O conselho de administração da Gás Natural deliberou, por unanimidade, desistir da OPA lançada sobre a eléctrica Endesa, apresentada há 17 meses, considerando que existem "desigualdades" no combate com a rival alemã E.ON.
A decisão da Gás Natural, tomada na noite de quinta- feira, ocorre 24 horas antes da E.ON apresentar a nova oferta reforçada, estimada em 34,5 euros por título, para a sua OPA sobre a eléctrica espanhola.
A maior incógnita neste complexo processo de luta pelo controlo da Endesa é agora saber se a assembleia de accionistas da eléctrica conseguirá suprimir as limitações de votos dos seus Estatutos, condição a que estão subjacentes as OPA.
Na reunião de quinta-feira, o conselho de administração da Endesa optou por deixar o processo, aludindo a "desigualdade" de tratamento e citando como exemplo as maiores exigências dos reguladores ou a obrigatoriedade de vender activos.
A gasista considera, ainda, que a Endesa terá dado um tratamento favorecido à E.ON, interpondo sucessivos obstáculos à OPA da Gás Natural.
"O Conselho de Administração da Endesa entorpeceu a oferta da Gas Natural por todos os meios ao seu alcance, até ao ponto de dar instruções precisas e incentivos económicos concretos e directos aos seus assessores para acabar com a oferta da Gás Natural", refere a empresa, em comunicado.
A Gas Natural acusa mesmo a E.ON de dispor de informação privilegiada da Endesa, afirmando que "houve concertação entre as duas empresas", um aspecto alvo de uma queixa judicial em curso.
O processo criou elevada tensão política e económica em Espanha e ao nível da União Europeia, suscitando dezenas de processos judiciais que envolvem as empresas, o Governo e os reguladores e que ainda estão em curso.
Apesar da decisão da Gas Natural, a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) já fez saber que a E.ON está obrigada a apresentar hoje, em envelope fechado, a sua oferta melhorada pela Endesa.
O grupo alemão comprometeu-se em Setembro a elevar a sua oferta para, pelo menos, 34,5 euros por título, um compromisso registado no prospecto da OPA.
A decisão da Gas Natural levou a oposição do Partido Popular a considerar, através do seu porta-voz de Economia, Vicente Martínez-Pujalte, que a saída da gasista é "o fracasso da OPA do governo".
Inmaculada Rodríguez-Piñero, secretária de Economia do PSOE, no governo, reagiu ao comentário afirmando que se tratou de uma decisão "puramente empresarial" e acusando o PP de "tentar politizar o assunto para causar danos ao governo".
A saída da Gas Natural da luta pela Endesa pode não por fim à tensão no sector eléctrico podendo a oferta da E.ON não ser aceite pelos accionistas da empresa se ficar aquém da sua actual cotação em bolsa.
Isso deixaria, segundo analistas citados pela imprensa espanhola, a Caja Madrid - segundo accionista da Endesa - numa situação mais frágil podendo não conseguir capitalizar nas mais valias com que contava pela eventual venda da sua participação.