O Banco Africano de Desenvolvimento vai financiar com 1.800 milhões de dólares (1.661 milhões de euros) 35 países do continente em ajuda de emergência para produção alimentar devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, anunciou hoje o seu presidente.
"Quando rebentou a guerra da Rússia na Ucrânia, a situação representava um enorme risco para a segurança alimentar de África. Para evitar uma crise, o banco lançou um mecanismo de produção alimentar de emergência no valor de 1.500 milhões de dólares [1.384 milhões de euros]", recordou Akinwumi Adesina, ao intervir na sessão oficial de abertura dos encontros anuais do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorrem desde segunda-feira na capital do Quénia.
Na presença de uma dezena de chefes de Estado e do Governo do continente, incluindo o ex-Presidente de Moçambique Joaquim Chissano, Adesina explicou tratar-se de "apoiar rapidamente os países africanos" na "sua ambição de reduzir a dependência alimentar num período de dois anos" e que já em abril último foram aprovados empréstimos e subvenções no valor de 1.496 milhões de dólares (1.380 milhões de euros) "para esta produção alimentar de emergência em 35 países".
Somam-se 323 milhões de dólares (298 milhões de euros) de apoio adicional dos governos do Japão, dos Estados Unidos da América, da Noruega, da Alemanha e dos Países Baixos, acionistas do BAD.
"Por conseguinte, autorizámos a totalidade de 1.800 milhões de dólares a 35 países", avançou.
Nos programas regulares do BAD, Adesina avançou que os apoios do maior grupo financeiro de África chegaram a 10,5 milhões de agricultores e à produção de 26 milhões de toneladas de alimentos, avaliadas em 10.790 milhões de dólares (9.959 milhões de euros).
O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e reúne-se em Nairobi até sexta-feira para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitetura Financeira Global", prevendo a presença de 3.000 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo.
Estes encontros incluem a 59.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Banco Africano de Desenvolvimento e a 50.ª Reunião do Conselho de Governadores do Fundo Africano de Desenvolvimento, decorrendo no Centro Internacional de Conferências Kenyatta, em Nairobi.
Segundo informação do BAD, apesar de um "crescimento económico sustentado ao longo das duas últimas décadas, a transformação económica de África continua incompleta". O Produto Interno Bruto (PIB) real do continente cresceu 4,3% por ano entre 2000 e 2022, "em comparação com a média mundial de 2,9%, e muitas das dez economias de crescimento mais rápido do mundo situavam-se em África".
"Apesar deste sólido desempenho em termos de crescimento, a estrutura das economias africanas não se alterou significativamente nas últimas duas décadas, com os setores da agricultura, da indústria e dos serviços a representarem, em média, 16, 33 e 51%, respetivamente, do PIB global de África entre 2000 e 2022. Estes níveis são semelhantes aos registados na década de 1990", recorda a instituição.
Também o emprego na indústria transformadora "tem vindo a diminuir devido a uma desindustrialização prematura", já que "apesar do aumento do número de empregos", de 20,2 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2021, "o setor contribui com menos de 10% do emprego total".
O Grupo BAD conta com 81 Estados-membros, entre 53 países africanos e 28 países fora do continente, incluindo Portugal e Brasil.