Milhões de crianças seguem Pai Natal através do Comando de Defesa Aeroespacial dos EUA

por Lusa

Milhões de crianças em todo o mundo seguem hoje um imaginário `trajeto` do Pai Natal através do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD), uma tradição da Guerra Fria que tem ganho popularidade todos os anos.

Tendo como habitual missão vasculhar os céus em busca de potenciais ameaças reais aos Estados Unidos, como os balões espiões chineses do ano passado, a NORAD gere na véspera de Natal uma central telefónica em Colorado Springs (estado do Colorado) onde voluntários respondem a perguntas dos mais pequenos, como "Quando é que o Pai Natal vem a minha casa?" e "Estou na lista dos traquinas ou dos simpáticos?". Mais de 100 mil crianças ansiosas por receber presentes ligam todos os anos para a NORAD.

O site do NORAD disponibiliza ainda uma animação em "tempo real", com informação em nove línguas, do inglês ao japonês.

O rastreio anual do Pai Natal pelo NORAD dura desde a Guerra Fria, e a tradição continua independentemente das paralisações governamentais, como a de 2018 e a deste ano.

Tudo terá começado com um telefonema acidental de uma criança, em 1955, quando EUA e Canadá estavam focados na ameaça russa e numa possível guerra nuclear.

Um menino ligou para a NORAD e a chamada chegou ao coronel da Força Aérea Harry W. Shoup, a atendeu num "telefone vermelho" apenas para emergências. Do outro lado, o menino começou a recitar uma lista de desejos de Natal.

"Ele continuou um pouco, respirou fundo e disse: `Espera, tu não és o Pai Natal`", contou Shoup à Associated Press em 1999.

Para não desiludir a criança, Shoup respondeu numa voz grave e alegre: "Ho, ho, ho! Sim, sou o Pai Natal. Tens sido um bom menino?"

Oficialmente, o equívoco resultou de um anúncio de uma loja incentivando as crianças a ligar para o Pai Natal pedindo presentes, que foi publicado num jornal de Colorado Springs com um erro num dígito, que compunha o ultrassecreto número da NORAD.

Depois de Shoup desligar o telefone, logo este voltou a tocar com uma jovem a recitar a sua lista de Natal. Seguiram-se cinquenta chamadas por dia, disse.

Na era pré-digital, a agência utilizava um mapa da América do Norte, de 18 por 24 metros, para rastrear objetos não identificados. Um membro da equipa, em tom de brincadeira, desenhou o Pai Natal e o seu trenó sobre o Pólo Norte e a tradição nasceu.

Mas esta versão tem vindo a ser posta em causa e, em 2015, a revista The Atlantic atribuiu a tradição sobretudo ao talento de Shoup para as relações públicas.

Em 1986, o próprio Shoup admitiu ao Scripps Howard News Service que quando em 1955 viu o Pai Natal no mapa de ameaças, viu uma oportunidade sobretudo para aumentar o moral das tropas e do público.

"Isto fez com que os militares parecessem bem -- como se não fôssemos todos um bando de snobes que não se preocupam com o Pai Natal", disse.

A tradição do NORAD é uma das poucas adições modernas à centenária história do Pai Natal que perdurou, de acordo com Gerry Bowler, um historiador canadiano que falou à AP em 2010.

Numa entrevista recente à AP, o Tenente-General da Força Aérea Case Cunningham explicou que os radares NORAD no Alasca e no Canadá -- conhecidos como sistema de alerta do norte -- são os primeiros a "detetar" o Pai Natal.

O trenó puxado a renas deixa o Pólo Norte e segue normalmente para o Oceano Pacífico. Daí desloca-se para oeste, seguindo a noite.

"É aí que começam a funcionar os sistemas de satélite que usamos para rastrear e identificar alvos de interesse todos os dias", disse Cunningham.

"Um facto provavelmente pouco conhecido é que o nariz de Rudolph (rena do Pai Natal) que brilha em vermelho emana muito calor. E depois esses satélites rastreiam através dessa fonte de calor", gracejou.

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