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Grande Entrevista. Centeno avisa que taxas Euribor vão subir até ao final do ano

por Joana Raposo Santos - RTP
“Para que este trajeto se confirme, nós temos que nos manter alerta do lado da política monetária, porque quaisquer desvios a esta trajetória nós não devemos acomodar” Pedro Nunes - Reuters

O governador do Banco de Portugal afirma que as taxas Euribor, referência nos empréstimos para comprar casa, vão continuar a subir até setembro e novembro, dependendo dos prazos. A partir do final do ano poderão começar a cair, embora lentamente. Sobre eventuais aumentos de salários e descidas de impostos em Portugal, Mário Centeno mostra-se cauteloso, defendendo mudanças graduais que não coloquem em risco "o curso do ciclo económico".

Na Grande Entrevista da RTP, o antigo ministro das Finanças afirmou que as últimas previsões confirmaram que a inflação está a cair e que esse processo de queda é sustentável, pelo que “vamos estar em 2025 com uma inflação que está essencialmente no nosso objetivo de dois por cento”.

“Para que este trajeto se confirme, nós temos que nos manter alerta do lado da política monetária, porque quaisquer desvios a esta trajetória nós não devemos acomodar”, explicou.

“Esta trajetória vai continuar a ser em alta. Neste momento, as Euribor – que são as taxas que constituem indexantes nos nossos créditos - vão continuar a subir” até setembro a 12 meses e até novembro a três e seis meses, adiantou na Grande Entrevista, conduzida por Vítor Gonçalves.

Os futuros indicam que, a partir destas datas, “as taxas vão começar a cair lentamente”.

Mário Centeno diz ainda que, embora possa parecer estranho para quem vê os seus indexantes a subir, “a verdade é que temos hoje níveis de taxas de juro nos quais já estivemos há relativamente pouco tempo”.

O governador do Banco de Portugal garante que manter as taxas de juro baixas durante muito tempo “não era bom para a economia”. “Temos de entender que a inflação praticamente a zero e taxas de juro negativas não são saudáveis para o desenvolvimento económico”, insistiu.
Empresas e famílias “menos endividadas do que em 2019”
Mário Centeno falou também de uma “reversão quase total dos choques nos preços da energia, nos preços da alimentação, que foram responsáveis pelas primeiras vagas de aumento de preços”.

Eliminámos todos os choques e demonstrou-se que todos esses choques foram de facto temporários. Não quer dizer que daqui a seis meses não apareça outro choque”, avisa, “mas também já aprendemos a viver com isso, porque passámos por dois choques em muito pouco tempo de enorme dimensão”, com a pandemia de covid-19 e com a guerra na Ucrânia.
Grande Entrevista na íntegra ao governador do Banco de Portugal, Mário Centeno

“Foi a melhor reação que alguma vez tivemos em Portugal a um momento de crise”, já que a reversão desses choques se sentiu nos preços ao consumidor, referiu. “Se os mercados ficarem com essa margem, seja por forma salarial, seja por forma de margem de lucro, nós todos – os portugueses, os europeus – não vamos sentir essa reversão do choque e a política monetária não vai poder pausar”.

Centeno lembra que “nós hoje temos empresas e famílias que estão menos endividadas – quando tomamos em conta as suas poupanças – do que em 2019. As crises em Portugal eram sempre feitas aumentando o endividamento, mas desta vez foi ao contrário”.
Suavização dos impostos “está a acontecer”
Questionado sobre se o Governo poderá pensar em suavizar os impostos ou aumentar mais significativamente os salários, Centeno respondeu que “a redução dos impostos deve ser vista numa lógica de transição”.

“É difícil argumentar que nós não podemos e não devemos enfrentar coletivamente o processo de redução dos impostos”, que “desde 2015 está a acontecer” de forma gradual, segundo as contas do Banco de Portugal, referiu o ex-ministro.

“Não conheço nenhum investimento nas novas gerações mais produtivo do que reduzir a dívida, em termos públicos. Não existe. E nós devemos reduzir esse fardo para o futuro, porque é aquele que nos dá maior capacidade de reagir”.

Sobre a possibilidade de um maior aumento dos salários, o governador do BdP diz que “não podemos tomar decisões que ponham em causa o curso do ciclo económico tal como ele se apresenta aos portugueses neste momento”.
“Inflação é um problema coletivo”
Quanto à subida das taxas de juro pelos bancos centrais, Mário Centeno afirmou que “a grande preocupação dos decisores políticos na área da política monetária é encontrar todos os sinais de sustentabilidade na redução da inflação”.

A inflação é um problema coletivo. Não é um problema dos bancos centrais, é um problema da sociedade, da economia, e o controlo dos preços é absolutamente essencial para a planificação a médio e longo prazo da nossas vidas”, frisou.

Questionado sobre se as medidas de combate à inflação poderão tornar-se um risco para a própria economia e ser contraproducentes, o governador diz haver “um desfasamento entre o momento em que a subida dos juros é determinada e o momento em que ele tem um efeito total nas nossas vidas”.

“E este efeito desfasado no tempo tem de ser acautelado pelos bancos centrais”, explica. “Eu não estou preocupado com os preços em outubro nem em setembro deste ano. Eu estou preocupado com os preços daqui a 18 ou 24 meses”.

Neste momento, enfrentamos “uma estagnação generalizada da economia na área do euro. A economia portuguesa, nos últimos trimestres, tem sido uma exceção que nós devemos saber valorizar”, acrescentou.
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