Em direto
Pós-legislativas. Presidente da República ausculta partidos pelo terceiro dia consecutivo

Oliva suspende produção e deixa trabalhadores em "encruzilhada"

por RTP
A maior parte dos 184 operários fora já abrangida pela suspensão temporária de trabalho que vigorou entre Maio e Outubro RTP

Os operários da metalúrgica Oliva, de São João da Madeira, concentraram-se esta segunda-feira à porta da empresa para exigir o pagamento de salários em atraso e protestar contra a inesperada paragem da produção. A administração alega falta de condições para adquirir matéria-prima, um argumento que os trabalhadores prometem contestar até ao fim do mês.

As dívidas acumuladas da Oliva, que emprega 184 pessoas, ascendem a oito milhões de euros. Do corpo de credores da metalúrgica de São João da Madeira fazem parte a empresa de químicos Urpol (624 mil euros de dívida) e a Segurança Social (550 mil euros). Caso a Oliva feche as portas em definitivo, os operários terão de receber cinco milhões de euros em direitos. Para já, exigem o pagamento dos subsídios de Natal do ano passado e 50 por cento dos salários de Janeiro. E querem ver definido o seu futuro próximo.

"Tínhamos sido informados de que íamos iniciar hoje a produção, no horário normal. Passado um dia ou dias fomos confrontados com um comunicado, por parte da administração, para suspender a produção até dia 1 de Março", explicou à reportagem da RTP David Soares, da Comissão de Trabalhadores.

À Antena 1, David Soares resumiu o estado de espírito dos operários da metalúrgica perante a suspensão "integral" da produção: "Não comprando matérias-primas não podem produzir. Se não produzirem, como é que vão pagar aos trabalhadores, pergunto eu? Estamos metidos numa encruzilhada ou, melhor dizendo, numa camisa-de-forças de que vai ser muito difícil libertarmo-nos".

"Desânimo total"

António Oliveira, um dos 70 trabalhadores que se concentraram à porta da Oliva, descreveu à RTP o "desânimo total" que começa a apoderar-se da força laboral da empresa. "Ver isto acabar é degradante. Chegando a este momento, não há hipótese nenhuma de voltar a levantar a cabeça", lamentou.

O processo de insolvência da Oliva 1925 - Soluções de Fundição S.A. teve início em Setembro de 2009. Em Outubro, esgotou-se o prazo de recuperação estabelecido pelo Grupo Suberus, que comprou a metalúrgica em 2004, comprometendo-se a manter a laboração durante os cinco anos seguintes.

Em declarações à agência Lusa, José Marques, outro dos elementos da Comissão de Trabalhadores, sustentou que a administração da Oliva está também a enviar um sinal negativo aos credores.

"O maior cliente que a Oliva tinha era a Grundig, que está a retirar todos os moldes. A partir deste momento, se não se faz a programação das encomendas, os clientes querem peças para trabalhar e, como não as têm, começam a retirar os moldes para os mandarem fazer noutra empresa", denunciou o porta-voz.

Concentrações "em dias alternados"

A Comissão de Trabalhadores reserva parte das críticas para o que diz ser a ausência de respostas por parte do presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, Castro Almeida. O autarca, argumentou José Marques, "já teve tempo suficiente para nos anunciar, com qualquer ofício, qual é a posição dele perante a reunião que tivemos na Câmara. Disse que nos informaria sobre a possibilidade de haver uma pessoa com bastante dinheiro para aplicar na empresa, mas até hoje ainda não comunicou nada".

Ouvido pela Lusa, o presidente da Câmara adiantou: "A Comissão de Trabalhadores pediu-me algumas diligências que tenho vindo a desenvolver, mas não estou optimista sobre o resultado. É muito preocupante o futuro dos trabalhadores da empresa".

Reunidos em plenário, os operários da Oliva decidiram concentrar-se "em dias alternados, às terças e quintas-feiras, das 10h30 ao meio-dia, para que a administração se aperceba de que não estão parados". A assembleia de credores realiza-se no dia 26 de Fevereiro.

"Tenho o meu filho desempregado, tenho a minha mulher a ganhar 450 euros. Para pagar 225 euros de renda, onde é que vou buscar o resto para a luz, para a água, para os combustíveis e tudo o mais?", questionava-se esta segunda-feira Fraquelim Moreira, um dos operários ouvidos pela reportagem da RTP.

PUB