Durão Barroso atira controlo da notação financeira para o outono
O presidente da Comissão Europeia remete para o outono o anúncio de propostas de regulação das agências de rating, mas ressalva que ao “sobressalto patriótico” perante a última avaliação da Moody’s deve seguir-se “a determinação para levar a cabo as reformas necessárias”. Em entrevista à RTP, Durão Barroso sublinhou que “os problemas da Zona Euro” resultam “do facto de muitos países viverem acima das suas possibilidades”.
Na perspetiva do comissário europeu para os Mercados Financeiros, o reforço das regras a aplicar às agências de notação financeira pode passar por uma interdição das avaliações de países que estejam a ser assistidos por programas de resgate. Michel Barnier adiantava ontem, em Paris, que era sua “intenção pedir à presidência polaca da União Europeia para colocar este assunto na agenda do próximo Ecofin”, o fórum que reúne os ministros das Finanças da UE.
Viviane Reding, a responsável pela Justiça no Executivo comunitário, foi mais além, ao sugerir, em declarações ao jornal alemão Die Welt, o desmantelamento das agências Standard & Poors, Moody’s e Fitch: “Só vejo duas soluções, ou os Estados do G20 decidem desmantelar o cartel das três agências de rating norte-americanas e de três agências fazerem seis, por exemplo, ou criar agências de rating independentes na Europa e na Ásia”.
Por agora, o presidente da Comissão Europeia fica-se pela garantia de que Bruxelas está apostada em “regular as agências de notação”. Na entrevista da noite de segunda-feira à RTP, Durão Barroso assegurou que haverá “propostas legislativas concretas” no outono. “Estamos agora a concluir a análise de impacto”, afirmou o responsável, lembrando que em 2008 a Comissão “consultou os Estados-membros” sobre a “hipótese de regular de maneira mais efetiva” as casas de rating. Uma solução que foi recusada, à luz do argumento de que poderia ser vista como “um ataque aos mercados”.
“Determinação” após “sobressalto patriótico”
Na semana passada, a Moody's procedeu a uma redução em quatro níveis do rating de Portugal, de Baa1 para Ba2. A dívida soberana do país passou, assim, para a categoria de “lixo”. Durão mostra-se satisfeito com “a indignação contra a agência de notação”. Mas faz uma ressalva: é preciso atacar “problemas” subjacentes à atuação das agências.Juros mais baixos
Na reunião de segunda-feira, os ministros das Finanças dos países da moeda única declararam-se “completamente decididos” a adotar medidas para travar o contágio da crise da dívida a países como a Espanha e Itália. Mas não ficou estabelecido qualquer calendário.
As propostas, indicou o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, vão ser conhecidas “muito em breve”. O compromisso passa por “melhorar a flexibilidade e o âmbito do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, aumentar as maturidades dos empréstimos e baixar as taxas de juro”.
Quanto à Grécia, está em análise a possibilidade de uma redução da taxa de juro no quadro do empréstimo concedido pelo Fundo Monetário Internacional e pela União Europeia. Um grupo de trabalho vai “explorar as modalidades de financiamento de um programa de ajustamento multianual”.
“Eu espero é que agora haja, depois deste sobressalto patriótico, deste sobressalto de orgulho, a determinação para levar a cabo as reformas que são necessárias para o país, porque os problemas estão lá antes de as agências se pronunciarem. Os problemas da Zona Euro vêm do facto de muitos países viverem acima das suas possibilidades com dívidas que, se não forem corrigidas, se tornarão insustentáveis”, frisou o presidente da Comissão Europeia.
Reconhecendo que Portugal é hoje “um dos casos difíceis”, Durão Barroso procurou atestar que a União Europeia está a envidar esforços para se libertar do terramoto das dívidas soberanas.
“Há também problemas na resposta de conjunto. A verdade é que se tem vindo a dar uma resposta. Há dois anos, algumas destas respostas seriam pura e simplesmente impensáveis, não existiam os instrumentos”, apontou.
“Há um ano criou-se um investimento de 500 mil milhões de euros. Parte desse financiamento está aliás, agora, ao dispor de Portugal. Hoje mesmo todos os ministros da Zona Euro assinaram a criação de um instrumento permanente, um fundo de estabilidade financeira permanente também de 500 mil milhões de euros”, acrescentou Durão, aludindo à reunião do Eurogrupo.
“Avançou-se na governação económica, criaram-se autoridades de supervisão a nível europeu. Muito foi feito. Mas a verdade é que é a primeira vez que temos este tipo de problemas, problemas de dívida soberana no âmbito de uma mesma União Económica e Monetária”, contrapôs.
Nacionalização do BPN “foi um erro completo”
Na entrevista à jornalista Fátima Campos Ferreira, Durão Barroso falou também do Banco Português de Negócios, afirmando tratar-se de um caso “que é completamente à parte do resto do sistema financeiro”. Para o presidente da Comissão Europeia, a nacionalização do BPN “foi um erro completo”, uma vez que, na sua opinião, não havia risco de contágio financeiro.
“Não percebo porque é que foi feita a nacionalização. O caso BPN, a meu ver, era um caso específico que podia ter sido tratado de outra maneira. Mas essa é uma questão secundária, pela dimensão do banco”, sustentou.
Numa leitura do momento político, o antigo primeiro-ministro disse ter “toda a confiança em Portugal”. No entanto, alertou que os próximos tempos vão ser de dificuldades.
