A organização não-governamental (ONG) Debt Justice apelou hoje aos credores privados da Ucrânia que perdoem a dívida externa deste país invadido pela Rússia, em reação à notícia de que o Governo ucraniano pediu a suspensão dos pagamentos.
A Ucrânia pediu hoje aos credores internacionais, incluindo países ocidentais e maiores empresas de investimento do mundo, que adiem os pagamentos da sua dívida durante dois anos para que o país possa concentrar os escassos recursos financeiros na luta contra a Rússia, segundo o Financial Times.
A organização não-governamental Debt Justice, que defende países endividados perante credores, defendeu ser imperativo que os detentores de dívida privados suspendam os pagamentos, tendo em conta a situação do país.
"O dinheiro tem vindo a sair da Ucrânia ao longo de todo o conflito em termos de pagamento da dívida. Em vez de satisfazer as necessidades urgentes do povo ucraniano à medida que enfrenta as bombas e tanques russos, a ajuda do Ocidente tem sido desviada para os bolsos dos bancos e dos detentores de obrigações. Muitos tiveram enormes lucros depois de comprarem a dívida a baixo custo", criticou a diretora executiva da ONG, Heidi Chow.
"Os credores privados devem agora concordar com a suspensão dos pagamentos, e com a eventual anulação da dívida após a guerra", instou a mesma.
Desde a invasão russa que a Ucrânia tem insistido em cumprir integralmente com as suas obrigações, a fim de manter a confiança dos investidores e garantir o acesso aos mercados financeiros.
O país invadido tem pago reembolsos e juros a credores externos enquanto pede ajuda financeira aos seus aliados para colmatar o défice orçamental de 5 mil milhões de dólares (4,9 mil milhões de euros) por mês.
O ministro das Finanças ucraniano, Sergii Marchenko, comentou ao Financial Times que os doadores ocidentais e as instituições financeiras internacionais enviaram "menos de 4 mil milhões de dólares" (3,9 mil milhões de euros) em julho, devido a atrasos da União Europeia no pagamento de um pacote de ajuda prometido de 9 mil milhões de euros (8,8 mil milhões de euros).
Para o ministro, é fundamental reduzir as despesas para conter o défice, mas é cada vez mais difícil encontrar poupanças quando a maior parte das despesas prende-se com pagamentos da segurança social, aos militares e aos juros da dívida.
Marchenko disse também ser arriscado que o país continue a depender do banco central para monetizar as dívidas por muito mais tempo, sendo necessário um plano de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Estamos prontos para tal discussão", disse ele, "creio que o FMI também".
O conselheiro económico do presidente Volodymyr Zelensky, Oleg Ustenko, concordou que um atraso no pagamento da dívida ucraniana era justificável.
Segundo os economistas, a Ucrânia arrisca-se a entrar numa crise financeira, se não reduzir o défice ou desvalorizar a sua moeda.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de cinco mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar russa causou a fuga de mais de 16 milhões de pessoas, das quais mais de 5,7 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
Também segundo as Nações Unidas, 15,7 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.