Ministra dispôs-se a ouvir protestos, apesar da proteção policial, e prometeu levar problemas a Bruxelas
Aveiro, 21 set (Lusa) -- A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, prometeu hoje tentar resolver em Bruxelas os problemas dos produtores de leite, à saída da Agrovouga, em Aveiro.
Assunção Cristas tinha à sua espera em Aveiro, centenas de agricultores com chocalhos a expressar o seu descontentamento, mas também um forte dispositivo policial que, inclusive, dificultou o diálogo a que se prestou com Albino Silva, dirigente da Associação da lavoura do Distrito de Aveiro (ALDA), que liderava o protesto.
Após entrar nas instalações da feira, inaugurada hoje, a ministra foi encaminhada para o auditório, onde decorre o certame, para encerrar um seminário alusivo aos 50 anos da Política Agrícola Comum. A governante ouviu Pedro Pimentel, da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) e o professor Mário Pedro Ferreira, da Universidade Católica, a dissertarem sobre os desafios dos produtores de leite e a transição na fileira do leite.
"As marcas comerciais (do leite) estão a ter uma grande tareia, com uma redução substancial do consumo interno, para cujo mercado o setor tem estado direcionado", descreveu Pedro Pimentel, acentuando que as variações fiscais, nomeadamente do IVA, se refletem na procura por produtos mais baratos na origem.
Já Mário Ferreira, munido com gráficos nos quais dados registados entre 2001 e 2012, procurou demonstrar que a remuneração do leite aos produtores decresceu com a inflação, ao inverso dos custos, nomeadamente dos combustíveis e da compra das rações.
Os agricultores que participavam no protesto, apesar dos inúmeros lugares vagos na sala, foram impedidos de assistir, por não se terem inscrito, mas a exposição dos oradores, ainda que diferente no discurso e na ilustração, foi condizente com as suas queixas: os custos não param de aumentar e o que lhes é pago pelo leite continua a ser baixo.
No final, Assunção Cristas disse aos jornalistas conhecer bem os problemas dos agricultores e respeitar a forma que escolheram para os transmitir, assegurando estar a fazer tudo o que está ao seu alcance para os resolver, nomeadamente no setor do leite, que tem especial incidência na região.
"Segunda feira estarei em Bruxelas, juntamente com Espanha e com outros países, numa iniciativa nossa de agendar no conselho de ministros um ponto sobre a questão do leite, para tentar que sejam dadas ajudas específicas, numa altura em que os custos de produção aumentaram muito, em virtude da seca mundial e onde há dificuldades grandes", disse.
A ministra sublinhou a insistência da posição portuguesa nas negociações da Reforma da Política Agrícola Comum para que seja mantido o regime das quotas leiteiras "ou arranjar alternativas" para os agricultores.
"Temos mantido sempre uma posição de defesa e sensibilidade para com os seus problemas e tudo estou a fazer, do que está ao meu alcance, para ajudar a ultrapassarmos essas dificuldades", finalizou.