Com a iminência de uma greve dos motoristas de matérias perigosas, apenas os sindicatos compareceram no Ministério das Infraestruturas. Em cima da mesa está uma nova proposta salarial, que a ANTRAM classifica de “farsa”. Para negociarem os patrões, exigem que sejam retirados quer a proposta, quer o pré-aviso de greve.
Em cima da mesa está uma nova proposta salarial que não está a colher simpatia por parte da ANTRAM, razão apresentada pelos transportadores para não se sentarem a esta mesa negocial. Os patrões falam de uma “farsa”, uma proposta insustentável para o sector, muito superior ao que foi negociado depois da greve da Páscoa.
Por outro lado, a ANTRAM rejeita o clima de pressão e reitera que apenas aceita novas negociações se for retirado o pré-aviso de greve dos sindicatos.
Motoristas querem mexer no salário-base
As reivindicações dos motoristas de matérias perigosas passam sobretudo por um aumento salarial, em especial do salário base. Os sindicatos sublinham que depois da greve de Abril ficou negociado o aumento do salário base para 900 euros em 2022, sendo que a ANTRAM afirma apenas se comprometer com 700 euros em 2020.
Perante a recusa, o sindicato dos motoristas apresentou nova proposta onde estaria incluído um aumento gradual do salário-base até aos 1000 euros em 2025, com a indexação ao crescimento do salário mínimo nacional, o que – nas palavras do representante dos motoristas – “permite um prazo mais dilatado, para que as empresas possam cumprir com aquilo que foi estabelecido no Contrato Coletivo de Trabalho (CCT), para que haja a paz social que o país necessita”.
Perante o que considera “uma farsa”, a ANTRAM acabaria por recusar novas negociações com a federação de sindicatos e fez saber que apenas regressa à mesa se os motoristas aceitarem retirar o pré-aviso de greve, visto pelos patrões como um condicionamento insustentável da negociação.
A nova proposta aumenta o valor a pagar aos motoristas, mas aumenta igualmente o tempo de adaptação das empresas a esse salário. A ANTRAM considera, no entanto, que se trata de uma proposta insustentável, insistindo que o esforço negocial dos sindicatos não passa de uma farsa.
A reunião dos patrões com o Governo, sucessivamente adiada para a parte da tarde, primeiro, e para o final da parte, depois, acabou por ser desmarcada e reagendada para esta terça-feira.
Se o Governo não conseguir trazer novamente os patrões à mesa das negociações, como prometeu tentar, segundo o sindicalista Anacleto Rodrigues, então a última palavra sobre a consumação da greve caberá a um plenário de motoristas que está marcado para 10 de agosto - dois dias antes da data agendada para o início da greve.
Diferendo entre patrões e motoristas
Em plena semana da Páscoa, o país, cidadãos e Governo foram este ano confrontados com um conflito laboral até aí adormecido. Após 22 anos quase sem alterações nas condições de trabalho e salários, em setembro de 2018 os sindicatos dos motoristas de transportes rodoviários, com a FECTRANS à cabeça, tinham assinado um acordo coletivo de trabalho. Mas os motoristas de transporte de matérias perigosas não ficaram satisfeitos e formaram um sindicato independente. É essa estrutura que convoca a greve de abril.
No meio de filas intermináveis para abastecimento de combustível, foi então anunciado um acordo que pôs fim à greve. O sindicato diz ter garantido a proposta que prevê um aumento de 100 euros por ano no salário base, até aos 900 euros em 2022, mas os patrões tem outra interpretação. A ANTRAM diz que só se comprometeu com os 700 euros para 2020 e que, a partir de 2021, o aumento ficaria indexado à subida do salário mínimo nacional.
Perante este diferendo, o sindicato avança para nova greve por tempo indeterminado, a começar em 12 de agosto. Depois de algumas reuniões sem acordo, os motoristas apresentam nova proposta, dizendo querer evitar a greve: desce para 50 euros o aumento em 2022; mas garante mais 50 euros por ano até 2025, o que dará 1000 euros de salário daqui a seis anos.
E a cada ano é ainda somado o aumento do salário mínimo nacional. Era este o cenário que estava na reunião desta segunda-feira entre sindicato e Governo.