Os empresários moçambicanos alertaram hoje para o cancelamento de reservas e redução "da confiança" dos turistas em consequência dos sete dias de paralisações e manifestações anteriormente convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
"Esta situação das manifestações é má para o país, para a economia e para o turismo em especial, porque as reservas estão a ser canceladas por completo, o índice de confiança dos turistas fica afetado", declarou o responsável pelo pelouro da Hotelaria, Restauração e Turismo da Confederação das Associações Económicas (CTA), Muhammad Abdullah.
Em declarações à Lusa, o responsável do setor privado avançou que "é prematuro" falar dos números referentes aos prejuízos em face das manifestações, mas adiantou que será necessário um trabalho de marketing para recuperar a confiança dos turistas.
"No caso do turismo, é o índice de confiança do turista que baixa e isso permanece durante algum tempo até a estabilidade se fazer sentir e esta informação dar efeitos além-fronteira. Só depois é que eles retomam a preferência pela vinda a Moçambique", alertou Muhammad Abdullah.
Antes das paralisações e manifestações durante sete dias, Venâncio Mondlane convocou anteriormente marchas realizadas em 21, 24 e 25 de outubro, em que os empresários moçambicanos estimaram em 30 de outubro prejuízos de 3.000 milhões de meticais (43,2 milhões de euros), assumindo que a destruição e saques deixaram 1.200 desempregados.
"Tivemos sabotagens, vandalizações, arrombamento de estabelecimentos privados e comerciais e até produtivas (...) cerca de 33", que provocaram "perdas financeiras estimadas em cerca de 3.000 milhões de meticais. Portanto, o nível de vandalização de estabelecimentos é de tal forma que não poderão voltar a operar", assumiu Agostinho Vuma, presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, desencadeou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, que não tem prazos para esse efeito e ainda está a analisar o contencioso.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de outubro, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo na quinta-feira, 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia, para dispersar.
Venâncio Mondlane anunciou na quinta-feira que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral.
Pelo menos três pessoas foram mortas e 66 ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira, oitavo dia das greves convocadas por Venâncio Mondlane, anunciou o Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade sanitária do país.
"Em todas as nossas portas de entrada tivemos um cumulativo de 138 admitidos, dos quais a urgência de adultos teve 101 pacientes. Dos 101 pacientes, 66 foram vítimas dessas manifestações e os restantes foram por outras causas", disse o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, Dino Lopes.