OCDE. São precisas cinco gerações para uma família sair da pobreza

por RTP
Em Portugal, os números dizem que 24 por cento dos filhos de pais com baixos rendimentos têm mais dificuldades em atingir salários mais elevados e acabam também por ter baixos rendimentos Rafael Marchante - Reuters

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico publicou esta sexta-feira um relatório sobre a mobilidade social. De acordo com o estudo, Portugal está entre os países com quadros mais negativos.

A baixa mobilidade social significa que uma família portuguesa com rendimentos mais baixos precisa de 125 anos – cerca de cinco gerações – até que descendentes atinjam um salário médio.

"Tendo em conta a mobilidade de rendimentos de uma geração para a seguinte, bem como o nível de desigualdade salarial em Portugal, pode demorar cinco gerações para que as crianças de uma família na base da distribuição de rendimentos consigam um salário médio", lê-se no estudo.


A análise desenvolvida pela OCDE compara a mobilidade social com uma escada ou elevador. Afirma-se no documento que uma criança que nasce numa família desvantajosa tem mais dificuldades em “subir a escada”. “Ter crescido com familiares com pouca ou mesmo nenhuma riqueza e ter pais com pouca riqueza são os dois fatores principais para a própria pobreza".
"Riscos que contam"

Em Portugal, os números dizem que 24 por cento dos filhos de pais com baixos rendimentos têm mais dificuldades em atingir salários mais elevados e acabam também por ter baixos rendimentos.

Já 39 por cento das crianças provenientes de uma família com rendimentos elevados conseguem subir mais rapidamente a escada e também elas passam a ter rendimentos mais altos.

O rendimento que os filhos virão a receber é uma das maiores preocupações por parte dos pais. Segundo a agência Lusa, a OCDE realizou ainda este ano um outro relatório, denominado "Riscos que contam”, onde se comprova que 58 por cento dos pais portugueses colocam entre as três principais preocupações o risco de os filhos não alcançarem o nível económico e de conforto que eles já têm.

O estudo revela ainda que 33 por cento das pessoas consideram que a educação dos pais está relacionada com a capacidade para se ser bem-sucedido.

Em declarações à Antena 1, o sociólogo Manuel Carlos Silva, da Universidade do Minho, defende que a ascenção social é muitas vezes mal compreendida.


Para a OCDE, a baixa mobilidade social em Portugal pode estar relacionada com os elevados níveis de desemprego e a segmentação do mercado laboral.

A organização conclui que a falta de mobilidade social não é um aspeto irreversível e podem ser tomadas medidas com o objetivo de aumentar a mobilidade entre gerações. Entre os principais objetivos, a OCDE destaca o apoio a crianças de meios desfavorecidos, o combate ao desemprego e o aumento do nível de qualificações através da educação para adultos.

c/ Lusa

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