O Kremlin qualificou hoje como "absurda" a decisão da União Europeia (UE) de suspender o acordo de facilitação de vistos com a Rússia, decidida quinta-feira como uma sanção pela ofensiva militar russa na Ucrânia.
"Esta é uma decisão ridícula de uma série de disparates", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, na sua conferência de imprensa diária.
"Isto é mau para os russos, porque os vistos serão provavelmente mais longos e mais difíceis de obter", admitiu, mas a medida também tornará as coisas "mais complexas" para os europeus.
No entanto, não mencionou quaisquer medidas concretas de retaliação por parte do Kremlin, que já antes avisou que o fará.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE decidiram na quinta-feira suspender o acordo assinado em 2007, mas não chegaram a acordo sobre uma proibição mais ampla dos vistos russos, como exigido por alguns Estados-membros.
O alto representante da UE para as relações externas, Josep Borrell, afirmou que os países limítrofes da Rússia "podem tomar medidas a nível nacional para restringir a entrada na União Europeia".
No entanto, esclareceu que estas medidas deveriam estar em conformidade com as regras da área Schengen e sublinhou a importância de os membros da sociedade civil russa poderem continuar a viajar para a União Europeia.
Antes da reunião, a Polónia e os três Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) tinham dito que estavam a considerar banir unilateralmente os viajantes russos, se a UE não o fizesse.
Em declarações à saída da reunião informal de `rentrée` dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, dominada pela questão da circulação de cidadãos russos na UE, João Gomes Cravinho indicou que, apesar das diferentes posições entre os Estados-membros à partida para esta discussão -- alguns defendiam a proibição total de entrada de cidadãos da Rússia no espaço comunitário -, foi possível chegar a "uma solução partilhada por todos", que passa por dificultar a concessão de vistos.
Lembrando que este acordo de facilitação de vistos "foi assinado no quadro de uma parceria estratégica com a Rússia na primeira década deste século [em 2007]", João Gomes Cravinho salientou que "essa parceria estratégica já não existe".
"Não há razão nenhuma para nós termos em relação à Rússia um mecanismo de facilitação de vistos que nós não temos com tantos outros países do mundo, e, portanto, vamos terminar com o acordo de facilitação de vistos", disse, acrescentando que "isso vai levar a um grau de exigência muito maior, portanto o crivo mais apertado na verificação da documentação de quem viaja para a UE".
Por outro lado, revelou, está também a ser desenvolvido um "trabalho técnico complexo" relacionado com a circulação de russos que já têm atualmente visto, e isto atendendo a que, atualmente, "há cerca de 12 milhões de vistos Schengen emitidos para cidadãos russos", com durações variáveis.
O ministro explicou que os Estados-membros da UE estão agora "a verificar quais são exatamente as condições que permitem condicionar" a circulação de cidadãos russos com vistos emitidos, notando que "alguns países, nomeadamente aqueles que têm fronteiras terrestres com a Rússia, têm razões significativas em termos de segurança nacional para querer condicionar esse fluxo, porque são dezenas ou mesmo centenas de milhares de russos que podem desequilibrar países com populações pequenas".