Consumo de combustíveis fósseis fixa novo máximo apesar do aumento das renováveis

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
"Um ano de máximos históricos num mundo sedento de energia", afirmou a presidente do Instituto de Energia, Juliet Davenport. Dan Meyers - Unsplash

Um relatório global sobre energia, divulgado esta quinta-feira, conclui que, apesar de se ter verificado um aumento recorde na utilização de energias renováveis em 2023, o consumo de combustíveis fósseis também continuou a aumentar. Os países em desenvolvimento reforçaram a dependência do carvão, gás e petróleo.

A análise anual da energia mundial efetuada pelo organismo internacional Instituto da Energia (EI), em co-autoria com as consultoras KPMG e Kearney, deteta um mundo a duas velocidades no consumo de combustíveis fósseis e na produção de energia renováveis. 

"Mais um ano de máximos no nosso mundo sedento de energia", afirma a presidente da EI, Juliet Davenport. "2023 registou um consumo recorde de combustíveis fósseis e emissões recorde de energia, mas também uma produção recorde de energias renováveis, impulsionada pela energia eólica e solar cada vez mais competitiva", acrescenta. 

Com base nos dados do relatório que revelam que, no ano passado, as emissões provenientes da energia aumentaram dois por cento, ultrapassando pela primeira vez as 40 gigatoneladas de CO2 e que o aumento do consumo global de combustíveis fósseis atingiu um máximo histórico, aumentando de 1,5 por cento para 505 exajoules.
Produção de eletricidade renovável atinge novo recorde

No ano passado, a produção de eletricidade aumentou 13 por cento (excluindo a energia hidroelétrica) atingindo um máximo histórico de 4 748 TWh, de acordo com o relatório, que observa que o crescimento foi impulsionado quase exclusivamente pela energia eólica e solar e que representou 74 por cento de toda a eletricidade líquida adicional produzida.

Nick Wayth, diretor executivo da Instituto da Energia, afirma que "o progresso da transição é lento", mas alerta para a necessidade de olhar para as diferentes geografias que "escondem" diversas realidades energéticas.

"Nas economias avançadas, observamos sinais de que a procura de combustíveis fósseis está a atingir o seu pico, o que contrasta com as economias do Sul Global, para as quais o desenvolvimento económico e a melhoria da qualidade de vida continuam a impulsionar o crescimento dos combustíveis fósseis", afirma Wayth.

O relatório conclui que, na Índia, o consumo de combustíveis fósseis aumentou 8 por cento em 2023, sendo responsável por quase todo o aumento da procura global de energia, passando a representar 89 por cento de todo consumo de energia. Pela primeira vez, foi utilizado mais carvão na Índia do que na Europa e na América do Norte conjuntamente, de acordo com a análise.

Já na Europa, os combustíveis fósseis caíram pelo menos de 70 por cento da utilização de energia primária desde a Revolução Industrial, devido à diminuição da procura e ao crescimento das energias renováveis. Também nos Estados Unidos da América o consumo de combustíveis fósseis caiu para 80 por cento do total de energia primária consumida.

De acordo o relatório, o atual conflito na Ucrânia reforçou o reequilíbrio do setor do gás na Europa, uma vez que a procura desta matéria-prima continuou a cair desde a invasão pela Rússia em 2022, provocando o colapso das importações de gás por gasoduto para o continente europeu. A procura europeia de gás diminuiu sete por cento, após uma queda de 13 por cento no ano anterior.
pub