O Presidente do Brasil disse que "fará um esforço" para que o BNDES financie obras, a exemplo do que fez no passado, quando financiou construtoras brasileiras em países da América Latina e África, foco das investigações anticorrupção.
"Muitas vezes somos criticados por pura ignorância por pessoas que pensam que não pode haver financiamento de engenharia a outros países. Acho não só que pode como é necessário que o Brasil ajude outros países. E é o que vamos fazer", avisou Luiz Inácio Lula da Silva, em relação ao papel do brasileiro Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).
Lula da Silva falava à comunicação social ao lado do Presidente argentino, Alberto Fernández, após uma reunião bilateral na Casa Rosada. O Presidente brasileiro foi questionado se, além de equipamentos produzidos no Brasil, o BNDES financiaria obras de engenharia, foco do esquema de corrupção revelado pela operação Lava Jato, cujas investigações tiveram consequências sobre políticos e governantes pela América Latina, incluindo o próprio Lula da Silva, que viu, no entanto, a justiça retirar-lhe as condenações.
"Se há interesse dos empresários, dos governos e temos um banco para isso, vamos fazer um esforço para o financiamento do BNDES. O orgulho que tenho quando o BNDES tinha mais recursos do que o Banco Mundial para financiamentos. O orgulho que tínhamos quando financiávamos uma obra nos países da América do Sul. É isso o que os países maiores têm de fazer pelos menores", defendeu Lula da Silva.
"Falamos sobre a possibilidade de o gás de Vaca Muerta chegar ao Brasil", confirmou, por sei lado, o Presidente argentino, Alberto Fernández.
Brasil e Argentina querem a construção de um gasoduto entre a reserva patagónica de Vaca Muerta e o Sul do Brasil. Vaca Muerta é a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo, mas faltam à Argentina recursos financeiros para construir um gasoduto.
O Governo argentino vê o mercado brasileiro como destino da produção de gás enquanto o Brasil tem interesse em garantir a sua segurança energética, diminuindo a dependência do gás boliviano, cujo volume de produção tem diminuído.
Para isso, a Argentina quer que o Brasil financie, através do BNDES, a construção do gasoduto. O que mais parece avançado, no entanto, é o papel do BNDES como financiador dos canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint. O Brasil financiaria essas exportações à Argentina.
Lula da Silva lembrou que o seu antecessor, Jair Bolsonaro, ordenou que o BNDES devolvesse dinheiro ao Tesouro em vez de financiar obras.
"Em vez de fazer investimento, o BNDES teve de devolver ao Tesouro Nacional 360 milhões de reais que poderiam ser para investimentos em portos e aeroportos, mas foram devolvidos ao Governo", criticou.
O Presidente argentino elogiou a postura de Lula da Silva, considerando que as palavras "encorajam muito".
"Para nós, o BNDES causa inveja. É uma ferramenta de desenvolvimento incrível", disse Alberto Fernández, acrescentando que "espera rapidamente chegar a esse ponto para passar o gás do qual o Brasil precisa, sobretudo quando os dois países sofrem o declínio da produção de gás na Bolívia".