Família Quandt promete esclarecer passado nazi da poderosa dinastia industrial

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A família Quandt, uma das principais dinastias industriais da Alemanha, acedeu em investigar o seu passado, na sequência de um documentário da televisão pública ARD sobre a colaboração do patriarca Guenther Quandt com o regime nazi.

Os autores, Eric Friedler e Barbara Siebert, pesquisaram durante cinco anos o envolvimento de Guenter Quandt com a ditadura hitleriana, e o resultado do seu trabalho foi exibido na ARD, na semana passada, com o título "O Silêncio dos Quandt".

Depois de terem visto o filme, Sussane Klatten, Gabriel Quant-Langenscheidt, Sven Quandt e Stefan Quandt, os herdeiros da dinastia, que detém 46,6 por cento das acções da BMW e avultadas participações noutras grandes empresas, publicaram um comunicado a quebrar um tabu de longos anos, dizendo que pretendem agora contribuir para esclarecer o papel da família durante o nazismo.

No documentário surgem, por exemplo, ex-prisioneiros dos nazis que foram forçados a trabalhar na fábrica de acumuladores para submarinos de Guenther Quandt, perto de Hannover, a descrever as desumanas condições que causaram a morte a muitos dos seus companheiros.

Um ex-prisioneiro norueguês contou à reportagem da ARD como eram expostos aos vapores de metais pesados, sem qualquer protecção, como eram chicoteados pelos guardas das SS, que quando as vítimas tinham sede as obrigavam a beber a urina que corria nos lavabos.

"Reconhecemos que o período entre 1933 e 1945 na história da nossa família de empresários não está suficientemente esclarecido, e queremos lidar com esta parte da nossa história de forma aberta e responsável", diz-se no comunicado dos Quandt.

Um historiador contratado pela família irá investigar o passado dos Quandt, com base em critérios exclusivamente científicos, adiantaram ainda os herdeiros.

Para o efeito, os Quandt abrirão os arquivos da família, e comprometem-se a publicar os resultados do estudo.

Dois anos antes de eclodir a II Guerra Mundial, em 1937, Guenther Quandt, que antes tinha sido casado com Magda Ritschel, mais tarde mulher do ministro da propaganda do III Reich, Joseph Goebbells, foi supervisor económico do exército hitleriano.

Logo após o início da II Guerra Mundial, em 1939, passou a ser director-geral da "Reichswolle AG", grande empresa têxtil que era a principal fornecedora de fardamentos ao Exército nazi.

Segundo as pesquisas mais recentes, Guenther Quandt fundou e ampliou depois a fábrica de acumuladores AFA (posteriormente Varta), que trabalhava para a indústria armamentista, graças ao recurso a trabalho escravo.

Depois da II Guerra Mundial, e durante os processos de desnazificação, Guenther Quandt foi considerado pelos aliados "mero simpatizante" nazi, escapando assim ao julgamento das figuras gradas do regime de Adolf Hitler, em Nuremberga.

Poucas semanas depois da capitulação da Alemanha, ainda em 1945, Guenther Quandt já tinha obtido para a AFA um dos primeiros alvarás emitidos pela administração britânica, passando rapidamente a desempenhar papel de relevo entre os industriais alemães do pós-guerra.

Guenther Quandt morreu em 1954, durante umas férias no Cairo, e os seus dois filhos, Herbert e o meio-irmão Harald, passaram a gerir o império industrial que o pai já tinha erguido, e Herbert adquiriu mais tarde importantes participações na BMW e na Mercedes-Benz.

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