A crise pandémica teve até agora um impacto de 30 mil milhões de euros na dívida pública portuguesa, revelou o ministro das Finanças, João Leão, acrescentado que poderá atingir os 40 mil milhões de euros até ao próximo ano. O Governo vai aumentar os salários dos técnicos superiores do Estado no próximo ano, diz o ministro das Finanças na Grande Entrevista da RTP.
"(...) São mais de 30 mil milhões de euros (de impacto) até ao momento", realçou João Leão.
De acordo com o ministro das Finanças, no setor privado a dívida aumentou em cerca de cinco mil milhões de euros, no último ano.
"No setor privado também teve um legado (da dívida). São cerca de cinco mil milhões (de euros), quatro mil milhões de euros para as famílias de dívida adicional e mil milhões de euros nas empresas, embora nas famílias seja assimétrico. Houve famílias que acumularam muitos depósitos e (...) outras tiveram de se endividar", vincou.
À RTP3, João Leão ressalvou que em 2020 a dívida pública atingiu os 133%, o que, avaliou, "foi uma dívida muito elevada" para Portugal.
"Contamos para este ano em resultado do forte crescimento económico - quer em 2021, quer em 2022 - que a dívida pública se reduza cinco pontos (percentuais), para 128%, e mais cinco pontos (percentuais) no próximo ano, para 123% do PIB", referiu.
Segundo o governante, a trajetória da redução da dívida "vai ser baseada na forte recuperação económica" e, ao mesmo tempo "essencial no contexto de endividamento muito elevado para dar a confiança a estabilidade e credibilidade financeira que o país precisa".
"O que é crucial é apresentar a dívida numa trajetória de produção em virtude do forte crescimento da economia. E essa trajetória (...) vai dar capacidade a nós todos, os portugueses, de olharmos para o futuro com otimismo, não olhar para o futuro com incerteza e nuvens negras", sustentou.
Fase de recuperação, sem austeridade e com aumento de saláriosNo que toca aos salários, O Ministro das Finanças admite um aumento dos salários dos técnicos superiores do Estado, já no próximo ano.
João Leão reconheceu, na Grande Entrevista, na RTP, que não podem ser só os salários mais baixos do Estado a ser aumentados e assegurou também um substancial aumento do salário mínimo, em 2022.
No início da entrevista, João Leão reiterou que Portugal se encontra neste momento numa "fase de grande recuperação, depois de um primeiro trimestre muito difícil", devido ao confinamento.
"Portugal foi no segundo trimestre o país que mais cresceu em toda a Europa, os tais 15,5%. Foi o trimestre em que mais cresceu desde a série histórica. É um crescimento notável do PIB em termos homólogos e que mostra que é confirmada para o terceiro trimestre com indicadores muito positivos que existem. Com indicadores económicos, nomeadamente com a evolução nas vendas no retalho, nos pagamentos com o multibanco. Mostra que já uma grande recuperação no país", indicou.
Questionado se Portugal já está num momento de viragem económica, o ministro das Finanças reforçou que os sinais são positivos, mas que ainda depende da evolução da pandemia.
"Somos o país que mais está a avançar na pandemia. Portugal é o país do mundo que mais tem primeira dose de vacinação, percentagem mais elevada, já a aproximar-se dos 85%. E isto está a permitir que o número casos esteja controlado", disse.
Apesar de estar a "recuperar a economia de forma significativa", João Leão alertou que ainda há "um caminho a fazer" para atingir os valores pré-pandemia.
"Contamos já no próximo ano estar acima do valor pré-pandemia. Estamos com uma recuperação muito robusta. Esperamos crescer entre 2021 e 2022, no seu conjunto, mais 9%, 4% este ano e 5% no próximo ano. Estamos convictos que vamos superar essas estimativas já em 2021, de tal modo que antecipámos que cheguemos a ultrapassar o nível pré-pandemia mais cedo do que o esperado, no primeiro semestre de 2022", salientou.
Garantiu ainda que não haverá austeridade nesta legislatura.
Onde estão os sinais de recuperação
Entre outros temas, o ministro das Finanças deu a conhecer algumas linhas gerais do próximo Orçamento do Estado, onde estarão previstos investimentos na ferrovia, na ajuda da integração de jovens no mercado de trabalho, na educação e no Serviço Nacional de Saúde, com, segundo o mesmo, "mais investimento público e privado".Também João Leão garantiu que até ao fim da legislatura as famílias irão receber 600 euros por filho, sendo que um casal com dois filhos poderá receber até 1.500 de abono.
Sobre o fim das moratórias, o governante indicou que o Governo "reforçou muito os apoios às empresas", dando "mais nestes últimos oito meses do que em todo o ano passado", adiantando que "no primeiro semestre de 2021 as falências foram inferiores a 2019".
"A esmagadora maioria das empresas que recebeu os apoios já não está a receber apoios do Estado. As empresas (apoiadas atualmente) são muito inferiores a 50 mil", indicou, lembrando que no pico da pandemia foram apoiadas 500 mil empresas.
De acordo com João Leão, grande parte das empresas já não está a receber ajudas e as falências "caíram" face ao período pré-pandemia, estando também a taxa de desemprego mais baixa.
"Neste momento, estamos em condições para dizer que não prevemos um orçamento retificativo até ao fim do ano", recordou.
c/Lusa