Movimento cívico prepara ação popular contra Águas do Alto Minho

por Lusa

Um movimento cívico criado nas redes sociais que contesta a Águas do Alto Minho anunciou hoje em Viana do Castelo, onde juntou cerca de 300 manifestantes, que vai avançar com uma ação popular contra aquela empresa.

"Estamos a recolher assinaturas num abaixo-assinado para entregar ao Ministério Público. É uma ação pública que pretende que este negócio seja investigado e, eventualmente, poderá ir a tribunal. Ao fazermos isso, teremos direito a um advogado gratuito, por se tratar de um bem essencial", afirmou Mário Sousa.

A AdAM é detida em 51% pela Águas de Portugal (AdP) e em 49% pelos municípios de Arcos de Valdevez (PSD), Caminha (PS), Paredes de Coura (PS), Ponte de Lima (CDS-PP), Valença (PSD), Viana do Castelo (PS) e Vila Nova de Cerveira (Movimento independente PenCe - Pensar Cerveira), que compõem a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho.

Três concelhos do distrito - Ponte da Barca (PSD), Monção (PSD) e Melgaço (PS) - reprovaram a constituição daquela parceria.

O organizador da segunda "manifestação pacífica" realizada em pouco mais de um mês contra a empresa de gestão das redes de abastecimento de água em baixa e de saneamento Águas do Alto Minho (AdAM) defendeu ainda a realização de um referendo sobre a reversão da constituição da AdAM, argumentando com "a falta de competência" da empresa e por entender "que a água é um bem essencial e nunca se deverá tornar num negócio".

Mário Sousa adiantou que a consulta popular resulta da resposta que o movimento recebeu das sete Câmaras Municipais a "um caderno de encargos" que enviou apontando os "o mau serviço prestado e os sucessivos erros cometidos pela empresa".

"Hoje aqui, por causa das respostas que tivemos das Câmaras, que dizem que o serviço está melhor, que as pessoas estão satisfeitas, querem um referendo, é democrático. Vivemos o dia 25 de abril, estamos numa democracia. O referendo já devia ter sido aceite antes, porque foi proposto em algumas Câmaras pelos partidos da oposição", sustentou, o organizador do protesto que foi identificado pela PSP, que acompanhou a ação à distância.

Segundo Mário Sousa, idênticas iniciativas foram realizadas nos restantes municípios que integram a AdAM.

Em Viana do Castelo, as cerca das 300 pessoas começaram, cerca das 15:00, a concentrar-se em frente à Câmara de Viana do Castelo para defender a devolução da gestão das redes de água e saneamento ao município.

No Passeio das Mordomas da Romaria, mesmo em frente ao edifício camarário, ouviram-se palavras de ordem como "Referendo Já", "AdAM fora", "Água sim, abuso não", "Queremos a reversão", "A água é nossa", "Democracia é dar voz ao povo", "AdAM é só ladrões".

Cornetas e apitos juntaram-se às vozes que entoaram os protestos. Constantino Araújo, de 93 anos, exibiu um cartão vermelho "à Câmara e à companhia das águas".

Ex-emigrante em França disse "não estar nada satisfeito por ter de participar no protesto", mas garantiu não lhe terem dado outra "hipótese" face "às trafulhices" a que tem assistido.

"Não conseguem fazer as contas direitas", afirmou o idoso, enquanto soprava ruidosamente o apito de cartão vermelho em punho.

Hilário Abreu, de 74 anos, criticou o aumento do custo da água e disse não se "importar" que seja a AdAM a fazer o serviço.

"Não explorem é as pessoas ao ponto de pagarem quase o dobro do que pagavam antes", alertou.

Em comunicado hoje enviado à imprensa, o presidente da Câmara de Viana do Castelo disse que a AdAM foi alvo de "uma intervenção direta das Águas de Portugal" e que, desde fevereiro, quando em conferência de imprensa os sete autarcas da região disseram "basta" de erros e mau funcionamento da empresa que "houve melhorias significativas no atendimento dos munícipes".

"Houve uma redução nos tempos de espera, de atendimento por telefone e ?email`, foram efetuadas leituras mensais dos contadores e a mais significativa melhoria foi a introdução de um novo software de faturação que reduziu drasticamente os erros de faturação", sublinhou José Maria Costa.

Segundo o autarca da capital de distrito, os sete municípios que integram a AdAM "continuam a acreditar no projeto estruturante para o futuro do Alto Minho".

"Sempre acreditamos que um projeto com mais escala teria melhores condições para assegurar o abastecimento de água e tratamento de águas residuais em melhores condições técnicas, ambientais e de tarifários justos. A par destes avanços temos também um programa de fortes investimentos em todos os sete concelhos com cerca de 25 milhões de euros em projetos de renovação de Infraestruturas e ampliações de redes de água e saneamento", especificou.

A empresa foi constituída em 2019 e começou a operar em janeiro de 2020, "dimensionada para fornecer mais de nove milhões de metros cúbicos de água potável, por ano, e para recolher e tratar mais de seis milhões de metros cúbicos de água residual, por ano, a cerca de 70 mil clientes".

"Apesar das dificuldades iniciais do processo e de muitos erros cometidos no início, entendemos que este é um processo que deve continuar para concretizar os objetivos que nos propusemos- melhorar a qualidade de vida dos cidadãos do Alto Minho", reforçou o socialista.

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