Ex-trabalhadores da Bombardier esperam reintegração três anos após fecho da fábrica da Amadora

por © 2004 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A desactivação da fábrica de material ferroviário da Bombardier na Amadora, a 25 de Maio de 2004, deixou 50 funcionários despedidos colectivamente à espera de reintegração, mas três anos depois apenas 20 estão a trabalhar.

Dos cerca de 400 profissionais afectados pelo encerramento da produção de material circulante nas instalações da Bombardier Portugal, antiga Sorefame, 50 recusaram a rescisão por mútuo acordo com a multinacional canadiana.

A esta meia centena, envolvida num processo de despedimento colectivo que gerou várias manifestações, o governo prometeu em Junho, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, a reintegração em empresas públicas como a Comboios de Portugal (CP), a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) e a Rede Ferroviária Nacional (REFER), uma solução que não chegou, até hoje, a 30 dos ex-trabalhadores, cujos subsídios de desemprego cessam em Agosto.

É o caso de José Pereira, serralheiro na fábrica da Amadora durante 31 anos, que se diz desiludido com o "abandono" a que a situação foi votada.

"Nós ajudámos a construir aquilo, custa ver tudo destruído e não acredito que volte a abrir. Disseram-nos sempre que iam reintegrar os que faltavam, mas quantos anos mais vamos ter de esperar", questionou, admitindo não ter ainda planos profissionais concretos para depois do Verão, altura em que "a vida vai ficar mais complicada".

"Esta situação arrastou-me para a reforma. Ficámos à espera da promessa do governo, mas a única promessa que os políticos cumprem é a de aumentar impostos", afirma, por seu turno, o antigo técnico industrial Orlando Coelho, 60 anos e mais de metade dedicados à construção de comboios.

Orlando não acredita na reintegração dos ex-colegas, sobretudo se a hipótese for voltar a trabalhar nos terrenos onde funcionava a fábrica de material circulante, uma vez que as linhas de montagem não estão incluídas na única parcela vendida até ao momento, à EMEF.

A opinião é partilhada por António Tremoço, do Sindicato dos Metalúrgicos, para quem o processo já se arrastou demasiado.

"Se as linhas de montagem vão ser destruídas, não percebo onde vamos trabalhar. Falaram num centro de inovação ferroviária [anunciado pelo ministro dos Transportes, Mário Lino, em 2006], mas mantemos a esperança e continuamos à espera" explica o sindicalista.

A Lusa contactou a EMEF para conhecer as suas intenções quanto à reutilização dos terrenos da Bombardier, mas não obteve, desde Abril, qualquer resposta.

Hoje, fonte da Câmara da Amadora afirmou que parte do terreno vai acolher a linha do futuro metro de superfície entre a Amadora e Odivelas, escusando-se a referir se a parcela em questão é a mesma vendida à EMEF ou se inclui estruturas de fabrico.


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