Linha pioneira de reciclagem de cápsulas de café inaugurada em Cantanhede

por Lusa

Uma linha industrial de reciclagem de cápsulas de café multimarca, inovadora e única em Portugal, foi hoje inaugurada no município de Cantanhede, no distrito de Coimbra, num investimento de cerca de um milhão de euros.

Integrada na empresa Bio4Plas, que produz novos objetos de plástico a partir de resíduos resultantes da reciclagem de materiais, a nova linha de produção permite tratar as cápsulas após o consumo destas, separando os componentes que possuem: alumínio, plástico, papel e borras de café

"Fazemos a separação de todos os componentes das cápsulas. Elas têm no seu interior plástico, alumínio, borras e outros materiais, que são o filtro em papel e também uma película, num plástico diferenciado, que é o PE [polipropileno], uma película que está entre o café e o alumínio, pela questão [de segurança] alimentar", disse à agência Lusa António Martins, administrador da Bio4Plas.

A empresa, fundada há quatro anos, aproveita não só os resíduos de plástico, mas também, por exemplo, as borras do próprio café, incorporadas em novos produtos, como umas cadeiras, também hoje apresentadas e onde, durante a sessão, se sentaram alguns dos convidados, entre os quais o secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, e a presidente da Câmara de Cantanhede, Helena Teodósio.

"E o alumínio também permite fazer alguns plásticos ou ir para a indústria de fundição, é um produto de valor [acrescentado]", notou António Martins.

Deste modo, as cápsulas de café, que até agora, segundo o administrador da Bio4Plas, iam no lixo doméstico para aterros sanitários, passam a ter um canal próprio de reciclagem, já com 400 pontos no país, fruto de um acordo com a Sonae e os hipermercados Continente (que António Martins frisou que se vai estender ao Pingo Doce, Mercadona e outras empresas) e parcerias com a Nestlé ou a Delta, que possuem recolha própria.

Paralelamente, a Bio4Plas mantém uma unidade de investigação relacionada com o negócio e tem vindo a estabelecer acordos com autarquias, pretendendo chegar aos 308 municípios portugueses, facilitando o processo de reciclagem aos cidadãos, "como agora já é feito com as pilhas ou os óleos usados".

"As pessoas só terão de se preocupar em separar as cápsulas [em casa] e terem onde as entregar. Nós tratamos do resto", observou o empresário.

Na sua intervenção na sessão de hoje, o secretário de Estado do Ambiente destacou o orgulho que disse sentir em ver empresas portuguesas "a fazer coisas tão extraordinárias como as que estão a fazer aqui".

Lembrando que chegou "há poucos dias" à secretaria de Estado do Ambiente -- este foi o seu segundo ato público enquanto governante, depois de uma ação de educação ambiental nas Caldas da Rainha -- Emídio Sousa, antigo presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, disse ter um desafio na área dos resíduos: "Estamos longe de cumprir as metas a que nos propusemos no âmbito da União Europeia, estamos muito longe", avisou.

"Mas, ao mesmo tempo, vejo projetos, que ainda são pequenos para o muito que tempos de fazer, com esta qualidade e [vejo] a força do empresário, a força do investidor", afirmou.

A presidente da Câmara de Cantanhede considerou o projeto da Bio4Plas como "mais um passo para a valorização da base económica" do seu município, frisando que qualquer autarca quer ver repetidos no seu território investimentos desta natureza.

Na ocasião, Helena Teodósio relevou que o município guardou cerca de 20 toneladas de cápsulas usadas de café para entregar à Bio4Plas, ainda assim uma pequena fração daquilo que a empresa necessita para o negócio ser sustentável.

À Lusa, António Martins explicou que a nova linha necessita de duas mil toneladas de cápsulas de café "por turno" -- mais de 130 milhões, considerando 15 gramas por cápsula -- o que representa 100 vezes mais do que a quantidade disponibilizada por Cantanhede, cerca de 1,3 milhões de cápsulas.

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