Guerra, inflação, crise petrolífera. Deutsche Bank alerta para risco de estagflação semelhante à dos anos 70

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Cartaz "Anti-inflação, terceiro corte de preços em mais de 500 novos produtos" supermercado nos arredores de Paris, França, 13 de setembro Sarah Meyssonnier - Reuters

Os analistas do Deutsche Bank estabeleceram, numa análise divulgada na segunda-feira, semelhanças entre a atualidade e a situação económica e instabilidade geopolítica durante a crise petrolífera da década de 1970, sobretudo depois do ataque surpresa do Hamas contra Israel que reacendeu um conflito antigo no Médio Oriente. Os especialistas temem que a economia mundial esteja perante uma repetição dos anos 70, com potenciais riscos de estagflação.

Com a escalada do atual conflito em Israel, os analistas Henry Allen e Cassidy Ainsworth-Grace, do banco alemão Deutsche Bank, com sede em Frankfurt, afirmaram que existe um “número impressionante de paralelismos” entre a década de 1970 e os nossos tempos. Nesta altura o cenário era de inflação, preços de energia elevados e guerra no Médio Oriente.

A Guerra do Yom Kippur, na década de 1970, envolvendo israelitas e árabes, em disputa pelas terras próximas ao Canal de Suez, na fronteira entre Israel e Egito, provocou um choque no preço do petróleo e uma consequente estagflação na economia mundial, devido aos embargos ao crude impostos contra os países que apoiaram Israel no conflito.

O choque petrolífero causado pela imposição do embargo ao petróleo, pela Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OAPEC), durante a Guerra do Yom Kippur, provocou, por sua vez, uma recessão económica no mundo Ocidental nos anos 70.A inflação manteve-se acima do objetivo e houve uma estagnação no desenvolvimento económico. Segundo o Deutsch Bank, foram necessários muitos anos para que os preços estabilizassem.

Cinquenta anos depois, o ataque surpresa do Hamas a Israel no fim de semana veio somar-se aos múltiplos desafios que têm marcado esta década, após a pandemia da Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, aumentando o risco de repetição dos anos 70.

“A inflação mantém-se acima do objetivo nas principais economias; nos últimos anos, assistimos a picos graves nos preços da energia; e tem havido uma crescente agitação industrial” escreveram os analistas da Deutsche Bank, segundo o jornal britânico The Guardian“No fim de semana, os ataques a Israel mostraram como o risco geopolítico pode regressar inesperadamente” alertaram.

Na segunda-feira os preços do petróleo dispararam mais de 4 por cento, após o grupo islâmico Hamas ter lançado um ataque surpresa contra Israel, o que aumentou a preocupação sobre o impacto do conflito no Médio Oriente na oferta do crude.

Além disso, segundo a nota do Deutsche Bank, “este ano estamos a assistir a um fenómeno El Niño, que faz lembrar um fenómeno semelhante no início da década de 1970, que pressionou os preços dos alimentos para cima".

A inflação ainda está acima dos seus níveis pré-pandemia e dos objetivos traçados pelos bancos centrais em todos os países do G7 – EUA, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido. 

De acordo com as previsões económicas mundiais, divulgadas esta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação continua “desconfortavelmente elevada” e a economia mundial está a abrandar, segundo as quais o crescimento global deverá abrandar "de 3,5% em 2022 para 3% em 2023 e 2,9% em 2024”."Um novo pico inflacionista poderia muito bem levar as expectativas a perderem a estabilidade", afirmam os analistas da Deutsche Bank.

A imprevisibilidade sobre durante quanto tempo permanecerá elevada é uma das questões mais importantes que os mercados financeiros enfrentam, pelo que os especialistas da Deutsche Bank defendem que existem razões “muitos fortes” para ser cauteloso e evitar a “complacência da sua trajetória” conta o jornal The Guardian.

No World Economic Outlook,  publicado esta terça-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI), alertou para o facto da recuperação global da pandemia da Covid-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia continuar lenta e desigual e previu que o crescimento económico mundial desacelere este ano para 3 por cento.
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