De acordo com o calendário já aprovado pela conferência de líderes parlamentares,
a proposta do Orçamento do Estado para 2024 é discutida na generalidade nos dias 30 e 31 de outubro.
As discussões na especialidade - onde são debatidos e votados quer os artigos da proposta do OE2024, quer todas as propostas de alteração e aditamento entretanto entregues pelos partidos - vão decorrer
de 23 a 29 de novembro, culminando com a votação final global do documento.
Saiba, neste artigo, o que se pode esperar da proposta do Governo.
Crescimento económico abaixo do esperado
Com base nas informações divulgadas pelos partidos após as reuniões com o Governo, sabe-se já que, ao contrário do que foi previsto em abril,
o crescimento da economia portuguesa deverá ficar, no próximo ano, abaixo dos 2%.
João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, adiantou que o crescimento será de aproximadamente 1,5%, segundo os dados adiantados aos partidos na sexta-feira.
Já o saldo orçamental, que deverá registar um excedente este ano, ficará neutro em 2024, de acordo com as previsões.
Inês Sousa Real, do PAN, adiantou por sua vez que
a taxa de inflação este ano deverá situar-se em torno de 4,6% (face aos 5,1% previstos).
Desagravamento do IRS
Deverá ser na ordem dos 2.011 milhões de euros o desagravamento do IRS entre 2023 e 2027, segundo o Programa de Estabilidade do Governo.
No OE2024 prevê-se uma redução da carga fiscal deste imposto em 400 milhões de euros em 2024.
Na revisão do acordo de médio prazo de melhoria dos rendimentos, salários e competitividade, assinado no último sábado, é reiterada a manutenção da redução da tributação, mas não se conhecem ainda os detalhes sobre como esta redução será atingida: se por via da redução das taxas e/ou mudanças nos limites de escalão ou se de outra forma.
O novo acordo assinado entre o Governo e os parceiros sociais aponta ainda para uma
atualização dos escalões do IRS no próximo ano, sem indicar, no entanto, a ordem de grandeza.
IRS Jovem
Sabe-se também que o Orçamento do Estado para 2024 trará mudanças ao nível do IRS Jovem, prevendo-se que
os jovens não paguem qualquer IRS sobre o rendimento no seu primeiro ano de trabalho.
No segundo ano pagam imposto sobre 25% do rendimento, nos dois anos seguintes sobre 50% do rendimento, e no quinto ano a isenção será de 25%. Serão igualmente aumentados os limites máximos do benefício em cada ano.
No modelo atual, a isenção é de 50% no primeiro ano, de 40% no segundo, de 30% no terceiro e quarto anos e de 20% no quinto e último ano.
Salário mínimo aumenta e mantém isenção de IRS
O Governo garantiu ainda que todas as pessoas que recebam o salário mínimo vão continuar isentas de IRS em 2024.
Além disso,
no próximo ano o salário mínimo aumenta para 820 euros (mais dez euros do que o previsto), tal como ficou decidido na revisão do Acordo de Médio Prazo de Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade.
15.º mês sem impostos
Segundo o
Jornal Económico, o Governo deverá adotar uma parte da proposta da confederação empresarial (CIP):
as empresas que subam o salário acima dos 5% poderão pagar um 15.º mês isento de impostos e taxa social única, se for a título de distribuição de lucros.
IVA zero no cabaz de alimentos
Prevê-se, em 2024,
a continuação da isenção de IVA num cabaz de 46 tipologias de alimentos. A medida foi inicialmente adotada para fazer frente à inflação crescente, que levou por sua vez a um aumento dos preços dos bens alimentares.
Apoio aos combustíveis
Deverá ser
mantido o apoio aos combustíveis – devolução do IVA do excedente do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) -, com o Governo a procurar manter as medidas de mitigação do aumento dos preços.
Devolução das propinas
Foi já anunciado que, por cada ano de trabalho em Portugal após a conclusão do curso de Ensino Superior,
cada jovem receberá a devolução de um ano de propinas. A medida aplica-se também aos alunos que tenham beneficiado de ação social escolar.
Quanto às propinas dos mestrados, dada a diversidade de valores, a devolução será fixada em 1.500 euros por um ano de trabalho e por cada ano de mestrado concluído.
Passe gratuito para estudantes até aos 23 anos
Sabe-se ainda que, a partir de janeiro,
os passes sub-23 passam a ser gratuitos para todas as crianças e jovens estudantes até aos 23 anos, enquanto o preço dos restantes passes será congelado.
Para as restantes faixas etárias, o congelamento dos passes de transporte é dado como certo.
Redução da dívida pública
O rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) deverá cair de 112,4% em 2022 para 106,1% este ano, segundo dados enviados a Bruxelas. O valor situa-se abaixo dos 107,5% previstos no Programa de Estabilidade.
