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"Ninguém vai ganhar". Canadá, China e México respondem à ameaça protecionista de Trump

por Inês Moreira Santos - RTP
Brendan McDermid - Reuters

Donald Trump prometeu impor novas taxas sobre importações do México, Canadá e China assim que tomar posse, como parte dos supostos planos para travar a imigração ilegal e o tráfico de droga nos Estados Unidos. A ameaça não é nova. E os três maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos alertam que sugestão do presidente eleito pode prejudicar as economias dos quatro países.

A ameaça de Donald Trump de impor tarifas elevadas sobre produtos importados para os EUA pode ser o início de uma amarga guerra comercial global, na visão de especialistas em comércio e economistas, estando já os consumidores e as empresas a preparar-se para o aumento dos custos. A Organização Mundial do Comércio receia que a decisão de Trump possa desencadear uma guerra comercial, uma vez que os Estados Unidos exportam milhares de dólares em bens dos três países em questão.

“Qualquer um que espere que eles fiquem parados e não retaliem não está atento”
, advertiu Keith Rockwell, ex-diretor da organização, citado pelo Guardian.

Poucas horas depois do anúncio do republicano, , através do porta-voz da embaixada chinesa em Washington: “Ninguém vai ganhar uma guerra comercial ou tarifária”.

Liu Pengyu recordou que "a cooperação económica e comercial entre China e EUA é mutuamente benéfica por natureza" e negou que Pequim permita que produtos químicos usados na fabricação de drogas ilegais, incluindo fentanil, sejam contrabandeados para território norte-americano.

"A China respondeu ao pedido dos EUA para verificar dados sobre certos casos e tomou medidas", acrescentou Liu. "Tudo isso prova que a ideia da China permitir conscientemente que precursores de fentanil sigam para os Estados Unidos é completamente contrária aos factos e à realidade”.

O presidente Joe Biden manteve as tarifas que Trump já tinha introduzido para produtos chineses e acrescentou mais algumas durante a atual administração. Atualmente, a maior parte do que os dois países vendem um ao outro está sujeito a tarifas: 66,4 por cento das importações dos EUA da China e 58,3 por cento das importações chinesas dos EUA.
Tarifas "devastadoras para trabalhadores e empregos"
Juntou-se ao eco de vozes, que consideram também os laços económicos com os EUA “equilibrados e mutuamente benéficos”, a vice-primeira ministra do Canadá, Chrystia Freeland, e o ministro canadiano de Segurança Pública, Dominic LeBlanc.

"As coisas que vendemos aos Estados Unidos são as coisas de que eles realmente precisam"
, disse Chrystia Freeland na terça-feira, durante uma sessão parlamentar. "Nós vendemos petróleo, nós vendemos eletricidade, nós vendemos minerais e metais essenciais”.

Doug Ford, o primeiro-ministro de Ontário, a província mais populosa do Canadá, advertiu também que a tarifa proposta seria "devastadora para trabalhadores e empregos no Canadá e nos EUA".

“Comparar-nos ao México é a coisa mais insultuosa que já ouvi”, comentou ainda.

O primeiro-ministro do Canadá afirmou ter conversado com Trump na terça-feira e pretende realizar uma reunião com os líderes provinciais do Canadá esta quarta-feira para debater que resposta darão às ameaças norte-americanas. Justin Trudeau assegurou ainda que o país estava preparado para trabalhar com os EUA de "maneiras construtivas".

"Sabemos que este é um relacionamento que exige um certo trabalho, e é isso que faremos", disse Trudeau na Câmara dos Comuns em Ottawa.

“A ideia de entrar em guerra com os Estados Unidos é o que ninguém quer", continuou. "Este é o trabalho que faremos com seriedade, metodicamente”.

O vizinho do norte dos Estados Unidos foi responsável por cerca de 437 mil milhões de dólares de importações dos EUA em 2022 e foi o maior mercado para exportações dos Estados Unidos no mesmo ano. O Canadá envia cerca de 75 por cento da suas exportações totais para os EUA.
Imigração e consumo de droga sem fim com tarifas
"Uma tarifa seguirá a outra em resposta à anterior e assim por diante, até colocarmos os nossos negócios comuns em risco", reagiu a presidente do México, Claudia Sheinbaum, acrescentando que nem ameaças nem tarifas vão resolver o "fenómeno migratório" ou o consumo de drogas nos EUA.

Lendo uma carta que a própria escreveu a Trump, Sheinbaum também alertou que o México vai retaliar impondo os próprios impostos sobre as importações norte-americanas, o que mais uma vez "colocaria empresas comuns em risco". Segundo a chefe de Estado mexicana, o México tomou medidas para combater a migração ilegal para os EUA e que as “caravanas de migrantes não estão a chegar mais à fronteira”.

A questão das drogas, acrescentou dirigindo-se ao presidente eleito dos EUA, “é um problema de saúde pública e de consumo na sociedade do seu país”.


Caso sejam aplicadas, as taxas podem aumentar drasticamente os preços de tudo para os consumidores norte-americanos, desde o gás até aos automóveis. Os Estados Unidos são o maior importador de bens do mundo, sendo o México, a China e o Canadá os três principais fornecedores.

Trump fez as ameaças através da rede social Truth Social, insurgiu-se contra o afluxo de imigrantes ilegais, apesar de as travessias da fronteira sul terem registado um mínimo de quatro anos.

Não se sabe se Trump vai mesmo levar a cabo as ameaças ou se as está a utilizar como tática de negociação antes de tomar posse. As detenções por atravessar ilegalmente a fronteira a partir do México têm vindo a diminuir e mantiveram-se em mínimos de quatro anos em outubro, de acordo com os números oficiais mais recentes.
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