor condição que outros países menos avançados para realmente fazermos a transição, é preciso realmente que os são-tomenses se apropriem de facto de São Tomé e Príncipe, tenham aquela autoestima, aquele orgulho não só de ser são-tomense, mas de deixarmos de ser, um dia, país menos desenvolvido", disse Patrice Trovada em declarações ao jornal são-tomense `Téla Nón`, em Doha, Qatar.

O primeiro-ministro são-tomense, que participou na 5ª conferência das Nações Unidas sobre os países menos desenvolvidos, considerou que "é preciso ter visão" e "ter ambição", tendo apelado ao envolvimento dos são-tomenses para acelerar o "processo de desenvolvimento" e transformar o país.

"Nós não podemos também estarmos a lamentar sempre que somos pobres e temos que estender as mãos. Temos é que trabalhar, temos é que acreditar, temos é que ser muito mais unidos e eu acredito que em dezembro de 2024, se nós fixarmos esta meta, estaremos em condições de sermos admissíveis a país de renda média", declarou Patrice Trovoada.

O primeiro-ministro mostrou-se ciente da diminuição de donativos após a transição para país de rendimento médio, mas sublinhou que o país deverá trabalhar para melhor aplicação dos créditos que passarão a estar mais disponíveis.

"O investimento direto através do crédito que tem que estar também a taxa de juros aceitáveis, isso é que é a grande questão, não é o donativo", sublinhou.

Para Patrice Trovoada, a corrupção e o preço da internet são alguns entraves a que os países menos desenvolvidos têm ainda que fazer face.

"Nós não podemos abrir a mão da digitalização, das novas tecnologias, e da infraestrutura digital, que isso faz parte da nossa soberania e os Estados dos países menos avançados têm que ter `mais mão` nisso porque senão iremos perder a tal nova revolução", comentou.

No caso específico de São Tomé e Príncipe, o chefe do Governo considerou que um dos "grandes problemas" que condicionam o processo de desenvolvimento do país é a questão energética, que representa uma dívida acumulada de cerca de 250 milhões de euros, gerada por créditos no fornecimento de combustíveis pela Empresa Nacional de Combustíveis e Óleo (Enco), detida maioritariamente pela empresa angolana Sonangol, à Empresa de Água e Eletricidade (Emae) de São Tomé e Príncipe.

"O facto mais importante da nossa dívida é sobretudo a energia [...] só essa representa quase 100% do PIB [Produto Interno Bruto]. Isso é um facto estrutural", declarou Patrice Trovoada, realçando que o país tem "apoio da comunidade internacional" e deverá fazer reformas para ultrapassar esta questão.

O primeiro-ministro considerou que é "uma questão que pode ser ultrapassável" com o apoio da comunidade internacional e o esforço interno para melhorar a gestão energética e investir nas energias renováveis.

Outro desafio apresentado pelo primeiro-ministro são-tomense é a segurança alimentar.

"Com um país tão fértil não se pode pensar que não é possível atingir a segurança alimentar", disse, defendendo novas políticas para o setor, nomeadamente a aquisição de novas sementes para o cultivo e melhoria do processo de irrigação, bem como a exportação para os países daquela sub-região africana.

"O mercado livre africano é uma realidade. Temos que melhorar a ligação com o continente. Estamos sempre a falar que temos um mercado de 400 milhões de consumidores tão perto, é uma realidade. Temos que olhar para os nossos vizinhos, e buscar soluções a nível regional", realçou Patrice Trovoada.

O primeiro-ministro quer também avanços no setor das pescas, que atualmente é dominado por embarcações estrangeiras no âmbito de acordos assinados com o Estado são-tomense.

"Até hoje, para além das licenças de pescas, nós não temos sequer uma política de pesca pelo menos semi-industrial, e essa questão da industrialização progressiva é fundamental", defendeu líder do executivo são-tomense.

Para potenciar o turismo, Patrice Trovoada entende que é preciso "trabalhar na conectividade aérea", tendo em conta o aumento dos preços das viagens, sobretudo para a Europa, após a pandemia de covid-19, e explorar "o potencial turístico ao nível regional" e ao mesmo tempo preparar a população são-tomense para receber os turistas.

O coordenador residente das Nações Unidas em São Tomé e Príncipe, Eric Overvest, assegurou que a transição do arquipélago para país de rendimento médio, não significa o corte imediato da ajuda internacional ao desenvolvimento.

"Não quer dizer que a partir de 2024 a ajuda pública ao desenvolvimento vai ser cortada. É um processo de transição que vai demorar 5 anos", sublinhou Eric Overvest ao jornal `Téla Nón`, à margem da mesma conferência.

O coordenador do sistema das Nações Unidas referiu que a decisão foi tomada pela Assembleia Geral das Nações Unidas e foi aprovada com base nos indicadores de desenvolvimento do país, "sobretudo o PIB por habitante, e os indicadores económicos e sociais".

O representante da ONU em São Tomé e Príncipe assinalou que nos últimos 10 anos, o PIB de São Tomé e Príncipe duplicou nos últimos 10 anos, "e o país está no grupo dos países de renda média".

Os indicadores analisados pela Assembleia Geral das Nações indicam que São Tomé e Príncipe regista um PIB por habitante de 2.300 dólares (cerca de 2.150 euros), quando o teto máximo de referência internacional é de 1.200 dólares (1.120 euros).

Além disso, a esperança de vida dos são-tomenses aumentou e progressos foram alcançados no sector da educação, em que o acesso ao ensino secundário, atinge quase 100% das crianças.

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