A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico publicou esta sexta-feira um relatório sobre a mobilidade social. De acordo com o estudo, Portugal está entre os países com quadros mais negativos.
A baixa mobilidade social significa que uma família portuguesa com rendimentos mais baixos precisa de 125 anos – cerca de cinco gerações – até que descendentes atinjam um salário médio.
"Tendo em conta a mobilidade de rendimentos de uma geração para a seguinte, bem como o nível de desigualdade salarial em Portugal, pode demorar cinco gerações para que as crianças de uma família na base da distribuição de rendimentos consigam um salário médio", lê-se no estudo.
A análise desenvolvida pela OCDE compara a mobilidade social com uma escada ou elevador. Afirma-se no documento que uma criança que nasce numa família desvantajosa tem mais dificuldades em “subir a escada”. “Ter crescido com familiares com pouca ou mesmo nenhuma riqueza e ter pais com pouca riqueza são os dois fatores principais para a própria pobreza".
"Riscos que contam"
Em Portugal, os números dizem que 24 por cento dos filhos de pais com baixos rendimentos têm mais dificuldades em atingir salários mais elevados e acabam também por ter baixos rendimentos.
Já 39 por cento das crianças provenientes de uma família com rendimentos elevados conseguem subir mais rapidamente a escada e também elas passam a ter rendimentos mais altos.
O rendimento que os filhos virão a receber é uma das maiores preocupações por parte dos pais. Segundo a agência Lusa, a OCDE realizou ainda este ano um outro relatório, denominado "Riscos que contam”, onde se comprova que 58 por cento dos pais portugueses colocam entre as três principais preocupações o risco de os filhos não alcançarem o nível económico e de conforto que eles já têm.
O estudo revela ainda que 33 por cento das pessoas consideram que a educação dos pais está relacionada com a capacidade para se ser bem-sucedido.
Em declarações à Antena 1, o sociólogo Manuel Carlos Silva, da Universidade do Minho, defende que a ascenção social é muitas vezes mal compreendida.
Para a OCDE, a baixa mobilidade social em Portugal pode estar relacionada com os elevados níveis de desemprego e a segmentação do mercado laboral.
A organização conclui que a falta de mobilidade social não é um aspeto irreversível e podem ser tomadas medidas com o objetivo de aumentar a mobilidade entre gerações. Entre os principais objetivos, a OCDE destaca o apoio a crianças de meios desfavorecidos, o combate ao desemprego e o aumento do nível de qualificações através da educação para adultos.
c/ Lusa