Países do euro no G20 propõem-se avançar com união financeira
Os países do euro membros do G20 afirmam-se dispostos a tomar “todas as medidas necessárias” para defender a moeda única e declaram-se empenhados em aprofundar a união financeira para conter a crise da dívida. No projeto do comunicado final da cimeira que decorre em Los Cabos, no México, o grupo que reúne as 20 principais economias do globo promete tomar medidas para estimular o crescimento e restaurar a confiança nas economias “com base nas circunstâncias específicas de cada país” e apela ao desenvolvimento de um plano global, coordenado, para fomentar a criação de empregos.
“Os membros da União Europeia que integram o G20 estão determinados a avançar de forma expedita com medidas que estimulem o crescimento (…) ao mesmo tempo que mantém um firme empenho em implementar a consolidação fiscal que deverá ser avaliada numa base estrutural”, lê-se no documento.
Zona Euro vai estudar união financeira
Entre as várias promessas que constam do projeto de declaração final, está um compromisso de examinar passos concretos no sentido de uma maior integração do sistema financeiro europeu, que incluiria uma supervisão conjunta dos bancos e garantias firmes sobre a segurança dos depósitos bancários.
“Apoiamos a intenção de considerar passos concretos no sentido de uma arquitetura financeira mais integrada, que englobe supervisão bancária, a resolução e capitalização e a segurança dos depósitos”, diz o comunicado.
Alemanha continua a ser a chave
Nesta escolha cuidadosa de palavras, alguns analistas veem alguns sinais de que a Alemanha poderá estar disposta a flexibilizar as suas posições sobre a cooperação no que respeita ao setor bancário.
Até agora, Berlim tem vindo a rejeitar todas as iniciativas que possam vir a expor a Alemanha aos custos de salvar bancos além-fronteiras.
Preocupado com as consequências que a crise na Europa poderá vir a ter na economia dos Estados Unidos, Barack Obama reuniu-se à margem da cimeira com a chanceler Angela Merkel para manifestar as apreensões norte-americanas.
Um porta-voz declarou depois que o presidente estava “encorajado” com as conversações, que abordaram passos para “aumentar a integração europeia”.
Europa quer separação entre dívidas dos bancos e Estados
O projeto de comunicado final da cimeira declara que países do euro “tomarão todas as medidas necessárias para salvaguardar a integridade e a estabilidade na Zona Euro, incluindo o funcionamento dos mercados financeiros e acabar com o ciclo vicioso entre as dívidas soberanas e os bancos” .
Os EUA, o FMI e Bruxelas têm vindo a pressionar os membros da Zona Euro a avançarem no sentido da união bancária a fim de colocar um travão a este processo que obriga os governos já endividados a socorrerem bancos insolventes agravando assim a crise da dívida.
Na segunda-feira, o presidente da Comissão Europeia já tinha reconhecido essa interdependência crescente entre os problemas bancários da Europa e as crises fiscais nos vários países.
“Somos a favor, tanto quanto possível, de evitar qualquer tipo de contaminação entre a dívida financeira e a dívida soberana”, disse Durão Barroso, que indiciou ainda que os termos do resgate aos bancos de Espanha ainda estão a ser negociados.
G20 pressiona a Europa a agir
No primeiro dia da cimeira, os países da Zona Euro foram alvo das críticas dos restantes membros do G20, que os acusaram de agirem de forma insuficiente e tardia para fazer face à crise que ameaça contaminar as outras economias mundiais.
“Estamos à espera de que Europa nos diga o que vai fazer”, disse o chefe do Banco Mundial, Robert Zoellick, enquanto que o presidente da OCDE, Jose Angel Gurria, descreveu a crise europeia como “a maior ameaça isolada à economia mundial”.
O presidente da Comissão Europeia rejeitou as pressões dos restantes países e defendeu os esforços feitos pelos europeus no combate à crise.
Barroso: "Não estamos aqui para receber lições"
“Não estamos aqui para receber lições de ninguém em termos de democracia ou de como lidar com a economia”, disse Durão Barroso, que lembrou ainda que a atual crise não começou na Europa.
“A crise teve origem na América do Norte e muitos dos nossos setores financeiros foram contaminados pelo que chamaria de práticas não ortodoxas por parte de alguns setores dos mercados financeiros”, acrescentou o presidente da Comissão.
BRICS prometem ajuda acrescida para o "fundo de resgate" do FMI
A contribuição das economias emergentes para os recursos do Fundo Monetário Internacional também foi discutida, com os chamados "BRICS" a condicionarem as verbas adicionais ao aumento da sua influência nas decisões do fundo.
Como parte das medidas para ajudar a resolver o problema na Zona Euro, o FMI anunciou que os fundos adicionais prometidos para o seu fundo anticrise aumentaram para 361 mil milhões de euros, tendo-se a China comprometido a contribuir com mais 34 mil milhões de euros.
A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, declarou que estes fundos adicionais constituem “uma segunda linha de defesa” e que só seriam utilizados depois de os outros recursos estarem “substancialmente esgotados” .