Greve em cima da mesa. Só os motoristas se reuniram com o ministro

por RTP
Rafael Marchante, Reuters

Com a iminência de uma greve dos motoristas de matérias perigosas, apenas os sindicatos compareceram no Ministério das Infraestruturas. Em cima da mesa está uma nova proposta salarial, que a ANTRAM classifica de “farsa”. Para negociarem os patrões, exigem que sejam retirados quer a proposta, quer o pré-aviso de greve.

Durante a tarde, o Governo reuniu-se com os sindicatos de motoristas – a pedido do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias – para procurar uma solução que evite a greve agendada para 12 de Agosto, precisamente dentro de uma semana.

Em cima da mesa está uma nova proposta salarial que não está a colher simpatia por parte da ANTRAM, razão apresentada pelos transportadores para não se sentarem a esta mesa negocial. Os patrões falam de uma “farsa”, uma proposta insustentável para o sector, muito superior ao que foi negociado depois da greve da Páscoa.

Por outro lado, a ANTRAM rejeita o clima de pressão e reitera que apenas aceita novas negociações se for retirado o pré-aviso de greve dos sindicatos.
Motoristas querem mexer no salário-base

As reivindicações dos motoristas de matérias perigosas passam sobretudo por um aumento salarial, em especial do salário base. Os sindicatos sublinham que depois da greve de Abril ficou negociado o aumento do salário base para 900 euros em 2022, sendo que a ANTRAM afirma apenas se comprometer com 700 euros em 2020.

Perante a recusa, o sindicato dos motoristas apresentou nova proposta onde estaria incluído um aumento gradual do salário-base até aos 1000 euros em 2025, com a indexação ao crescimento do salário mínimo nacional, o que – nas palavras do representante dos motoristas – “permite um prazo mais dilatado, para que as empresas possam cumprir com aquilo que foi estabelecido no Contrato Coletivo de Trabalho (CCT), para que haja a paz social que o país necessita”.

Foi esta a oferta que os motoristas levaram esta tarde a Pedro Nuno Santos, que se propôs como pivot de uma discussão entre as partes. No entanto, frente ao ministro apenas se sentaram os representantes do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias e do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas, aqueles que têm na mão o poder de desconvocar a greve.

Perante o que considera “uma farsa”, a ANTRAM acabaria por recusar novas negociações com a federação de sindicatos e fez saber que apenas regressa à mesa se os motoristas aceitarem retirar o pré-aviso de greve, visto pelos patrões como um condicionamento insustentável da negociação.

A nova proposta aumenta o valor a pagar aos motoristas, mas aumenta igualmente o tempo de adaptação das empresas a esse salário. A ANTRAM considera, no entanto, que se trata de uma proposta insustentável, insistindo que o esforço negocial dos sindicatos não passa de uma farsa.

A reunião dos patrões com o Governo, sucessivamente adiada para a parte da tarde, primeiro, e para o final da parte, depois, acabou por ser desmarcada e reagendada para esta terça-feira.
Se o Governo não conseguir trazer novamente os patrões à mesa das negociações, como prometeu tentar, segundo o sindicalista Anacleto Rodrigues, então a última palavra sobre a consumação da greve caberá a um plenário de motoristas que está marcado para 10 de agosto - dois dias antes da data agendada para o início da greve.
Diferendo entre patrões e motoristas

Em plena semana da Páscoa, o país, cidadãos e Governo foram este ano confrontados com um conflito laboral até aí adormecido. Após 22 anos quase sem alterações nas condições de trabalho e salários, em setembro de 2018 os sindicatos dos motoristas de transportes rodoviários, com a FECTRANS à cabeça, tinham assinado um acordo coletivo de trabalho. Mas os motoristas de transporte de matérias perigosas não ficaram satisfeitos e formaram um sindicato independente. É essa estrutura que convoca a greve de abril.

No meio de filas intermináveis para abastecimento de combustível, foi então anunciado um acordo que pôs fim à greve. O sindicato diz ter garantido a proposta que prevê um aumento de 100 euros por ano no salário base, até aos 900 euros em 2022, mas os patrões tem outra interpretação. A ANTRAM diz que só se comprometeu com os 700 euros para 2020 e que, a partir de 2021, o aumento ficaria indexado à subida do salário mínimo nacional.

Perante este diferendo, o sindicato avança para nova greve por tempo indeterminado, a começar em 12 de agosto. Depois de algumas reuniões sem acordo, os motoristas apresentam nova proposta, dizendo querer evitar a greve: desce para 50 euros o aumento em 2022; mas garante mais 50 euros por ano até 2025, o que dará 1000 euros de salário daqui a seis anos.

E a cada ano é ainda somado o aumento do salário mínimo nacional. Era este o cenário que estava na reunião desta segunda-feira entre sindicato e Governo.
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