Fim das cativações
Fernando Medina já garantiu que, ao contrário dos últimos anos, o Orçamento do Estado não terá cativações – instrumento de gestão orçamental que tem permitido ao Ministério das Finanças reter (e sujeitar à sua autorização prévia) uma parte das dotações orçamentais dos organismos e de outros Ministérios.
Limite à atualização das rendas
Na habitação, o Governo está a negociar com as associações de inquilinos e de proprietários
uma situação de equilíbrio para a atualização das rendas.
O primeiro-ministro afastou, porém, a hipótese de ser repetido o teto de 2% que foi aplicado durante este ano.
Incentivos fiscais para cedência de habitação
Prevê-se também a
isenção de IRS e de contribuições sociais sobre o rendimento em espécie relativo à cedência (em arrendamento ou subarrendamento) de habitação aos trabalhadores pela entidade patronal.
A medida não abrange subsídios financeiros para pagamento de renda e terá por limite de isenção os valores previstos para o Programa de Apoio ao Arrendamento Acessível.
Está ainda prevista a isenção fiscal e contributiva dos valores mobilizados no âmbito do Fundo de Compensação do Trabalho (FCT), para soluções de habitação dos trabalhadores.
Fim do regime fiscal para residentes não habituais
Em entrevista à CNN na semana passada, o primeiro-ministro anunciou que
em 2024 acaba a taxação especial (em sede de IRS) para os residentes não habituais, garantindo, contudo, que "quem a tem" vai mantê-la.
O regime fiscal do RNH - de que podem beneficiar cidadãos estrangeiros ou nacionais que tenham estado fora nos cinco anos anteriores ao pedido de adesão a este regime - permite aos reformados com pensões de outro país, pagar em Portugal uma taxa de 10% de IRS.
Já os trabalhadores pagam uma taxa de 20% sobre rendimentos de trabalho, desde que tenham uma profissão de elevado valor acrescentado. As pessoas que cumpram os critérios podem beneficiar do RNH durante 10 anos.
Atualização das pensões e do IAS
Em 2024,
as pensões vão ser atualizadas tendo por base a fórmula prevista na lei, que tem em conta o crescimento da economia e da inflação.
O referencial de inflação usado apenas será conhecido no final do ano, mas os dados do Índice de Preços no Consumidor (IPC) já conhecidos permitem apontar para subidas na casa dos 6%.
Também o Indexante de Apoios Sociais (IAS), que serve de referência à atualização de várias prestações sociais, será aumentado de acordo com a fórmula prevista na lei.
Aumento salarial mínimo de 3% na função pública
O Governo apresentou aos sindicatos da administração pública uma proposta de
aumentos salariais para 2024, que varia entre 6,8% na base remuneratória e 3% para remunerações mais altas.
Assim sendo, a base remuneratória passa a ser de 821,8 euros. Os salários até ao nível remuneratório 24, a que corresponde um vencimento de 1.754,41 euros, terão um aumento em cerca de 52 euros. A partir deste nível, a subida será de 3%, resultando em acréscimos superiores.
Segundo as contas do Governo, a massa salarial da administração pública vai crescer em 5,1% no próximo ano, sendo o aumento salarial médio de 3,8% para os funcionários públicos.
IVA na restauração e serviços veterinários
A taxa de IVA aplicável nas prestações de serviços de restauração passa a ser de 13% no caso dos sumos, néctares e águas gaseificadas ou adicionadas de gás carbónico ou outras substâncias.
No setor dos serviços veterinários também se espera uma descida do IVA.
Reforço do RFAI
As empresas vão contar com um
reforço do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI), bem como dos benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo, por via de um reforço das despesas elegíveis aos custos salariais dos trabalhadores com qualificações iguais ou superiores ao grau de mestre. O objetivo é atrair e reter trabalhadores mais qualificados.
Redução da tributação autónoma de viaturas
Prevista está também a
redução das taxas de tributação autónoma aplicável às viaturas que recuam de 10% para 8,5%; de 27,5% para 25,5% e de 35% para 32,5%.
Além disso, vai haver um incentivo fiscal à renovação de frota do setor do transporte internacional de mercadorias.
Fim do corte das ajudas de custo
O OE2024 trará também
o fim do corte no valor das ajudas de custo e de transporte dos funcionários públicos, pondo fim a uma medida de contenção de despesa que dura desde 2010.
Por outro lado, e segundo o reforço do acordo de rendimentos, haverá uma atualização das ajudas de custo, com o valor por quilómetro em viatura própria a passar para 0,40 euros, das deslocações nacionais para 62,75 euros e das deslocações internacionais para 148,91 euros.
com Lusa