Nova legislação australiana pode favorecer gasoduto Greater Sunrise para Timor-Leste

por Lusa

Um acordo entre os Trabalhistas e os Verdes australianos, com novas condições para o desenvolvimento de projetos de gás, poderá favorecer o gasoduto do Greater Sunrise, no mar de Timor, para a costa timorense, noticiou um jornal australiano.

De acordo com o Australian Financial Review (AFR), um acordo alcançado, na semana passada, entre os Trabalhistas e os Verdes determina que futuros projetos de gás teriam que ser `net zero`, tornando, para o jornal, mais difícil a opção defendida pela empresa australiana Wooside, de ligação de um gasoduto do Greater Sunrise a Darwin, no norte da Austrália.

O acordo surge numa altura de novo ímpeto em torno ao projeto de desenvolvimento do Greater Sunrise, mantendo-se o diferendo entre os parceiros do consórcio relativamente ao modelo a adotar.

Localizado a 150 quilómetros de Timor-Leste e a 450 quilómetros de Darwin, o projeto Greater Sunrise tem estado envolto num impasse, com Díli a defender a construção de um gasoduto para o sul do país e a Woodside, segunda maior parceira do consórcio, a inclinar-se para uma ligação à unidade já existente em Darwin.

Em fevereiro, o ministro do Petróleo e Assuntos Minerais timorense reafirmou esse empenho, ao considerar que "Timor-Leste tem todas as condições para dizer que só o gasoduto para Timor-Leste é que tem ótimas condições para o país".

Uma nova ronda de contactos entre as partes está prevista para Díli, na próxima semana, na qual deverá participar o representante especial do Governo australiano para o Greater Sunrise, no mar de Timor, Steve Bracks.

O consórcio do Greater Sunrise é formado por três empresas, a petrolífera estatal timorense TIMOR GAP (56,56%), a operadora Woodside Energy (33,44%) e a Osaka Gas Australia (10%).

Em novembro, depois de ser nomeado, Bracks mostrou-se otimista em relação a um acordo sobre o projeto em 2023, afirmando que há uma curta janela de oportunidade para o tornar viável.

"Consideraria um êxito conseguirmos que todas as partes concordem que este projeto tem de avançar. Eu tenho uma posição finita. Estou nestas funções há um ano e só as vou assumir um ano, por isso quero fechar isto até novembro do próximo ano. Se não conseguir, ficarei muito desapontado", disse à Lusa.

"O mandato que tenho do Governo australiano, e que me foi transmitido pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Penny Wong, depois da minha nomeação é muito simples: a Austrália quer que o projeto avance. Consideramos que será de grande benefício para o povo de Timor-Leste que este projeto avance", afirmou.

"Sabemos que as receitas do [poço petrolífero] Bayu Undan estão a terminar, precisamos de uma nova fonte de receitas para o país e isto é algo que pode financiar o país durante os próximos 20 anos", considerou.

O AFR referiu que o acordo negociado entre o ministro das Alterações Climáticas e da Energia, Chris Bowen, e o líder dos Verdes, Adam Bandt, inclui a concessão ao ministro de um "gatilho climático" para considerar o impacto no esquema de mecanismos de salvaguarda de novos projetos.

O presidente executivo da EnergyQuest, Rick Wilkinson, disse "não haver dúvida" de que as reformas do mecanismo de salvaguarda aumentaram as apostas para grandes projetos.

"A possibilidade do Greater Sunrise ser construído em Timor-Leste nunca teve uma oportunidade melhor do que a que estamos a ver agora", disse Wilkinson.

"Uma das razões pelas quais se inclina mais para Timor-Leste é [que] sob o mecanismo de salvaguarda, poderá haver um pouco de discricionariedade ministerial que entra em jogo", acrescentou.

O responsável salientou que os "gatilhos climáticos também precisam ser considerados pelo ministro em novos projetos de gás. E podem acrescentar custos adicionais por causa do que se tende a impor aos projetos para que sejam aprovados".

Saul Kavonic, analista de energia do banco Credit Suisse, também considerou que fatores políticos podem igualmente contribuir para levar o gasoduto do Sunrise para Timor-Leste.

"As fações de esquerda dentro do Partido Trabalhista tendem a ter uma visão bastante favorável em relação a Timor-Leste", disse, admitindo a existência de dúvidas sobre o custo económico do gasoduto para Timor-Leste.

 

 

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