O empresário morreu no hospital da CUF, no Porto, onde estava internado desde domingo. Tinha 79 anos e era um dos homens mais ricos de Portugal. O velório decorre esta quarta-feira na Paróquia de Cristo Rei, no Porto, a partir das 20h00. A missa de corpo presente ocorre no mesmo local, na quinta-feira, às 16h00.
Licenciou-se em Engenharia Química, também no Porto, por via de uma bolsa da fundação Calouste Gulbenkian. Já nessa altura se destacavam a criatividade e vontade de trabalho de um jovem inteligente que dava explicações de forma a pagar os seus estudos.
Foi a carreira na Gestão que o levou a construir o império Sonae. Começou a trabalhar na empresa onde se destacaria antes de fazer 27 anos, ainda enquanto estudante e investigador, em 1965.
Dez anos mais tarde, assumia a posição de sócio maioritário. Com a morte do fundador Afonso Pinto de Magalhães, em 1984, colheu grande parte do capital e assumiu o controlo da empresa.
A crescente influência de Belmiro de Azevedo na Sonae coincide com a expansão de um negócio que começou nos aglomerados de madeira e chegou nas décadas seguintes a áreas tão diversas como a distribuição, comunicação e telecomunicações. Paradoxalmente, uma expansão que renasceu das cinzas e ganhou força nos anos seguintes ao PREC e às nacionalizações pós-25 de Abril.
Na década de 70, o empresário especializou-se em Gestão de Empresas na Universidade de Harvard. Voltaria aos Estados Unidos em 1985 - ano em que a Sonae passou a ser cotada em bolsa - para estudar na Universidade de Stanford.
"Paper rich man"
Belmiro de Azevedo fica ligado de forma inequívoca à abertura da primeira cadeia de hipermercados em Portugal, com o Continente e o Modelo a surgirem nos anos 80, ou retalho mais especializado, como a criação as lojas Worten ou Sportzone.
Em entrevista conduzida por Miguel Sousa Tavares no programa Face a Face da RTP, em 1987, logo após a abertura dos primeiros hipermercados, Belmiro de Azevedo definia-se como um paper rich man.
"A minha riqueza é muito fácil de avaliar. Está tudo transformado em ações. Devido à transparência que o grupo tem, as ações são facilmente contabilizadas e variam com as cotações da bolsa. (...) A riqueza não se tem, usufrui-se. Mais de metade da riqueza de que usufruo está contida em ações, ações que representam apenas intenções de investimento", explicava o empresário
"O dinheiro só serve para duas coisas: para ser gasto e para ser investido", acrescentava.
Atribui o sucesso ao suor e ao trabalho de uma vida. "Eu divirto-me a trabalhar", disse na mesma entrevista. Afastava-se de hábitos ociosos e dos meios noturnos e mais sociais.
À obsessão com os estudos e com o trabalho juntou-se um hobbie que levou muito a sério durante a juventude: Belmiro de Azevedo praticou andebol e chegou mesmo a jogar na primeira divisão com a camisola do seu clube, o Futebol Clube do Porto. Chegou a dirigir também a secção de natação do clube.
Alargou ainda mais os horizontes da Sonae, desta feita na área das telecomunicações, ao criar a Optimus, que viria a ser substituída pela NOS em 2014 numa fusão com a ZON.
Foi pela mão de Belmiro de Azevedo que o grupo empresarial fundou o jornal Público no início dos anos 90, que veio alterar o panorama da imprensa portuguesa daquela época. Em 1998, o grupo Sonae comprava a TVI e expandia o império.
Durante vários anos constou na lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes. Em 2016 ocupou a 1121ª posição.
Numa entrevista à RTP em março de 2004, Belmiro de Azevedo mostrava à televisão pública o refúgio da família em Marco de Canaveses, uma quinta onde produzia vinho e descansava ao fim de semana. "Isto é relaxante. É melhor que tomar um Prozac", brincava o empresário.
Já com 66 anos, o empresário português refletia: "A reforma não tem que ver com a idade. Há gente jovem que já devia estar reformada, há gente adulta que não deve ser obrigada a ser reformada se for útil".
Reconhecia, no entanto, que já não se sentia capaz de seguir os negócios mais recentes e complexos ao nível tecnológico, sobretudo ligados à empresa Optimus, delegando o papel aos mais jovens: "O grupo tem negócios que já não consigo acompanhar. (...) A idade do pessoal que trabalha ali na Optimus deve andar pelos 30 anos", estimava o empresário.
Acabaria por ficar à frente da Efanor, holding pessoal que detém mais de metade da Sonae, até março de 2015, altura em que anunciou que não seria candidato ao Conselho de Administração. Nessa altura deixou os destinos da empresa a cargo do filho Paulo Azevedo.