PCP diz que Governo não quer taxar super-ricos mas dá "super descontos" às grandes empresas

por Lusa

O secretário-geral do PCP ironizou hoje que o primeiro-ministro diz que Portugal não tem condições para decidir taxar os super-ricos, mas tem-nas sempre para dar "super descontos" às grandes empresas em sede de IRC.

Em declarações aos jornalistas à margem de uma sessão pública em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre como é que vê as palavras de Luís Montenegro, que manifestou na terça-feira abertura para debater um imposto sobre os super-ricos, mas admitiu que nem Portugal nem o G20 estão "ainda em condições de assumir uma decisão" sobre essa matéria.

"Eu compreendo. Este senhor primeiro-ministro e este Governo nunca estão prontos para isso. Estão prontos é para nos pedir para aguentar, para a contenção dos salários e das pensões, ou para a malta fazer mais um esforço, porque tem de pagar as taxas de juro ao banco", ironizou Paulo Raimundo.

O secretário-geral do PCP considerou que são os "super-ricos que ficam de fora, os super lucros que ficam de fora, os super empreendimento que ficam de fora".

"Curiosamente, há uma coisa que não fica de fora. Sabe o que é? É o super desconto que o Governo está fazer em IRC para as grandes empresas, para as tais dos 32 milhões de euros de lucros por dia. Para esses, há sempre um super desconto", disse.

Sobre se o PCP pretende aprovar a alteração ao Orçamento do Estado apresentada pelo PS que prevê um aumento extraordinário das pensões em 1,25%, Paulo Raimundo considerou que "o PS, como sempre, é muito comedido", defendendo que se deve antes perguntar aos socialistas se vão acompanhar a proposta do seu partido para aumentar em 5% as pensões, com um mínimo de 70 euros.

"Essa é que é a pergunta que têm de fazer ao PS, porque isso é que é de coragem. Não é agora uns pozinhos, desculpem-me a expressão. É claro que tudo o que venha para cima é melhor do que nada. Mas o que é que o PS faz? Pega nas contas do Governo, a partir da matriz do Governo, e procura ali um jeitinho. Não é disso de que o país precisa", disse.

Nestas declarações, Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre como é que vê os 1.000 dias de guerra na Ucrânia que se assinalam hoje, tendo respondido que, infelizmente, o conflito já dura há 10 anos e "são mais de mil dias de guerra", numa alusão ao início dos conflitos militares na região ucraniana do Donbass, em 2014.

Para o secretário-geral do PCP, a guerra da Ucrânia "nunca devia ter começado, é preciso acabar" e todos devem empenhar-se na promoção da paz.

"E, no dia de hoje, com os acontecimentos recentes das últimas horas, é uma dor no coração a leviandade com que se fala de guerra, de possibilidade de confronto entre potências nucleares. É tão assustadora a leviandade como se fala, como a possibilidade de confronto entre potências nucleares", disse.

Questionado especificamente sobre o facto de a Rússia ter decidido alargar a possibilidade de utilização de armas nucleares, após os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com os mísseis de longo alcance, Raimundo defendeu que é preciso "travar a escalada".

"Que cada um se questione: onde é que isto vai parar? De escalada em escalada, onde é que isto vai parar? O que é que vai acontecer à humanidade? Alguém pensa que se vai sair entre os pingos da chuva de um confronto entre potências nucleares?", perguntou.

Esta segunda-feira, à margem da cimeira do G20, cujos trabalhos Portugal integra pela primeira vez como observador a convite da presidência brasileira, Luís Montenegro respondeu a perguntas da comunicação social, designadamente sobre a hipótese de uma taxação global para as grandes fortunas.

"É uma questão que está, como estava em cima da mesa, que nós encaramos do ponto de vista conceptual com abertura, mas naturalmente não estamos ainda em condições - nem nós nem os nossos parceiros nesta cimeira, creio eu - para assumir uma decisão", disse.

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