O Governo do PSD e do CDS-PP entende que os laços entre a Venezuela e Portugal são “para consolidar”, uma mensagem que é hoje levada por Paulo Portas aos órgãos do poder político de Caracas. Em visita à capital venezuelana, o ministro dos Negócios Estrangeiros propôs-se “facilitar o acesso das empresas portuguesas às autoridades” daquele país da América do Sul e “desbloquear alguns problemas que estejam pendentes”, a começar pela venda do navio “Atlântida”, construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
“Vamos ter uma série de mesas de trabalho, a Venezuela de um lado e empresas portuguesas do outro, procurando interesses mútuos. A minha função é facilitar o acesso das empresas portuguesas às autoridades da Venezuela, é desbloquear alguns problemas que estejam pendentes e dar um sinal claríssimo de que a relação com a Venezuela, que cresceu muito e que é fundamental para as empresas portuguesas, é para consolidar e para avançar”, afirmou já esta segunda-feira o governante português, em declarações citadas pela agência Lusa.
Sublinhando que o atual Governo deve ser “focado e pragmático”, Portas prometeu “dar tudo por tudo para conseguir avançar ainda mais” na “relação comercial” com os venezuelanos. A visita a Caracas, assinalou o ministro, ocorre “no mesmo momento em que uma missão empresarial coordenada com o Governo, com mais de 40 empresas, veio trabalhar com as autoridades da Venezuela” em domínios como a eletricidade, as obras públicas, infraestruturas, tecnologias alimentares, setor financeiro, tecnologias de educação e construção naval.
“Atlântida”
Entre os dossiês da comitiva do ministro dos Negócios Estrangeiros está o negócio bloqueado da venda do ferry “Atlântida” à Venezuela por 42,5 milhões de euros. Na passada sexta-feira, uma fonte do Ministério da Defesa adiantava à Lusa que a administração da holding Empordef acompanharia Paulo Portas a Caracas. A concretização do negócio, nos termos de um acordo estabelecido a 20 de fevereiro pelo Governo de Sócrates e a administração de Chávez, “é uma hipótese entre outras que continuam em cima da mesa em relação ao navio”, explicava então a fonte ouvida pela agência de notícias.
Em junho, o presidente do Conselho de Administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo reconhecia que a venda do “Atlântida” estava bloqueada. O acordo, lamentava então Carlos Veiga Anjos, “foi celebrado com pompa e circunstância na Venezuela, mas nunca chegou a ser assinado”. Isto apesar de o representante da empresa portuguesa “ter ficado três semanas a aguardar”. A entrega do ferry - inicialmente rejeitado pelo Governo Regional dos Açores por causa de uma diferença de velocidade - deveria ter sido feita no verão.
Em outubro do ano passado, durante uma deslocação a Portugal, o Presidente venezuelano observou o navio em Viana do Castelo, onde anunciou projetos para abrir uma linha de transportes marítimos entre La Guaira e as ilhas de Orchila, Los Roques e Margarita. O “Atlântida” está fundeado desde o final de agosto no Arsenal do Alfeite.
“Consolidar os negócios”
Na residência oficial do embaixador português em Caracas, Mário Alberto Lino da Silva, Portas insistiu na ideia de que o Executivo de Lisboa está apostado em “consolidar” não apenas “os negócios que já estão feitos”, mas também “avançar para novos negócios”: “É por isso que um ministro dos Negócios Estrangeiros deve transformar as embaixadas naquilo que vocês viram aqui hoje. Estavam dezenas e dezenas de empresários com quem pude conversar diretamente. Juntar os diplomáticos com os comerciais, os comerciais fazem o encontro dos negócios e os diplomatas e políticos facilitam o acesso às decisões políticas”.
Como exemplo do potencial das relações comerciais entre os dois países, o ministro dos Negócios Estrangeiros evocou o programa petróleo por exportações, “uma boa base para que as compras de combustíveis por parte de Portugal servissem, ao mesmo tempo, para financiar exportações”. “Portanto, é certamente uma matéria de reflexão a forma como as coisas aqui funcionaram”, assinalou.
Paulo Portas passou também pelo Centro Português, onde ouviu do presidente da estrutura a garantia de que a comunidade lusa na Venezuela “sente e sofre com os problemas de Portugal” e espera ver o país “no caminho de uma rápida e franca recuperação”. Por outro lado, não quer ficar à margem dos “acordos comerciais” entre Lisboa e Caracas. “A comunidade quer participar ativamente e quer beneficiar direta ou indiretamente deste auge comercial. Aqui há empresários lusitanos com vigor económico e com capacidade suficiente para contribuir e garantir o pleno êxito das relações comerciais, mas é preciso que o Governo não se esqueça de nós e que não nos deixe de lado”, advertiu Fernando Campos.
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