No último ano, 12% das organizações de economia social encerraram, segundo um estudo nacional que alerta que os encerramentos poderão duplicar nos próximos meses, assim como aumentam as dificuldades em pagar salários e manter trabalhadores.
Desde março do ano passado, quando foram registados os primeiros casos de infeção de covid-19 em Portugal, 12% das organizações sem fins lucrativos tiveram de fechar portas, um problema que afetou mais fortemente as instituições ligadas às "artes, cultura, desporto, educação e juventude", revela o estudo "Economia Social em Portugal no contexto da Covid-19 -- 2.º edição".
A capacidade das OES para continuar a prestar serviços "diminuiu consideravelmente", segundo o trabalho realizado por investigadores dos institutos politécnicos de Setúbal e de Portalegre, no qual participaram 944 organizações.
Assim, 12% (114 organizações) deixaram de realizar qualquer atividade e, entre as que se mantiveram no ativo, mais de metade (54%) teve uma "redução drástica ou moderada de atividade", segundo informação avançada hoje pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP).
Apenas 34% (323 organizações) conseguiram adaptar-se e ter recursos para continuar a prestar apoio: neste grupo, metade manteve as respostas que dava antes da pandemia e a outra metade conseguiu mesmo aumentar as ajudas.
Se a maioria das OES confirma que tem condições financeiras para honrar os compromissos e manter atividade nos próximos três meses, existem 11% que ponderam encerrar atividade, uma vez que não são sustentáveis.
Uma em três instituições em risco de fechar (34%) são Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), segundo o estudo baseado em inquéritos online realizados entre 9 de fevereiro e 25 de março.
Durante a pandemia, metade das OES recorreu a apoios públicos ou de outras entidades para tentar repor ou aumentar os recursos para a sua atividade, mas também houve um esforço em reduzir custos, através de medidas como a diminuição de despesas não essenciais ou o encerramento de serviços e gastos com pessoal, como o `lay-off`.
No que respeita a recursos humanos, a maioria das instituições tem até dez voluntários, sendo que as OES com grande dimensão de mão de obra tem o seu enfoque em trabalhadores pagos.
No entanto, quase um quinto (19%) confirma que não terá condições para manter os seus trabalhadores e 20% não irão conseguir pagar por completo as remunerações devidas, refere o estudo hoje divulgado.
As OES sem estatuto de IPSS são as que estão a atravessar "maiores dificuldades financeiras para pagar as remunerações e manter postos de trabalho".
Até ao momento, o encerramento de algumas OES já teve como efeito uma diminuição de pessoas ajudadas, em especial aquelas que davam apoio aos idosos, mas também na área da educação, desporto, artes e cultura.
A maioria das instituições inquiridas (58%) acredita que estas pessoas que deixaram de receber apoio estão a passar dificuldades, sendo os idosos o grupo mais afetado, até porque acabaram os convívios e as ocupações ativas que "contribuam para a sua saúde física e mental, a par da solidão decorrente do facto de viverem sozinhos".
As crianças e jovens surgem de seguida, sendo apontada a falta de contacto com outras crianças devido ao encerramento das escolas e a vivência de crianças e jovens em contextos familiares de violência.
As conclusões hoje divulgadas fazem parte do trabalho de investigação "Economia Social em Portugal no contexto da covid-19", iniciado em maio de 2020 junto das organizações da economia social.
Esta segunda fase do estudo, hoje divulgada, assenta no lançamento do 2.º inquérito `online` realizado durante o período do segundo confinamento decretado pelo Governo, ou seja, entre 9 de fevereiro e 25 de março deste ano.