As autoridades norte-americanas anunciaram esta sexta-feira o encerramento do Silicon Valley Bank, o principal banco para startups tecnológicas dos EUA. A notícia da falência, a segunda maior do setor bancário norte-americano, levantou receios de uma crise financeira semelhante à de 2008 e lançou o pânico no setor bancário na Ásia e na Europa.
O Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia (DFPI) confiou o controlo dos depósitos à agência responsável pela sua garantia (Federal Deposit Insurance Corporation - FDIC).
A FDIC anunciou que prevê reabrir as 17 agências do banco na segunda-feira e autorizar a curto prazo que os clientes levantem até 250.000 dólares (236.000 euros), o montante habitualmente garantido pela FDIC. Aqueles que tenham mais dinheiro nas suas contas bancárias, ou seja, a maioria dos clientes do banco, devem contactar a agência. O SVB era o 16.º banco norte-americano em dimensão de ativos. No final de 2022, o banco contava 209 mil milhões de dólares de ativos e cerca de 175,4 mil milhões em depósitos, precisaram as autoridades.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, recusou este domingo um resgate ao banco e garantiu que o Governo de Biden está a trabalhar em estreita colaboração com os reguladores para ajudar os clientes do SVB.
“Deixem-me esclarecer que, durante a crise financeira, houve investidores e proprietários de grandes bancos sistémicos que foram resgatados e as reformas implementadas significam que não faremos isso novamente", garantiu Yellen ao programa Face the Nation, da CBS.
“O sistema bancário norte-americano é seguro e bem capitalizado, é resiliente. Os norte-americanos podem confiar na segurança e solidez do nosso sistema bancário", sublinhou.
O que levou o banco à falência?Segundo os meios de comunicação norte-americanos, o SVB entrou em insolvência depois de ter assistido a uma corrida aos seus depósitos, à qual não foi capaz de dar resposta.
Com a subida das taxas de juro nos EUA, que passou de 0,25 por cento em 2020 para 4,75 por cento em fevereiro deste ano, e a volatilidade nas tecnológicas, as startups e pequenas empresas retiraram bastante dinheiro das suas contas nos últimos meses.
Para ter liquidez suficiente, o Silicon Valley Bank anunciou na quarta-feira que procurava fazer rapidamente um aumento de capital e que venderia 2,25 mil milhões de dólares em novas ações. O anúncio desencadeou o pânico entre as principais empresas de capital de risco, o que fez com que os investidores retirassem o dinheiro do banco.
Na agitação que se seguiu, o banco caiu 60 por cento na bolsa de Nova Iorque na quinta-feira, fazendo o SVB perder cerca de dez mil milhões de dólares. Na manhã de sexta-feira, as ações foram suspensas e os reguladores da Califórnia encerraram o banco.
Falência lança o pânico
A falência do banco SVB é a segunda maior falência de uma instituição financeira na história dos Estados Unidos e a maior insolvência bancária desde a quebra do Washington Mutual, em 2008, que levou ao colapso do sistema financeiro norte-americano e gerou uma crie mundial.
A falência do SVB lançou, assim, o pânico no setor bancário nos EUA, Ásia e Europa, à medida que os investidores temem uma repetição da crise financeira de 2008.
O receio de que outros bancos possam enfrentar problemas semelhantes levou à venda generalizada de ações de bancos em todo o mundo. Os quatro maiores bancos norte-americanos perderam 52 mil milhões de dólares em bolsa na quinta-feira e, no seguimento, os bancos asiáticos e os europeus também desvalorizaram.
Em Paris, a Société Générale perdeu 4,49%, o BNP Paribas 3,82% e o Crédit Agricole 2,48%. Em outros países, o alemão Deutsche Bank recuou 7,35%, o britânico Barclays 4,09% e o suíço UBS 4,53%.
Apesar do pânico inicial, analistas consideram improvável que o colapso do SVB desencadeie o efeito dominó a que se assistiu durante a crise financeira há mais de uma década.
Stephen Innes, analista da Asset Management, considera “fraco” o risco de “um incidente de capital ou liquidez entre os grandes bancos”.
"O sistema está tão bem capitalizado e líquido como sempre esteve", disse o economista-chefe da Moody's, Mark Zandi, citado pela CNN. “Os bancos que agora estão com problemas são pequenos demais para serem uma ameaça significativa ao sistema mais amplo”, explicou.
Desde a crise económico-financeira de 2008/2009 e a falência do banco norte-americano Lehman Brothers, os bancos devem dar garantias acrescidas de solidez aos reguladores nacionais e europeus.
Para os analistas da Morgan Stanley, “as pressões de financiamento com as quais o SVB se confrontou são muito particulares e não devem ser consideradas a norma para os outros bancos regionais”.
c/agências