Macau. Tailândia e falta de atrações ameaçam capital mundial do jogo
Dois analistas disseram à Lusa que uma eventual legalização do jogo na Tailândia e a ausência de novas atrações para além dos casinos pairam sob o futuro da economia de Macau, altamente dependente do turismo.
Nos primeiros nove meses do ano, o Produto Interno Bruto da região semiautónoma chinesa recuperou para 87,3% do nível registado antes da pandemia de covid-19, mas os serviços turísticos continuam a representar 79,7% da economia.
"Há aqui uma recuperação económica fantástica na área dos casinos e tudo que está ligado ao turismo, hotelaria, restauração", confirmou o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa Carlos Cid Álvares.
Mas o também presidente do Banco Nacional Ultramarino (que pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos), admitiu que "há um não crescimento ou até uma queda nos pequenos negócios" longe dos casinos.
O analista da consultora de jogo IGamix Ben Lee lembrou que, tal como os antecessores, o próximo líder de Macau "voltou a proferir palavras muito fortes e encorajadoras" no que toca à diversificação da economia.
Sam Hou Fai, que irá tomar posse a 20 de dezembro, chegou a dizer, durante a campanha, que os casinos atraíram demasiados recursos humanos, algo que prejudicou o desenvolvimento da região.
Glenn McCartney, professor da Universidade de Macau, acredita que as operadoras ficaram sem mãos a medir depois dos casinos se terem tornado "uma oferta muito aliciante" para os grandes jogadores.
Mas este segmento, que chegou a representar 60% das receitas dos casinos em 2013, foi afetado pela detenção do líder da Suncity, a maior empresa angariadora de apostas VIP do mundo, em novembro de 2021.
Ben Lee acredita que a formação jurídica de Sam, antigo presidente do Tribunal de Última Instância, poderá ajudá-lo a combater a "burocracia de Macau e os interesses instalados".
Em 01 de janeiro de 2023, quando entraram em vigor as novas concessões para casinos, válidas por 10 anos, as seis operadoras comprometeram se a investir "mais de 100 mil milhões de patacas" (11,9 mil milhões de euros) em elementos não ligados ao jogo.
Glenn McCartney sublinhou a importância de áreas como o turismo médico e "a economia noturna", para garantir que os visitantes passam mais tempo e gastam mais dinheiro em Macau.
Mas Ben Lee defendeu que as operadoras têm apenas investido em promoção fora da China e em entretenimento, incluindo a MGM, que irá estrear em 15 de dezembro um espetáculo concebido pelo realizador chinês Zhang Yimou.
"Não vemos nada a mexer no terreno e se fosse para investir em infraestruturas em concreto isso já deveria ter começado", lamentou o analista.
Ben Lee deu como exemplo a Wynn, que prometeu um novo teatro com um espetáculo permanente, e a Sands, que anunciou "um jardim de inverno icónico" com 50 mil metros quadrados.
As empresas "estão a fazer a mesma coisa que faziam no passado, que é basicamente fazer promessas, manter a cabeça baixa, fazer o mínimo para sobreviver e esperar", disse o consultor.
Macau é a capital mundial do jogo e o único local na China onde o jogo em casino é legal. Mas Ben Lee alertou que isso pode mudar devido à Tailândia.
O Governo tailandês está a preparar um projeto de lei que permite a construção de empreendimentos integrados de jogo, semelhantes aos de Macau, abertos a estrangeiros.
Mesmo sem casinos, a Tailândia já recebeu 26 milhões de visitantes nos primeiros nove meses, prevê 36 milhões até ao final do ano e tem como meta atingir em 2025 40 milhões de turistas -- um marco que Macau esteve perto de alcançar em 2019.
A Tailândia tem uma enorme variedade de oferta para os visitantes, com a qual Macau não pode competir e, sublinhou Ben Lee, não é por acaso que todas as seis operadoras na região chinesa "estão desesperadas para entrar" neste novo mercado.
O analista defendeu que "a Tailândia é o maior desafio para toda e qualquer jurisdição de jogo na Ásia".