Os analistas da consultora ControlRisks alertaram hoje que o PIB per capita da África subsaariana só deverá regressar aos níveis registados antes da pandemia em 2025, representando cinco anos de empobrecimento das pessoas no continente.
"A região pode ter regressado ao crescimento, depois da recessão motivada pela pandemia, mas os desafios vão persistir nos próximos anos, já que o continente deve crescer menos do que a economia global este ano, por causa da dívida pública elevada e dos limitados recursos dos governos", escrevem os analistas Barnaby Fletcher e Marisa Lourenço.
"Mesmo com o PIB a recuperar, o custo de vida está a subir e o PIB per capita não deve regressar aos níveis registados em 2019, ou seja, antes da pandemia de covid-19, até 2025", acrescentam os analistas.
Assim, a riqueza produzida em África medida em função do número de pessoas que habitam no continente vai continuar a diminuir, como já tinha acontecido em 2020 e em 2021, prevendo-se que a tendência se mantenha pelo menos até meados desta década.
"A recuperação económica lenta tem consequências", alertam os analistas, exemplificando com os golpes de Estado que surgiram no continente nos últimos anos e com o efeito na crise da dívida.
"O crescimento lento está a exacerbar uma crise da dívida que está a transferir fundos que deviam ir para os investimentos e as reformas que são tão necessárias ao continente", escrevem estes analistas, concluindo que se, por um lado, os governos limitados financeiramente olham para o setor privado como motor da recuperação, os blocos regionais e continentais responderam às perturbações nas cadeias de abastecimento com iniciativas para aumentar o comércio intra-africano, como o acordo de livre comércio em África (AcFCTA).
O comentário dos analistas surge na mesma altura em que o Departamento das Nações Unidas para Assuntos Económicos e Sociais (UNDESA) melhorou a estimativa de crescimento para as economias africanas, antevendo uma expansão de 3,8% no ano passado e uma aceleração para 4% este ano.
"A atividade económica em África continua a recuperar dos eventos sem precedentes de 2020, mas a um ritmo frágil, com a previsão de crescimento a ser marcada pela elevada incerteza e exposição a repetidas vagas de infeção por covid-19, como se viu recentemente com a variante Ómicron", escrevem os analistas do UNDESA.
No relatório divulgado em Washington na quinta-feira, no qual melhoram a previsão de crescimento do ano passado de 3,4% para 3,8%, os analistas alertam que o continente africano "teve uma das recuperações mais lentas em 2021, ficando atrás da média de crescimento das economias em desenvolvimento e do mundo, respetivamente 6,4% e 5,5%", diz a UNDESA, e concluem que "para regressar à trajetória de crescimento antes da pandemia, África precisaria de crescer aproximadamente 6% neste e no próximo ano, ou seja, mais rápido que a Ásia".