Estudos confirmam que quem trabalha menos recebe mais

por RTP
Numa sociedade em que se vende o tempo de descanso para sobreviver, o sacrifício parece não valer a pena Navesh Chitrakar - Reuters

O excesso de trabalho não contribui necessariamente para a produtividade laboral. É o que sugere um par de estudos norte-americanos, que veem consubstanciar a ideia de que fazer mais horas não implica ganhar mais. Empresas de diferentes países já começaram a adotar medidas para impedir a sobrecarga.

Trabalhar mais não implica maiores rendimentos. Numa sociedade de trabalho assalariado, em que se vende o tempo de descanso para sobreviver, pondo-o ao dispor de outros na esperança de uma recompensa, o sacrifício parece não valer a pena.

Efetivamente, lê-se na BBC, o excesso de horas de trabalho, muitas vezes sem remuneração, não implica maior produtividade. Fica também demonstrado que trabalhar mais horas pode ser prejudicial para a saúde e a nível profissional, ameaçando mesmo a produtividade global do empregador.
 
Um estudo realizado pela Universidade de Stanford concluiu que a produção do trabalhador começa a declinar após 50 horas semanais e decresce acentuadamente depois de acumular 56 horas. Já a partir das 70 horas o profissional deixa de ter qualquer tipo de rendimento.
 
Perante esta realidade, algumas empresas já começaram a tomar medidas de forma a prevenir situações de esgotamento. É o caso da Toyota, que não permite que os seus funcionários trabalhem mais de uma hora extra por dia.
 
Na Alemanha, entretanto, grandes empresas como a BMW e a Volkswagen limitaram os e-mails dos funcionários depois do horário laboral, combatendo assim uma crescente cultura de excessiva conectividade.

No caso específico de Portugal, os funcionários cumprem cerca de 40 horas semanais. Comparativamente aos restantes países europeus trabalha-se horas de mais, o que pode comprometer as relações familiares, assim como a saúde.
Mais pode ser menos

Outro estudo também com origem nos Estados Unidos - projeto Time Off - mostrou igualmente que as horas extras não são proporcionais ao rendimento. A recompensa monetária deixou assim de ser uma boa razão para continuar a trabalhar horas a mais.
 
“As pessoas que folgam mais - 11 dias ou mais - são mais propensas a obter um aumento ou bónus do que as pessoas que têm dez ou menos dias de descanso”, conclui Katie Denis, responsável pelo estudo.

Trabalhar horas extras sem qualquer tipo de remuneração é a realidade atual de alguns funcionários sujeitos a condições precárias. No entanto, estes “mártires” têm menos probabilidade de receber um bónus ou mostrar maior produtividade, de acordo com o projeto Time Off.

Laura Vanderkam, especialista em gestão de tempo, considera que muitos profissionais não estão dispostos ou têm medo de quebrar o ritmo laboral diário, com receio de represálias ou de não serem vistos como trabalhadores duros e eficientes. Em alguns casos, o empregado chega mesmo a sabotar a própria produtividade.
O facto é que o excesso de trabalho tem vindo mostrar-se uma via pouco eficiente.
A ilusão de uma recompensa

Stuart Nomimizu, um assalariado britânico a trabalhar em Tóquio, surpreendeu familiares e amigos num vídeo em que expunha a sua rotina diária durante uma semana.
 
O vídeo tornou-se viral no YouTube e conta já com mais de um milhão de visualizações.



Este salaryman, como os japoneses designam os executivos de baixo escalão, retrata uma semana agitada em 2015, durante a temporada mais movimentada do sector financeiro - de janeiro a março.

Nomimizu gravou 78 horas de trabalho e 35 de sono entre segunda e sábado - antes de trabalhar mais seis horas naquele domingo, que não foi registado no vídeo.
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