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Economia portuguesa cresce 1,8% em 2023 e 2% nos dois anos seguintes

por Graça Andrade Ramos - RTP
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal DR

A previsão do Banco de Portugal apresentada esta sexta-feira aponta tendência de crescimento da economia portuguesa ao longo dos próximos meses e nos dois anos seguintes, à boleia de poupanças e do rendimento disponível das famílias e de uma balança externa favorável. Mas o regulador deixa alertas.

No seu boletim económico de março, divulgado esta sexta-feira, o BdP antecipou que o desenvolvimento vá ser de "1,8 por cento em 2023 e de dois por cento em 2024 e 2025". Já a inflação irá situa-se nos 5,5 por cento este ano diminuindo até 2025 para os 2,1 por cento, como referiu o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, na apresentação do relatório.
Na sua apresentação Mário Centeno referiu ainda que o mercado de trabalho em Portugal mostrou ser "resiliente" e que "nunca tivemos tanto emprego".

Também o rendimento real das famílias aumentou o que levou o responsável a considerar que "estamos no segundo melhor ano, em termos de ciclo económico, deste século", apesar "dos desafios" que reconhece.

O governador deixou ainda alguns recados para que seja possível manter o atual cenário de recuperação, possibilitado também em termos internacionais pela descida dos preços das matérias primas e pela valorização do euro.

Será necessário, explicou, coordenar bem todas as variáveis para que o ciclo se mantenha de acordo com as projeções, de forma a controlar a inflação. Advertiu nomeadamente que os salários não deverão "crescer acima da produtividade" e que as margens de lucro deverão ser "acomodadas". Subir ambos seria "míope", afirmou.

"É um problema de coordenação e de credibilidade da política monetária, que existe hoje”, reconheceu Mário Centeno.
Recessão "afastada"
Um dos maiores riscos será o de controlar a inflação.

O impacto inflacionista antecipa-se atualmente em descida gradual, de 5,5 por cento em 2023, acima dos quatro por cento previstos pelo Governo, "diminuindo para 3,2 por cento em 2024 e 2,1 por cento em 2025" de acordo com as previsões.

"Nos próximos trimestres, esta trajetória de redução assentará na evolução dos preços dos bens energéticos e alimentares, mas deverá generalizar-se posteriormente, num contexto de normalização da política monetária" referiu o relatório do Banco de Portugal.

"A redução da inflação este ano é mais expressiva do que o projetado em dezembro, traduzindo o ajustamento nos mercados energéticos. As projeções para 2024-25 permanecem praticamente inalteradas" acrescenta.

Mário Centeno salientou que este processo inflacionista "tem vindo a regularizar-se", referindo indicadores de março que comprovam o afastamento de um cenário de recessão nas economias europeias. "Boas notícias", saudou, explicando a origem do crescimento agora esperado com um regresso a "tendências" pré-pandemia.

Depois de um ciclo de "empobrecimento" económico, com o qual "vamos viver vários anos", o governador do BdP admite agora um novo ciclo de crescimento "ligeiro" e "gradual".

O relatório do BdP resumiu que "a evolução crescente da atividade beneficia da redução esperada da incerteza, do maior crescimento do rendimento real das famílias e do recebimento de fundos europeus", advertindo que ela "será condicionada pelo ambiente financeiro mais restritivo".

Também por isso a "projeção para o crescimento do PIB em 2023 é revista em alta", face a dezembro de 2022, quando apontava para um crescimento de 1,5 por cento, e fica também acima da previsão de 1,3 por cento do Governo - que poderá ser atualizada no Programa de Estabilidade em abril.

A nova projeção reflete "uma evolução mais favorável das exportações de turismo e, em menor grau, do consumo privado", explicou o BdP, prevendo um crescimento do rendimento das famílias de 7,4 por cento.
Setor público é que se "endividou"
O governador do Banco de Portugal sublinhou ainda esta tarde que as poupanças dos portugueses durante o período de pandemia se revelaram cruciais para o novo cenário de crescimento, notando a "capacidade do rendimento das famílias em Portugal de resistir quer à inflação quer à desacelaração" económica prevista para 23-25.

