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CV Interilhas transportou 355 mil passageiros em 2020 afetada pela pandemia

por Lusa

A CV Interilhas, concessionária do transporte marítimo em Cabo Verde, liderada pelo grupo português ETE, transportou 355 mil passageiros em 2020, o primeiro ano completo de atividade, afetada pelos "consideráveis" impactos da pandemia, segundo a administração.

"Tivemos uma redução à volta de 30% na atividade global da empresa em 2020. O primeiro trimestre foi muito bom, de alto nível, com recorde de passageiros, mas seguiram-se quebras brutais e alguma recuperação no último trimestre", começou por explicar, em entrevista à Lusa, no Mindelo, ilha de São Vicente, Jorge Maurício, vice-presidente do grupo ETE - Cabo Verde, que através da Transinsular (51%), lidera a CV Interilhas (CVI).

Além de 355 mil passageiros, os navios da CVI transportaram em 2020 um total de 179 mil toneladas de mercadoria e mais de 40.000 viaturas. Um ano que acabou por ser "razoável", apesar de antes da pandemia o plano da empresa apontar para 450 mil passageiros.

"Mas ninguém conseguiu cumprir os planos em 2020, penso eu", disse.

Desde agosto de 2019 que a CVI detém a concessão, por 20 anos, do transporte marítimo de passageiros e mercadorias em Cabo Verde, mas após o forte crescimento do movimento nos primeiros meses de atividade, o negócio foi afetado pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19. Durante mais de um mês (abril e maio) o transporte de passageiros foi suspenso e ainda hoje há limitações à lotação máxima dos navios, além da ausência de turistas, que representavam uma "grande parte" da procura.

"No período mais crítico tivemos zero passageiros. Depois passámos para lotação de 50% e depois 75%. Mas algumas linhas ainda não estão a 100% (...) Durante muitos meses a CVI foi o único meio de transporte disponível em Cabo Verde, ligando as ilhas todas", recordou.

Com várias linhas ainda deficitárias, como as que servem as ilhas do Maio, Boa Vista, Brava ou São Nicolau, o administrador sublinhou as dificuldades de 2020, que se traduziram em prejuízos "consideráveis" para a empresa, sobretudo de abril a setembro.

"A maior parte das vezes nós tivemos de cumprir o contrato de concessão, fazer as viagens todas, as ligações todas, cumprir os itinerários, sem qualquer passageiro e com uma carga ínfima", reconheceu.

"Cumprindo o contrato de concessão à risca, mas sem retorno. Isto de facto trouxe um rombo enorme às nossas contas", disse, enfatizando a componente social da estratégia da CVI.

"Também faz parte da nossa estratégia garantir a coesão territorial, porque garante desenvolvimento e um Cabo Verde inteiro", assumiu Jorge Maurício.

A CVI detém a concessão dos transportes marítimos de passageiros e carga em Cabo Verde desde 15 de agosto de 2019, contando na estrutura acionista também com armadores cabo-verdianos (49%), que no modelo de transportes anterior asseguravam as ligações de forma autónoma.

"É importante dizer que nós somos uma empresa cabo-verdiana de referência, com 12 armadores cabo-verdianos", recordou.

Para 2021 as perspetivas, admitiu, não são boas, com as quebras na procura a arrastarem-se no primeiro semestre, devido aos efeitos da pandemia, e uma melhoria para o segundo semestre, aguardando os efeitos da vacinação em massa, o regresso do turismo e o fim da limitação às viagens - que ainda obrigam à realização de testes rápidos -, sobretudo "com mais passageiros do que em 2020".

"Não queremos falar só de dados, mas também falam por si e espelham uma situação muito clara da responsabilidade da CVI, da sua missão, do seu compromisso. Veja que uma empresa que começou a operar e meses depois tem capacidade para fazer cerca de 4.000 viagens num ano pandémico", apontou.

Ao fim de menos de dois anos de atividade, afirmou, a nova empresa conseguiu "dar uma resposta", permitindo que "todas as nove ilhas habitadas" tivessem acesso a ligações marítimas "regulares, previsíveis, de itinerários e horários predefinidos".

"Naturalmente que não está tudo bem. Estamos no início da construção de um sistema integrado de transporte que pensa de forma global. Pensa numa frota de navios adequada, navios que possam escalar todos os portos", concluiu.

Centros de logística nos portos, para acondicionamentos e mercadorias, e garantir "conforto em terra" para os passageiros são objetivos assumidos pela CVI para os próximos anos.

Num projeto que envolve a empresa pública que gere os portos do país, Enapor, e o ministério da Economia Marítima, a CVI está envolvida na construção de uma rede de gares marítimas, tendo em conta que dos nove portos do país apenas "três funcionam bem". Está também prevista a instalação de mais de seis garantes para "permitir um serviço integrado" aos passageiros, para não estarem "ao relento e ao sol" a aguardar pelo transporte marítimo.

"Satisfazer o passageiro dos transportes marítimos como se fosse de um transporte aéreo. Cabo Verde vai sempre ter necessidade de transporte interilhas. O transporte marítimo de passageiro vai ser sempre uma necessidade, temos de apostar na qualidade, na previsibilidade na regularidade, a confiança e a segurança também são importantes", disse ainda.

Acrescentou que o Governo e a CVI iniciaram, entretanto, um processo de revisão do contrato de concessão daquele serviço, com a empresa a "congratular-se", tendo em conta que a atividade está a ser regida com base nos pressupostos de viabilidade de um estudo económico-financeiro, havendo agora "dados reais" para a concedente e a concessionária analisarem.

"Estamos em plena negociação", concluiu, admitindo que em cima da mesa está a flexibilização do tempo de vida dos navios que vão passar a integrar a frota.

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