Marcelo lê aviso de Centeno. "Governo tem espaço de manobra para não gastar o que dê défice"

por Carlos Santos Neves - RTP
Marcelo Rebelo de Sousa esteve este sábado no almoço de Natal promovido pelo Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, com o apoio do Metro de Lisboa José Sena Goulão - Lusa

O presidente da República abordou este sábado as previsões do último Boletim Económico do Banco de Portugal, apontando "boas e menos boas notícias". Marcelo Rebelo de Sousa destacou, como sinais positivos, em 2024, a elevação da taxa de crescimento, a estabilização do desemprego e o excedente orçamental. Para o próximo ano, observou, Mário Centeno "está muito pessimista sobre a evolução no mundo e na Europa". Trata-se, na ótica do presidente da República, de "um aviso político". Ainda assim, considera que o Executivo dispõe de "espaço de manobra".

"As boas notícias para este ano: ele elevou a taxa de crescimento, vamos crescer um bocadinho mais do que se pensava, coloca em 1,7, o que em termos europeus é bom; não subimos o desemprego; aguentamos o Orçamento, com um superavit; temos o turismo a aguentar muito bem, o investimento externo razoável e o consumo interno a aguentar", enumerou Marcelo Rebelo de Sousa.

"As menos boas notícias foram para o ano que vem. Porquê? Porque o Banco de Portugal está muito pessimista sobre a evolução no mundo e na Europa e acha que pode acontecer, na Europa, que a Alemanha não arranque, que a França tenha maus resultados, são países para onde exportamos muito, que outros países também não tenham bons resultados, e aquilo que nós exportamos para países não europeus pode não compensar", prosseguiu."Há ali uma preocupação de que as despesas subam tanto que acabem por dar um mínimo défice, daqueles que tanto podem ser défice como não ser, que é -0,1. No final do ano, pode ser mais ou menos".

"O que o governador quis dizer ao Governo é que não estiquem muito as despesas, porque havia folga e ainda há, mas a folga tem limites, com aumentos vários em vários sectores da Administração Pública, de prestações que estavam devidas e prometidas há muito tempo, calhou tudo num período concentrado de tempo", assinalou o chefe de Estado.

"Vai depender muito da situação económica internacional, não é só do que se gastar cá dentro. O Governo, se vir que a situação internacional piora, ou não melhora, obviamente que não pode gastar tanto".

"Ainda não começou o ano. Aquilo é mais do que uma previsão. É um aviso político do governador do Banco de Portugal, como quem diz eu no ano que vem não vos largo quanto a este ponto", interpretou o presidente.O Banco de Portugal estima que o país regresse a uma situação deficitária em 2025, com uma derrapagem de 0,1 por cento do PIB, o que contraria as projeções do Governo de um excedente. Já o crescimento da economia deverá situar-se em 1,7 por cento em 2024 e 2,2 em 2025, em resultado da melhoria das condições financeiras, da aceleração da procura externa e da entrada de fundos europeus.

Marcelo afirmou que, por agora, não está preocupado com o quadro interno: "Ainda não começou o ano. Estou preocupado com a situação internacional, mas tenho a noção de que um governo minimamente atento percebe que, se estiver a correr lá fora mal, não tem tanto dinheiro para gastar".

"O Governo naturalmente tem espaço de manobra, tem 12 meses, para ver o que se passa e para não gastar aquilo que possa dar um défice", insistiu.

"É verdade que o primeiro-ministro diz que o governador vai em contramão, que as previsões vão todas no sentido oposto, mas isso sempre foi assim. Quando era ministro, o atual governador Mário Centeno foi sempre, em matéria de finanças, muito exigente e muito ortodoxo e portanto não muda, naquela idade já não muda", observou Marcelo Rebelo de Sousa
"Aposta na habitação com o apoio do Estado"
O presidente da República esteve no almoço de Natal promovido pelo Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, com o apoio do Metropolitano de Lisboa.

Questionado sobre se teme chegar ao fim do segundo mandato sem ter cumprido o objetivo de retirar todos os sem-abrigo da rua, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu: "Infelizmente, sim".
"A pandemia teve efeitos desastrosos. Depois, a guerra e a inflação novamente efeitos desastrosos. E portanto o número continua elevado. Já esteve pior, na crise da troika, perto dos 20 mil, mas está perto dos 13, 14 mil, é o último cálculo que é feito", sublinhou o chefe de Estado.

"É um falhanço que era inevitável desde o momento em que pararam atividades económicas, a certa altura, a pique, como a hotelaria e a restauração, com a pandemia. E depois muita gente, com a inflação, passou a não ter dinheiro: trabalha, mas não tem dinheiro para ter casa".

"É uma nova situação que precisa urgentemente de uma aposta na habitação com o apoio do Estado, com o apoio do PRR e com o apoio fundamental dos municípios", rematou Marcelo.
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