Não fazer parte da digitalização significa exclusão - secretário de Estado

por Lusa

O secretário de Estado da Transição Digital, André de Aragão Azevedo, disse hoje na Web Summit que não fazer parte da transição digital "significa ficar social e economicamente excluído", frisando as várias desigualdades que a digitalização pode provocar.

"Estamos cientes de que não fazer parte desta viagem significa ficar social e economicamente excluído", disse hoje André de Aragão Azevedo no palco `Corporate Innovation Summit` da Web Summit, evento que decorre entre segunda e quinta-feira na Altice Arena e na Feira Internacional de Lisboa (FIL).

O governante assumiu que o executivo tem uma "ambição digital coletiva de usar o digital como uma oportunidade para um país que foi percebido como periférico", querendo usá-lo "como motor para o crescimento económico".

"Queremos acelerar esse crescimento e projetar Portugal para o mundo como um país digital e moderno, assegurando, claro, que não deixamos ninguém para trás", afirmou.

Numa apresentação feita integralmente em inglês, o secretário de Estado elencou depois os vários tipos de desigualdades que a digitalização pode provocar.

"No caso dos desafios da formação e educação, o que procuramos é cobrir todo o ciclo de vida da nossa população, segmentando a nossa população em diferentes perfis e e tendo respostas específicas para cada um deles", introduziu.

Assim, André de Aragão Azevedo exemplificou com "a escola digital, entregando um computador e conextividade para todas as crianças e professores", com a "formação de toda a população ativa, tanto empregada como desempregada", com competências de digitalização.

"Temos de assegurar que não deixamos ninguém para trás e que cuidamos das pessoas que são infoexcluídas e é por isso que temos esta ambição de cobrir um milhão de adultos em Portugal com competências digitais básicas", referiu.

O governante elencou depois as desigualdades que existem no país, como por exemplo as desigualdades quanto à literacia digital.

"Ainda temos 48% da nossa população que não tem competências digitais básicas. Isto é, claro, um desafio. Estamos cientes que 90% dos empregos futuros requerem essas competências digitais", frisou.

André de Aragão Azevedo acrescentou ainda que 18% da população portuguesa nunca usou a Internet, o que significa que "quase um quinto da população está fora deste processo e a perder uma oportunidade".

O secretário de Estado apontou também à desigualdade de género no setor tecnológico nacional, dado que a maioria da população universitária em Portugal é feminina mas o mesmo não se repercute à medida que a tecnologia é mais utilizada.

"Quanto mais a tecnologia intensiva se torna mais presente nas suas vidas, menos mulheres há. Existe um funil, uma correlação invertida, entre a presença de mulheres e a presença de tecnologia intensiva", alertou o governante.

O responsável do Governo pela transição digital sustentou a sua visão afirmando que "dos 54% de mulheres na população universitária, só 43% está em cursos STEM [ciência, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla inglesa] e só 28% em cursos de engenharia".

"Isto significa que estamos a perder quase metade [das mulheres] neste processo de afunilamento", disse André de Aragão Azevedo, acrescentando que nos setores com maior presença de tecnologia intensiva, apenas 12% dos estudantes são mulheres.

As consequências no mercado de trabalho espelham-se no facto de que dos 3,6% da população em Portugal que é especialista em Tecnologias de Informação, apenas 0,7% são mulheres, frisou o secretário de Estado.

"Precisamos, definitivamente, de inverter esta tendência. Temos de eliminar este tipo de estereótipos", apelou.

A Web Summit decorre entre 01 e 04 de novembro em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido `online` e a organização espera cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.

A comediante Amy Poehler, o presidente da Microsoft Brad Smith, a comissária europeia Margrethe Vestager e o jogador de futebol Gerard Piqué irão juntar-se aos mais de 1.000 oradores, às cerca de 1.250 `startups`, 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores, numa cimeira na qual serão discutidos temas como tecnologia e sociedade, entre outros, de acordo com a organização.

Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do "maior evento de 2021" a ter lugar em Lisboa.

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