Pequim lança plano para acelerar autossuficiência tecnológica antes de cimeira com Trump

O Partido Comunista Chinês apelou a uma mobilização nacional para alcançar avanços "decisivos" em semicondutores e tecnologias-chave, nas vésperas do encontro entre o Presidente do país e o homólogo norte-americano na Coreia do Sul.

Lusa /
Reuters

A iniciativa surge num momento de renovada tensão comercial com os Estados Unidos, marcada pelo uso crescente de controlos tecnológicos e restrições ao acesso a materiais estratégicos.

Pequim e Washington devem abordar estas questões, incluindo os controlos chineses sobre a exportação de terras raras, na cimeira de quinta-feira, na Coreia do Sul, à margem da reunião de líderes da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico).

No texto publicado pelo PCC, que detalha as prioridades para o plano quinquenal 2026-2030, o partido apela a "medidas extraordinárias" para alcançar a autossuficiência tecnológica em áreas-chave.

A versão oficial do discurso do Presidente chinês, Xi Jinping, sobre o plano, hoje divulgada pela agência de notícias oficial Xinhua, sublinha a necessidade de "acelerar a autossuficiência científica e tecnológica de alto nível".

"As propostas devem promover a inovação original e garantir que a China mantém firmemente o controlo da sua trajetória de crescimento", afirmou o Presidente chinês, ao reconhecer os desafios de um "ambiente externo cada vez mais adverso".

As novas diretrizes reforçam as políticas industriais de Xi Jinping centradas na autossuficiência e no fortalecimento das cadeias produtivas domésticas, apontadas por vários parceiros ocidentais como fonte de práticas mercantilistas e origem da atual guerra comercial.

O documento servirá de base para a elaboração do plano oficial pelo Conselho de Estado (Executivo), cuja versão final deverá ser aprovada em março de 2026.

Além da aposta em inovação, o plano propõe maior investimento em "capital humano", incluindo subsídios à natalidade, expansão da educação gratuita, reforço das pensões e seguros e aumento do rendimento rural.

Xi afirmou que estas medidas devem ser "integradas ao investimento em infraestruturas", para estimular o consumo interno, uma meta antiga face à dependência do investimento público e das exportações.

Economistas em Pequim têm defendido a reorientação da política económica para o consumo, travado pela prolongada crise no setor imobiliário, mas apontam que os planos anteriores de "prosperidade comum" ficaram aquém das expectativas.

Entre os novos setores prioritários estão a computação quântica, veículos aéreos não tripulados (`drones`), biotecnologia, energia do hidrogénio e de fusão, robôs humanoides com inteligência artificial, interfaces cérebro - máquina e redes móveis 6G. O uso de inteligência artificial em todas as indústrias é igualmente destacado como prioridade para os próximos cinco anos.

O documento estabelece ainda a meta de alcançar, até 2035, um nível de rendimento `per capita` comparável ao dos países moderadamente desenvolvidos. Xi já tinha definido o objetivo de duplicar o PIB entre 2020 e 2035, o que implica uma taxa de crescimento média anual de cerca de 4,8%.

As novas diretrizes foram divulgadas um dia depois de altos responsáveis norte-americanos indicarem que a China poderá adiar a entrada em vigor de controlos à exportação de metais raros, na sequência de negociações em Kuala Lumpur, o que aumentou o otimismo em torno de uma possível extensão da trégua comercial entre os dois países.

 

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