Moçambique recebeu este ano nove navios de cruzeiro, com quase 4.500 turistas, essencialmente em Maputo e provenientes de países asiáticos e europeus, referem dados do Governo moçambicano a que a Lusa teve hoje acesso.
De acordo com um relatório da execução orçamental dos primeiros nove meses do ano, estes navios de cruzeiro que fizeram escala no país transportavam 4.492 passageiros.
"Tendo desembarcado 2.069 que visitaram as atrações turísticas e degustaram da gastronomia típica", indica o relatório.
Acrescenta que, no mesmo período, ainda no setor do turismo, entraram em funcionamento no país 157 empreendimentos, dos quais 46 de alojamento, 83 de restauração e bebidas e 28 agências de viagens.
Estes números são anteriores ao período pós-eleitoral no país, com manifestações e paralisações generalizadas desde 21 de outubro.
Esta semana, os empresários moçambicanos alertaram para o cancelamento de reservas e redução "da confiança" dos turistas, em consequência das paralisações e das manifestações de contestação aos resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro.
"Esta situação das manifestações é má para o país, para a economia e para o turismo em especial, porque as reservas estão a ser canceladas por completo, o índice de confiança dos turistas fica afetado", disse à Lusa o responsável pelo pelouro da Hotelaria, Restauração e Turismo da Confederação das Associações Económicas (CTA), Muhammad Abdullah.
O responsável avançou que "é prematuro" falar dos números referentes aos prejuízos em face das manifestações, mas adiantou que será necessário um trabalho de marketing para recuperar a confiança dos turistas.
"No caso do turismo, é o índice de confiança do turista que baixa e isso permanece durante algum tempo até a estabilidade se fazer sentir e esta informação dar efeitos além-fronteira. Só depois é que eles retomam a preferência pela vinda a Moçambique", alertou Muhammad Abdullah.
Antes das paralisações e das manifestações durante sete dias, concluídas em 07 de novembro, o candidato Venâncio Mondlane tinha convocado marchas em 21, 24 e 25 de outubro, o que levou os empresários moçambicanos a estimar, em 30 de outubro, prejuízos de 3.000 milhões de meticais (43,2 milhões de euros), assumindo que a destruição e saques deixaram 1.200 desempregados.
"Tivemos sabotagens, vandalizações, arrombamento de estabelecimentos privados e comerciais e até produtivas (...) cerca de 33", que provocaram "perdas financeiras estimadas em cerca de 3.000 milhões de meticais. Portanto, o nível de vandalização de estabelecimentos é de tal forma que não poderão voltar a operar", assumiu Agostinho Vuma, presidente da CTA.
Entretanto, Venâncio Mondlane convocou mais um período de três dias de paralisações e manifestações de contestação aos resultados eleitorais, que termina hoje, prometendo novas fases.
Em 24 de outubro, o anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique dos resultados das eleições de 09 de outubro, atribuindo a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição presidencial, com 70,67% dos votos, desencadeou protestos populares, convocados pelo candidato da oposição Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, que não tem prazos para esse efeito e ainda está a analisar o contencioso.