Grande manifestação em Bruxelas de produtores de beterraba

por Agência LUSA

Milhares de produtores de beterraba manifestam-se hoje em Bruxelas contra a proposta da Comissão Europeia para a reforma do mercado de açúcar, entre os quais alguns portugueses, que advertem para o eventual "desmantelamento do maior investimento agro-industrial do país".

De acordo com a Associação Nacional dos Produtores de Beterraba (Anprobe), representada, em pequena escala, na grande acção de protesto, a proposta poderá ter "consequências desastrosas" em Portugal, e em causa poderão estar "acima de 1.500 postos de trabalho, directos e indirectos".

A manifestação, convocada pela Confederação Internacional dos Beterrabeiros Europeus, realiza-se no mesmo dia em que o Conselho de ministros europeus de Agricultura aprecia em Bruxelas a proposta da Comissão, que contempla descidas substanciais nos preços de referência da beterraba e cana-de-açúcar, de forma a tornar o mercado de açúcar "viável".

Os valores propostos pela Comissão apontam para uma redução na ordem dos 42 por cento no preço de referência da beterraba a partir de 2007/2008 - no caso português deverá aproximar-se dos 50 por cento, dado Portugal ter dos preços mais elevados -, e 39 por cento na cana-de-açúcar, a partir de 2009/2010.

Entre cerca de 10.000 produtores de beterraba sacarina de diversos Estados-membros concentrados desde o final da manhã, e sob forte vigilância policial, nas proximidades das instituições europeias, algumas bandeiras portuguesas e uma outra da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) anunciam a presença de menos de uma dezena de portugueses, da Anprobe.

Para a associação, a proposta da Comissão de reforma da Organização Comum de Mercado do açúcar, a ser aprovada nos actuais moldes e com as ajudas propostas, significará o abandono de uma grande parte da cultura da beterraba, "com consequências desastrosas para os agricultores" e "poderá obrigar ao desmantelamento do maior investimento agro- industrial" em Portugal.

A Anprobe explica que a proposta "representará em alguns casos perdas de rendimento por parte dos produtores de beterraba portugueses na ordem dos 70 por cento".

"É insuportável", afirmou à Lusa um dos manifestantes, Fernando Costa Duarte, membro da associação, que reclama reduções "mínimas" nos preços, compensadas por ajudas maiores.

A proposta da autoria da comissária europeia com a pasta da Agricultura, a dinamarquesa Marianne Fischer Boel, já foi adoptada pela Comissão, e será agora analisada pelos ministros da Agricultura dos "25".

Em declarações à Lusa por ocasião da apresentação da proposta pela Comissão, o ministro da Agricultura português, Jaime Silva, já se manifestara "apreensivo", garantindo que Portugal se irá bater de modo a permitir a manutenção da produção no país.

Fonte diplomática indicou à Lusa que a descida "bastante gravosa" no preço do produto, a confirmar-se, levaria à "desistência de muitos produtores na União Europeia", e no caso concreto de Portugal "inviabilizaria" decerto a manutenção da única fábrica portuguesa, em Coruche.

Já a DAI, o único fabricante português de açúcar, manifestou-se convencida de que a actual proposta da Comissão Europeia para reforma do mercado do açúcar vai ser alterada, e que a produção em Portugal vai continuar.

Em comunicado divulgado no mês passado, a empresa afirmou-se "segura que, no decurso do processo negocial, será possível chegar a uma solução capaz de conciliar os objectivos da reforma com a manutenção da cultura da beterraba, e da produção de açúcar em Portugal".

Para tal, adiantou, "bastará que a redução de preços não seja tão acentuada", que os cortes de produção "sejam feitos à custa dos países produtores de excedentes e não os que sempre cumpriram os seus limites de produção, como é o caso de Portugal", e ainda "que se faça uma gestão adequada das importações a autorizar na UE".

"Pelas posições de rejeição já manifestadas por 11 dos actuais Estados-membros, incluindo Portugal, pode-se afirmar, com segurança, que a proposta da Comissão, tal como apresentada, não será aprovada", previu a DAI.

Além de Portugal, são seriamente afectados por esta proposta a Itália, a Grécia e a Irlanda, fortemente representados na manifestação de hoje.

Já em Novembro do ano passado, 10 Estados-membros - os quatro mais atingidos e ainda a Espanha, Eslovénia, Finlândia, Hungria, Letónia e Lituânia, também afectados - haviam escrito uma carta à (então recém-empossada) comissária Fischer Boel a alertar para os "efeitos devastadores" que uma reforma "radical" da organização comum de mercado do açúcar teria para milhares de trabalhadores e para a agricultura.

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