Em 2022, registou-se nomeadamente "um aumento de certificado e títulos do tesouro de 4,6 mil milhões de euros por parte dos particulares", referiu Centeno, notando que "ainda assim os depósitos dos particulares aumentaram em 9.400 milhões de euros".

Resultados que atribuiu à "formação do rendimento disponível das das famílias, em particular a evolução salarial" e aos "apoios públicos" e explicando que foi "o setor público que se endividou".

Também o equilíbrio da balança externa é "boa notícia" para a economia portuguesa, referiu Mário Centeno.
 
Outro bom sinal referido por Mário Centeno foi a resiliência do mercado de trabalho em Portugal revelando o governador do BdP que a nível de novas contratações foram retomados "valores pré-pandémicos".

Por estas razões, o BdP antecipou que o emprego, “deverá manter-se elevado" que se e projetam "ganhos do salário médio real". "A taxa de desemprego aumenta para sete por cento em 2023, reduzindo-se nos anos seguintes, para se fixar em 6,7 por cento em 2025” previu o regulador.
Preços aumentaram 19% nem ano
No boletim de março apresentado esta sexta-feira, o regulador prevê ainda que o ritmo de aceleração de preços, apesar de diminuir face ao ano passado, seja mais elevado este ano do que esperava em dezembro.

O BdP projeta que o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) se reduza de 8,1 por cento em 2022 para 5,5 por cento em 2023, caindo para 3,2 por cento em 2024 e para 2,1 por cento em 2025.

O BdP prevê ainda que o IPHC excluindo bens energéticos alcance uma taxa de 6,7 por cento este ano, de 3,2 por cento em 2024 e de 2,4 por cento em 2025.

O regulador salienta ainda que "a moderação no aumento dos preços dos outros bens e serviços será mais lenta, devido a efeitos desfasados dos preços dos bens energéticos, à recuperação das margens de lucro e ao crescimento dos salários".

"A persistência dos aumentos fortes de preços na área do euro, em particular nas componentes com preços menos voláteis, tem alimentado expetativas de uma política monetária mais restritiva ao longo do horizonte de projeção", refere.

O BdP alerta, contudo, que, "não obstante a redução da inflação total, a taxa de variação homóloga dos preços dos bens alimentares continuou a aumentar, situando-se em 19,0 por cento em fevereiro de 2023".

Exemplifica que, por componentes, a variação homóloga dos preços dos bens alimentares não processados situou-se em 21,8 por cento e a dos bens transformados em 17,9 por cento, atingindo máximos em ambos os casos.
Consumo e investimento a crescer
Em 2023, o BdP espera que o consumo privado cresça 0,3 por cento, "enquadrado pelo crescimento contido do rendimento disponível real e pela recuperação da taxa de poupança".

Também "o abrandamento dos preços e a evolução dos salários contribuem para um maior crescimento do rendimento disponível real em 2024-25", refere o boletim, admitindo que isso irá permitir "um aumento do consumo privado de 1,2 por cento, em média, a par de uma recuperação da taxa de poupança para um valor próximo do observado antes da pandemia".

O investimento em 2023 deverá crescer 2,3 por cento, "condicionado pela subida dos custos de financiamento”. Nos dois anos seguintes, à boleia dos fundos europeus em particular os associados ao Plano de Recuperação e Resiliência, deverá acelerar “para 4,7 por cento, em média”.

Por outro lado, o BdP salienta o "dinamismo das exportações de serviços" e prevê um crescimento das exportações totais "acima da procura externa no horizonte de projeção (4,1 por cento face a 2,9%, respetivamente, em média, em 2023-25)".

"A balança corrente e de capital deverão voltar a registar excedentes, ultrapassando dois por cento do PIB, em média, e refletindo, em larga medida, a melhoria do saldo de bens e serviços” explica o regulador.

A projeção antecipa "riscos globalmente em baixa para a atividade e em alta para a inflação”.

A "normalização da política monetária, o aumento das fricções nos mercados financeiros e o escalar do conflito na Ucrânia” constituem para o BdP os principais riscos para a atividade.

Já "as recentes tensões nos mercados financeiros implicam riscos adicionais de magnitude incerta", adverte e, na inflação, "o principal risco advém de pressões internas, via salários e margens das empresas e de políticas orçamentais que estimulem a procura".

Com Lusa
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