A Europa tem talento. Mas o talento precisa de ser estimulado, especialmente porque a União Europeia atravessa uma importante transição demográfica.
É por esta razão que a Comissão está a lançar o Mecanismo de incentivo ao talento.
Este mecanismo vai apoiar as regiões da União Europeia mais afetadas pelo declínio acelerado da população em idade ativa. O que se pretende é formar, reter e atrair as pessoas, as aptidões e as competências necessárias para fazer face ao impacto da transição demográfica.
A Comissária para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, refere que “a preocupação da Comissão Europeia foi identificar as regiões que já perderam muita população e estão muitas envelhecidas, e essas são as regiões a vermelho, ou as regiões que estão a perder agora população qualificada e ativa. Em relação a essas, que estão agora a amarelo, se nada for feito a cor pode mudar para vermelho”.Os Estados-Membros da UE enfrentam um declínio acentuado da sua população em idade ativa. Essa população diminuiu em 3,5 milhões de pessoas entre 2015 e 2020. Espera-se que a Europa perca mais 35 milhões de pessoas até 2050. 82 regiões em 16 Estados-Membros (que representam quase 30% da população da UE) são gravemente afetadas por este declínio da população em idade ativa, por uma baixa percentagem de licenciados universitários e do ensino superior, ou por uma mobilidade negativa da população com idades compreendidas entre os 15 e os 15 anos 39.
Portugal tem uma zona vermelha bastante marcada, o Alentejo. A região perdeu, ao longo dos tempos, muita população ativa o que tem um peso muito acentuado para as pessoas que já não podem estar no mercado de trabalho.
Outro foco de preocupação, que aparece a amarelo, é o Norte do país. Há duas décadas era considerada como uma das regiões mais jovens da Europa, com grande potencial. Neste momento aparece a amarelo porque há uma forte “hemorragia” da população em idade ativa. Saídas que é preciso começar a evitar.
E como fixar população jovem e qualificada?
Elisa Ferreira diz que “não há uma solução única” e que se deve pensar em várias dimensões.
As opções vão várias porque “se as pessoas têm, uma certa formação, são jovens e ativas, é evidente que, para quererem viver num determinado local, é importante que tenham acesso às condições mínimas que exigimos nestes tempos. E isso inclui não só água e saneamento, mas também acesso à internet, escolas qualificadas para os filhos, serviços de saúde adequados e alguma dimensão cultural”.
Pode este programa ajudar a fixar, por exemplo, médicos no interior ou nas zonas mais desfavorecidas como pretende agora fazer o Governo português?
A comissária da Coesão e Reformas responde: “Não se pode utilizar os fundos para pagar salários aos médicos, mas é possível utilizar os fundos para, nas vilas e nas pequenas e médias cidades, estruturas de acolhimento hospitalar muito qualificadas, para financiar a formação, para ajudar e financiar, através do PPR por exemplo, a reorganização das carreiras de determinados setores seja da saúde seja da educação ou de outros. O importante é perceber o que se faz com o dinheiro dos fundos e do PRR para conseguir gerar as condições que façam com que as pessoas se instalem e se sintam bem nessas locais”.A Política de Coesão ajuda e continuará a ajudar as regiões a diversificar a sua economia, a melhorar a acessibilidade aos serviços, a aumentar a eficiência da administração pública e a garantir o envolvimento das autoridades regionais e locais por meio de estratégias específicas de base local.
Elisa Ferreira reforça também que “é possível assistirmos que, agora, muitas empresas - pela possibilidade de trabalhar em via digital - já não precisam de estar nas grandes cidades, e começam a localizar-se no interior de Portugal, porque é lá que conseguem reter mão de obra qualificada e oferecer melhores condições de trabalho”.
Descobrir dinâmicas escondidas
“Se nós centrarmos em Portugal conseguimos encontrar dinâmicas que até estavam escondidas. No Douro, por exemplo, só se conhecia o vinho, hoje o turismo é uma dimensão fundamental, tal como a gastronomia e a cultura. Se pensarmos no Alentejo vimos o potencial que surgiu com o investimento no Alqueva. Quando olhamos par ao Algarve podemos pensar no valor do interior do algarve, com a riqueza ambiental que existe”, reforça a Comissária Europeia
Elisa Ferreira refere também que “neste momento há projetos interessantes em redor do Guadiana, projetos de investigação, sobre a biodiversidade. Por isso, se olharmos para os territórios com suficiente atenção, encontramos potencialidades também em torno das universidades e dos centros tecnológicos”.Os programas da Política de Coesão e os Investimentos Inter-regionais em inovação podem estimular as oportunidades de empregos altamente qualificados e, assim, contribuir para melhorar as possibilidades de retenção e atração de talentos nas regiões que já perderam ou estão a perder pessoas qualificadas.
Noutros casos, para fixar jovens, é preciso saber inovar nas industriais mais tradicionais fazendo a aliança que se impõe entre passado e futuro.
“Falamos por exemplo da indústria têxtil, que neste momento está a ser chamada a desenvolver uma dinâmica de investigação e inovação em torno dos novos materiais que têm de ser recicláveis e aderir a este esverdeamento da economia, e isso permite um avanço nas novas dimensões de competitividade”, reforça a comissária Elisa Ferreira. “A vida tem agora de assentar na nova geração e os jovens têm que sentir que há espaço para eles. O ano passado foi o ano da juventude e este é o ano das competências. É preciso trabalhar para que estes jovens tenham futuro”.