Bert Hofman, antigo diretor do Banco Mundial para a China, disse à Lusa esperar do terceiro plenário do 20º Comité Central do Partido Comunista chinês reformas "ambiciosas", que permitam reequilibrar a economia e injetar confiança no setor privado.
Hofman, investigador no Asia Society Policy Institute, lembrou em entrevista à Lusa que a grande questão para o encontro, que desde 1978 ditou reformas significativas no país, é saber "o que é que Pequim quer agora do setor privado".
"Há uma escola de pensamento que considera que a emergência do setor privado foi uma aberração temporária, mas que agora a China sente-se mais confiante", argumentou Hofman. "Pequim tem de facto restringido os empresários, vinculando-os ao seu plano global de setores prioritários e nada para além disso", disse.
Oficialmente, a China reconheceu a importância do setor privado desde que o antigo líder Jiang Zemin articulou a sua teoria das "três representações", em 2000. Antes disso, o antigo líder Deng Xiaoping abriu o país à economia de mercado e ao investimento estrangeiro, em 1978.
O atual Presidente chinês, Xi Jinping, manteve o tom reformista após ascender ao poder, ao prometer deixar o mercado desempenhar um papel decisivo na alocação de recursos, durante o terceiro plenário de 2013.
Mas uma campanha regulatória no setor tecnológico resultou em multas recorde contra empresas, enquanto apelos à "prosperidade comum" penalizaram grandes acumulações de capital, abalando a confiança dos investidores.
"Vamos agora descobrir qual é a direção para os próximos anos", disse o investigador.
Uma reunião do Politburo do Partido Comunista em abril sugeriu que o plenário se centrará na modernização e desenvolvimento tecnológico e em reformas do lado da procura e da distribuição da economia.
"Um encontro recente entre Xi e empresários sugere que o papel do setor privado está na agenda", apontou Hofman, que indicou que Pequim pode anunciar a privatização de ativos não essenciais das empresas públicas.
"Isto resolveria parte da questão da dívida da administração local e seria um sinal muito forte de que o partido considera que o setor privado tem um papel a desempenhar", afirmou.
A economia chinesa enfrenta um abrandamento suscitado por uma crise no setor imobiliário e altos níveis de endividamento das autoridades locais. Isto pesa sobre o consumo doméstico.
O país apostou nas exportações para fomentar o crescimento, o que agravou as relações comerciais com os Estados Unidos, União Europeia e países em desenvolvimento.
A Comissão Europeia adotou este mês taxas punitivas contra carros elétricos oriundos da China, seguindo taxas de 100% impostas pelos EUA.
Também a Indonésia anunciou que planeia impor taxas alfandegárias de até 200% sobre vários produtos fabricados na China. Brasil e Turquia, entre outros países, têm em curso investigações `antidumping` -- venda abaixo do custo de produção -- sobre produtos industriais e bens oriundos do país asiático.
Pequim pode assegurar um crescimento robusto e reduzir o desequilíbrio no comércio externo se incentivar o consumo pelos seus cidadãos, que têm das taxas de poupança mais altas do mundo, fruto de fracos mecanismos de proteção social.
O FMI calcula que a China gasta 8% do PIB com a segurança social, menos de metade da média na Europa.
"Há uma contradição na abordagem da China, que estimula muito o lado da oferta", mas reprime a procura, observou Hofman, prevendo que a liderança chinesa anunciará um aumento das despesas sociais no terceiro plenário.
"Penso que seria interessante para a China reequilibrar-se e fomentar mais a procura interna, através de uma rede de segurança social mais forte, mais consumo público em termos de saúde e educação, que são um elemento redistributivo muito importante", apontou.
"Tudo isso se enquadra na agenda de reequilibrar a economia", argumentou. "É provavelmente necessário, se não for agora, será em breve. Então, porque não utilizar o terceiro plenário para o anunciar?", questionou.