O grafite produzido em Moçambique, que alimenta a indústria de baterias de viaturas elétricas, atingiu até setembro apenas 11% da meta definida para todo o ano, recuando 55% face aos primeiros nove meses de 2023, segundo dados oficiais.
De acordo com dados da execução orçamental de janeiro a setembro, a que a Lusa teve hoje acesso, Moçambique produziu neste período apenas 34.899 toneladas de grafite, para um objetivo, segundo o Governo, de 329.040 toneladas em todo o ano, quando nos primeiros nove meses de 2023 essa produção tinha chegado a 77.728 toneladas.
Este desempenho em baixa resulta, segundo o documento, da "paralisação" das atividades da GK Ancuabe Graphite Mine, desde 2023, "bem como a interrupção das atividades da empresa Twigg Mining and Exploration -- subsidiária local da mineradora australiana Syrah -, devido a introdução no Mercado Internacional da grafite sintética, aliada a problemas laborais na empresa que culminaram com a paralisação das operações mineiras".
Em todo o ano de 2023, Moçambique produziu 97.346 toneladas de grafite, contra 165.932 toneladas em 2022 e 77.116 toneladas em 2021.
A Syrah queixou-se este mês dos contínuos protestos de um grupo de agricultores moçambicanos que condicionam o acesso à mina moçambicana de grafite em Balama, admitindo que os protestos pós-eleitorais no país atrasam o desfecho.
Numa informação aos mercados, de 11 de novembro, a Syrah explica que em causa estão protestos em Balama, distrito de Cabo Delgado, norte de Moçambique, junto à mina, por parte de um "pequeno grupo" de agricultores locais, com "queixas históricos de reassentamento de terras agrícolas" que continuam por resolver, "combinadas" com outros problemas.
O problema "continua a dificultar a circulação de pessoas, interrompendo o acesso ao local e impedindo atualmente o início da próxima campanha de produção", lê-se na informação da Syrah.
Acrescenta que após o anúncio dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, com protestos generalizados associados ao processo eleitoral, estão a "causar perturbações generalizadas em todo o país".
"As circunstâncias em torno destes protestos parecem estar a afetar a capacidade de resposta das autoridades e do Governo de Moçambique na resolução de ações ilegais em Balama", acrescenta.
Refere igualmente que a mina de Balama "está a operar em modo de campanha e pode suspender temporariamente a produção", também por motivos de manutenção, inventário e outros fatores, admitindo que necessita de realizar operações até dezembro para repor `stocks`.
"A empresa continua a envolver-se intensamente com as autoridades e partes interessadas do Governo de Moçambique para garantir uma resolução permanente e positiva", conclui a Syrah.
A mina de grafite de Balama, norte de Moçambique, estreou-se este ano na exportação daquele minério para um fabricante de baterias indonésio, que comprou 10 mil toneladas, anunciou em abril a mineradora australiana Syrah.
De acordo com uma informação anterior da Syrah, que detém aquela mina, tratou-se da "primeira venda de grandes volumes" de grafite natural de Balama para a Indonésia, adquirido pela empresa BTR New Energy Materials.
Segundo a Syrah, tratou-se do "primeiro grande volume de venda de grafite natural para um participante da cadeia de fornecimento de baterias fora da China".
A mineradora refere igualmente que a empresa BTR New Materials Group está a construir na Indonésia uma fábrica de baterias de 478 milhões de dólares (429 milhões de euros), "que deverá iniciar a produção em 2024", prevendo igualmente novas vendas daquela mina para a empresa.
A firma australiana está também a construir a Vidalia, Estados Unidos da América, uma fábrica de material para baterias, que será alimentada com minério moçambicano, neste caso com duas toneladas enviadas em abril do ano passado.