João Bento, CEO dos CTT. "O mais preocupante é a possibilidade de um governo a prazo"
Sobre a situação política no país, João Bento lembra que a instabilidade é sempre inimiga do investimento, mas considera que o mais preocupante é a ideia de um governo a prazo.
Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, João Bento avisa que a meta dos 3,5 mil milhões de euros previstos no Orçamento do Estado para a emissão de produtos de poupança, como certificados de aforro, pode estar comprometida se o governo não tornar este produto mais atrativo.
O CEO dos CTT considera que ao ritmo atual os CTT ainda estão "muito longe" de conseguir alcançar a sua quota parte nesses 3,5 mil milhões e, para recuperar essa poupança, aponta baterias para o segundo semestre, num esforço que terá de ser concertado com o governo e o IGCP.
Acredita que a mudança de governo, neste domínio, terá prejudicado a dinâmica que existia no mercado e diz que agora para recuperar é preciso atuar em duas dimensões: elevar o limite por conta para lá do previsto de 50 mil euros e oferecer mais rentabilidade aos certificados de aforro. E isto porque "fica bem ao governo promover a poupança".
Em concreto sobre o saldo negativo das subscrições líquidas e o destino que está a ser dado às poupanças, João Bento considera que parte está a ir para os depósitos e por isso acredita que, no segundo semestre, com a redução das taxas de juro e aumento dos custos da dívida pública na colocação institucional, a situação se inverta e os certificados voltem a ser competitivos.
De resto, não teme a concorrência da banca que já pode comercializar certificados de aforro porque se trata, diz, de um negócio pouco interessante face a outros de que dispõe.
Nesta entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, João Bento vaticina que o serviço postal dentro de cinco anos possa ser residual e, nessa altura, acredita que o Estado será obrigado a mudar o modelo que existe atualmente, assente na concessão do serviço postal universal. Lembra que essa decisão é do governo assim como a necessidade de manter os 2.300 postos de presença em todo o país, porque o custo para enviar uma carta será demasiado elevado.
De resto, adianta que os CTT não pretendem reduzir a rede de distribuição que existe atualmente porque apesar do contrato também não o permitir, estão confortáveis com os postos angariados e que passaram a ser rentabilizados com o canalizar de novas funções.
Sobre os indicadores de qualidade que são obrigados a cumprir enquanto concessionários do serviço postal, os CTT acreditam que a nova presidente da ANACOM, juntamente com o governo, apresente uma proposta que vá ao encontro da realidade do mercado e compatível com a sustentabilidade económica.
Entrevista de Rosário Lira (Antena 1) e de Hugo Neutel (Jornal de Negócios)