“Eu acho que o país tem condições políticas boas para fazer muito daquilo que foi adiado ao longo dos tempos, corrigir problemas graves, de desequilíbrios, o desequilíbrio orçamental, o desequilíbrio da dívida quer pública, quer privada, o desequilíbrio externo, que é um problema essencial. Mas temos quer ser absolutamente honestos. Em Portugal, é de prever pelo menos dois anos de crescimento negativo”, concluiu.
Viviane Reding, a responsável pela Justiça no Executivo comunitário, foi mais além, ao sugerir, em declarações ao jornal alemão Die Welt, o desmantelamento das agências Standard & Poors, Moody’s e Fitch: “Só vejo duas soluções, ou os Estados do G20 decidem desmantelar o cartel das três agências de rating norte-americanas e de três agências fazerem seis, por exemplo, ou criar agências de rating independentes na Europa e na Ásia”.
Por agora, o presidente da Comissão Europeia fica-se pela garantia de que Bruxelas está apostada em “regular as agências de notação”. Na entrevista da noite de segunda-feira à RTP, Durão Barroso assegurou que haverá “propostas legislativas concretas” no outono. “Estamos agora a concluir a análise de impacto”, afirmou o responsável, lembrando que em 2008 a Comissão “consultou os Estados-membros” sobre a “hipótese de regular de maneira mais efetiva” as casas de rating. Uma solução que foi recusada, à luz do argumento de que poderia ser vista como “um ataque aos mercados”.
“Determinação” após “sobressalto patriótico”
Na semana passada, a Moody's procedeu a uma redução em quatro níveis do rating de Portugal, de Baa1 para Ba2. A dívida soberana do país passou, assim, para a categoria de “lixo”. Durão mostra-se satisfeito com “a indignação contra a agência de notação”. Mas faz uma ressalva: é preciso atacar “problemas” subjacentes à atuação das agências.Juros mais baixos
Na reunião de segunda-feira, os ministros das Finanças dos países da moeda única declararam-se “completamente decididos” a adotar medidas para travar o contágio da crise da dívida a países como a Espanha e Itália. Mas não ficou estabelecido qualquer calendário.
As propostas, indicou o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, vão ser conhecidas “muito em breve”. O compromisso passa por “melhorar a flexibilidade e o âmbito do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, aumentar as maturidades dos empréstimos e baixar as taxas de juro”.
Quanto à Grécia, está em análise a possibilidade de uma redução da taxa de juro no quadro do empréstimo concedido pelo Fundo Monetário Internacional e pela União Europeia. Um grupo de trabalho vai “explorar as modalidades de financiamento de um programa de ajustamento multianual”.
“Eu espero é que agora haja, depois deste sobressalto patriótico, deste sobressalto de orgulho, a determinação para levar a cabo as reformas que são necessárias para o país, porque os problemas estão lá antes de as agências se pronunciarem. Os problemas da Zona Euro vêm do facto de muitos países viverem acima das suas possibilidades com dívidas que, se não forem corrigidas, se tornarão insustentáveis”, frisou o presidente da Comissão Europeia.
Reconhecendo que Portugal é hoje “um dos casos difíceis”, Durão Barroso procurou atestar que a União Europeia está a envidar esforços para se libertar do terramoto das dívidas soberanas.
“Há também problemas na resposta de conjunto. A verdade é que se tem vindo a dar uma resposta. Há dois anos, algumas destas respostas seriam pura e simplesmente impensáveis, não existiam os instrumentos”, apontou.
“Há um ano criou-se um investimento de 500 mil milhões de euros. Parte desse financiamento está aliás, agora, ao dispor de Portugal. Hoje mesmo todos os ministros da Zona Euro assinaram a criação de um instrumento permanente, um fundo de estabilidade financeira permanente também de 500 mil milhões de euros”, acrescentou Durão, aludindo à reunião do Eurogrupo.
“Avançou-se na governação económica, criaram-se autoridades de supervisão a nível europeu. Muito foi feito. Mas a verdade é que é a primeira vez que temos este tipo de problemas, problemas de dívida soberana no âmbito de uma mesma União Económica e Monetária”, contrapôs.
Nacionalização do BPN “foi um erro completo”
Na entrevista à jornalista Fátima Campos Ferreira, Durão Barroso falou também do Banco Português de Negócios, afirmando tratar-se de um caso “que é completamente à parte do resto do sistema financeiro”. Para o presidente da Comissão Europeia, a nacionalização do BPN “foi um erro completo”, uma vez que, na sua opinião, não havia risco de contágio financeiro.
“Não percebo porque é que foi feita a nacionalização. O caso BPN, a meu ver, era um caso específico que podia ter sido tratado de outra maneira. Mas essa é uma questão secundária, pela dimensão do banco”, sustentou.
Numa leitura do momento político, o antigo primeiro-ministro disse ter “toda a confiança em Portugal”. No entanto, alertou que os próximos tempos vão ser de dificuldades.
“Eu acho que o país tem condições políticas boas para fazer muito daquilo que foi adiado ao longo dos tempos, corrigir problemas graves, de desequilíbrios, o desequilíbrio orçamental, o desequilíbrio da dívida quer pública, quer privada, o desequilíbrio externo, que é um problema essencial. Mas temos quer ser absolutamente honestos. Em Portugal, é de prever pelo menos dois anos de crescimento negativo”, concluiu.
Tópicos
Comissão Europeia
,
Durão Barroso
,
Portugal
,
Agências
,
Notação financeira
,
Rating
,
Regulação
,
Grécia
,
Espanha
,
Itália
,
Crise
,
Dívida soberana